Chegamos à metade do ano. O primeiro semestre merece ser lembrado com orgulho. Nossos Cursos têm recebido muitos elogios pela qualidade das aulas, pela competência dos professores e pela organização quase impecável. Os serviços que prestamos como terapeutas têm sido valorizados, o que se evidencia pela crescente procura por nosso trabalho e pela satisfação dos clientes. Prestamos valioso serviço à comunidade carente através dos atendimentos conduzidos por nossos terapeutas-estagiários, que fazem um trabalho dedicado e com contínua supervisão e orientação. Raramente reconhecemos a louvável contribuição do ITCR para a comunidade. Envolver-se construtiva e ativamente para oferecer melhores condições de vida (psicológica) à comunidade carente é exemplo de comprometimento com o terceiro nível de seleção.
Realizamos e participamos ativamente do II Congresso Brasileiro de Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR) e Encontro de Terapeutas Comportamentais, que ocorreu em maio com inegável sucesso. Nossos profissionais e alunos levaram contribuições significativas, que enriqueceram a qualidade científica e profissional das apresentações. Toda vez que um profissional expõe seu trabalho, ele atinge várias metas simultaneamente: ensina alguma coisa significativa para aqueles que o ouvem; aprende – e se enriquece muito profissionalmente –, pois a preparação da apresentação envolve um longo processo de criação, de autoavaliação e de autocorreção, que se inicia na primeira sessão de atendimento e se estende até o momento da exposição; submete-se às consequências que seu trabalho produz, propõe dúvidas, expõe-se a críticas. Falar publicamente sobre o que se faz é um ato de coragem e de humildade que engrandece o profissional. A participação do outro, aquele que assiste a nossa apresentação, é fundamental para o processo de conscientização sobre nossos comportamentos e sobre os determinantes de nossa atuação. O debate de ideias e de ações é um lema de nossa equipe.
Também contribuiu enormemente para o sucesso do evento a rica contribuição de profissionais renomados de várias partes do Brasil, que representam o que há de melhor na área da Análise do Comportamento em nosso país.
Finalmente, não podemos deixar de explicitar o sucesso do nosso Jornal Sinal Verde. Estamos da edição de número 65 e temos cumprido nosso compromisso de editá-lo mensalmente. Temos orgulho deste nosso veículo de divulgação, pelo seu conteúdo, diagramação, variedade de seções e assiduidade. Aproveitamos para agradecer a todos que têm colaborado para sua permanência.
Não precisamos de um segundo semestre melhor! Basta manter o que realizamos no primeiro!
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Um abraço, Hélio José Guilhardi
(CRP: 06/918)
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07.06 – Aula das terapeutas Ana Paula Denipote Marques e Renata Cristina Gomes, do ITCR-Campinas, no Curso de Especialização.
07.06 – Aula do Prof. HÉLIO JOSÉ GUILHARDI no Curso de Formação de Terapeutas Comportamentais.
08.06 – Aula da Psic. LÍLIAN MEDEIROS DRUDI, no Aprimoramento em TCR com Crianças. Tema: Variabilidade do terapeuta no atendimento infantil.
08.06 – Aula do Prof. HÉLIO JOSÉ GUILHARDI, no Curso de Especialização.
08.06 – Participação da Profª RENATA CRISTINA GOMES, na JAC UNIMEP, representando o ITCR-Campinas. Palestra: Desenvolvimento de comportamento sensível ao outro através da TCR; um estudo de caso.
15.06 – Aula da terapeuta Patrícia Panho Ferronato, do ITCR-Campinas, sobre Princípios Básicos da Análise do Comportamento, no Curso de Psicologia da Saúde, na SOBRAPAR.
15.06 – Aula do Curso de Intervenção Comportamental com Pessoas com Desenvolvimento Atípico. Tema: Procedimentos para maximizar comportamentos e exemplos de programas de aprendizagem.
21.06 – Aula do Prof. HÉLIO JOSÉ GUILHARDI no Curso de Formação de Terapeutas Comportamentais.
21.06 – Aula da Dra. PAOLA BERTOLOTTI CARDOSO PINTO, no Curso de Especialização. “Etiologia do câncer e relação médico-família. Em que a psicologia pode ajudar?"
22.06 – Aula da Profª RENATA CRISTINA GOMES, no Aprimoramento em TCR com Crianças. Tema: Recursos didáticos e lúdicos no atendimento infantil segundo a TCR.
22.06 – Aula do Prof. HÉLIO JOSÉ GUILHARDI, no Curso de Especialização.
28.06 – Aula do Prof. HÉLIO JOSÉ GUILHARDI no Curso de Formação de Terapeutas Comportamentais.
29.06 – Aula do Curso de Intervenção Comportamental com Pessoas com Desenvolvimento Atípico. Tema: Aprendizagem em ambiente de tentativas discretas: programas, registros e gráficos.
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Quando o medo substitui a fobia. Melhor?
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Construindo autoestima
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Um Gesto...
— Confirmado o diagnóstico, Doutor. É o que temia... Câncer!
Minha cliente só aparecia esporadicamente. A culpada era a distância! Morava no interior do Mato Grosso; marido fazendeiro. Só vinha para Campinas para cuidar da saúde. A dor na cervical a incomodava há meses. Procurou-me porque cuidei de uma sobrinha. A irmã viúva, dois filhos, morava em Campinas. Viam-se quando dava. Os contatos das irmãs eram por telefone. A sobrinha ia e vinha: brigava com a mãe, então ia. Reconciliava-se com a mãe, nas longas ausências aninhada na casa da tia, então vinha! Nessas idas e vindas, soube de mim.
Na primeira consulta, o temor da doença já a assaltava.
— Deve ser tumor. Meu médico do Mato Grosso fez cara de preocupado quando viu os exames da coluna!
Voltou algumas vezes. Uma pessoa doce. Pouco falou do marido. Reservada! Soube que ele passava, às vezes, toda a semana na fazenda. Falava pouco. Viajava muito por causa dos negócios. Não tinham filhos. Mas a sobrinha – cheia de baixa autoestima – era como filha. Dava a ver que sabia amar mais e melhor que a irmã, pois esta atrapalhada com seus próprios sentimentos, muitas vezes se esquecia de que era mãe!
Imaginei que o casal tão somente convivia. Imaginei-os como duas linhas paralelas: mesmo próximas não se tocam!
A saúde piorou! As dores estavam insuportáveis. Veio para uma avaliação definitiva. Não queria se manter em dúvidas!
— Não estou mais segura para viajar. Meu marido me trouxe. Estou na casa de minha irmã. Vou passar uns dias até terminar meus exames. Sexta meu marido vem me buscar e voltamos para casa...
Atendi-a diariamente na semana. As notícias eram dadas através dos silêncios do médico e das solicitações de mais exames.
— Combinei com meu marido para me pegar aqui na clínica sexta-feira. Ele chega bem no horário da consulta. Confirmado o diagnóstico, Doutor.
A secretária me avisou que o marido acabara de chegar. Pedi para trazê-lo até a sala onde estávamos.
Presenciei a mais inesquecível cena de anos de minha vida. Ele nem me notou. Olhou para ela, deu dois passos e parou! Ela, ao vê-lo, se iluminou. Levantou-se e se aproximou. Os olhos dela, marejados de lágrimas, o acolhiam e anunciavam o início da despedida. (Assim interpretei aquele olhar mágico.) Deram-se as mãos. Vetaram em silêncio um abraço apertado que não poderia ser presenciado por um terceiro. Durou segundos. Compreendi que aqueles dois corpos eretos, frente à frente, não eram linhas paralelas, mas portavam um afeto profundo, que se emaranhava como os abraços de dois amantes quando se reencontram!
Em silêncio, toquei os ombros de um e de outro e os aproximei, catalisando um abraço que se continha... Uma cena de amor de profundidade comovente. Não houve necessidade de nenhuma palavra!
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"Skinner não propõe um novo Homem. A concepção skinneriana de homem não priva o ser humano de nenhuma de suas características, nem de seus potenciais para se tornar um ser consciente e apto para sentir e realizar. Propõe, porém, um novo paradigma para compreendê-lo, o qual se inspira no modelo darwiniano de seleção dos comportamentos pelas suas consequências. As realizações humanas se dispõem sob a influência de três níveis de seleção: o natural, próprio da espécie; o operante, específico da história de desenvolvimento de cada um; e o cultural, elaborado pela comunidade socioverbal à qual a pessoa pertence." (Hélio J. Guilhardi)
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Fica a Dica
A Trilogia Bohr
Hélio José Guilhardi
PARA BOHR, A TAREFA DA CIÊNCIA É TRANSMITIR EXPERIÊNCIAS E IDEIAS; A FÍSICA TRATAVA DO QUE “PODEMOS DIZER SOBRE A NATUREZA”, NÃO DESCOBRIR COMO A NATUREZA É.
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Sob o título acima, a Folha de S.Paulo (2 de julho, 2013, caderno Ilustríssima, pp.4 e 5) publicou excelente artigo sobre “Os cenários da teoria que mudou a física”. Vale a pena ler, se você gosta de filosofia da ciência... O artigo se encerra com uma síntese de Abraham Pais: “Einstein foi o maior físico do século 20; Bohr, o maior filósofo. As discussões que travaram não eram sobre um fenômeno, uma crença, um aspecto da vida ou detalhe do conhecimento. Foram uma batalha pelo que talvez seja a mais penetrante das questões filosóficas: por que a realidade física é do jeito que é? Eram discussões sobre o cerne da natureza e da linguagem. Nada pode ser mais profundo.”
Você deve estar se perguntando o porquê de trazer esta apresentação de um artigo para estudiosos da Psicologia. Em primeiro lugar, porque Bohr (principalmente ele) revoluciona o pensamento sobre a natureza física com conceitos inesperados e surpreendentes. Precisamos de um Bohr na Psicologia (embora reconheça avanços significativos trazidos por Skinner). Em segundo lugar, alguns conceitos que ele propôs na Física poderiam ser considerados, nas devidas proporções, na Psicologia. E, finalmente, pela sua visão sobre a possibilidade do conhecimento. Para melhor contextualizar sua frase impactante, transcrevo um trecho do citado artigo:
“O realismo de Bohr, segundo Folse, decorre de sua crença no fato de que a mecânica quântica seja uma teoria completa.”
“E a principal consequência – árdua para muitos, inclusive para Einstein – é a de que seria (e ainda é) preciso um novo conceito de realidade física que harmonize com a teoria do quantum. Para Einstein, aceitar essa completude seria afirmar que consequências inaceitáveis, como a de que um objeto interfere em outro, mesmo que afastados por distancias astronômicas. Bohr jamais esboçou essa nova concepção de realidade física, por achar que os problemas fundamentais da ciência diziam respeito à comunicação, e não à realidade: a tarefa seria transmitir experiências e ideias a outras pessoas; para ele, a física tratava do que podemos dizer sobre a natureza – e não de descobrir como a natureza é.” [grifos adicionados]
Concluo: muitos conceitos da Psicologia clássica – mente, eu, sentimento iniciador etc. – são corretamente retomados pelo Behaviorismo Radical como problemas de linguagem. De linguagem do cientista. O conceito de Bohr sobre conhecimento deveria ser levado até as últimas consequências!
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A Caça
O filme dinamarquês A CAÇA, dirigido por Thomas Vinterberg, merece ser visto. É uma aula (muito didática, por sinal) a respeito de funções do comportamento verbal: como é instalado, como é mantido e que controles pode exercer sobre o outro.
Sinopse: Professor vive uma vida solitária, enquanto luta pela guarda do filho adolescente. Sua vida muda brutalmente quando ele é alvo de uma mentira.
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A Palavra é Sua
Florença Justino
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Quando e como você começou a trabalhar no ITCR?
Estou no Instituto desde 2010, fui estagiária e atuo oficialmente como terapeuta desde agosto de 2012.
Quantas horas por semana você trabalha no ITCR? Trabalha também em outros lugares? Quais?
Eu trabalho no ITCR 12 horas semanais e também sou supervisora no Curso de Formação. Além disso, sou aluna de mestrado da UFSCar, o que requer parte das demais horas da minha semana.
Porque a Psicologia?
Comecei a fazer terapia e me encantei pela profissão. Naquele momento havia encontrado o que eu queria fazer.
Em que cidade você mora?
Moro em Campinas há 5 meses.
Se você tivesse que ser outra pessoa, quem escolheria ser e por quê?
Pergunta difícil!! rs. Por hora, eu diria que gostaria de ser eu mesma.
Que personalidade famosa você gostaria de atender? Conte o porque.
Gostaria de atender Michele Obama porque admiro bastante a forma como ela concilia a vida pública e a família. É preciso muito repertório comportamental para tal.
Com quais pessoas você passa mais tempo na sua semana?
Passo a maior parte do tempo durante a semana com meus clientes, colegas do ITCR, do mestrado e com os amigos, é claro!
Você tem animal de estimação?
No meu apartamento em Campinas, não, mas na casa dos meus pais em Minas temos o Ballack, um labrador chocolate que virou o xodó da família.
Nas horas vagas...
Gosto muito de fazer artesanatos, os meus preferidos são as camisetas com aplique em tecido e as caixinhas forradas. Também aproveito para paparicar o meu afilhado, Gabriel.
Cite seu livro ou filme favorito.
“A arte de ser leve”, de Leila Ferreira, que nos faz refletir sobre viver a vida de uma forma menos complicada, e “Jardim de Inverno”, de Kristin Hannah, uma história de mães e filhas que mesmo unidas pelo laço de sangue só se aproximam verdadeira e afetivamente depois de adultas.
* Florença Justino (CRP: 06/110173) é formada em Psicologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), é mestranda do PPGPsi-UFSCar e cursa Especialização em TCR (turma 2012).
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Além de Terapeuta
Mari Olívia Kfouri Ribeiro
Incursões na Área Administrativa
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Lembro-me bem do dia em que fui apresentada à abordagem da TCR, em 2005. Recebi de uma amiga, profissional do ITCR, um convite para participar do I Workshop do ITCR. Assisti às apresentações e me encantei pelo envolvimento demonstrado pelos profissionais em seu trabalho, pela riqueza de informações e também pela abordagem em si. Posso dizer que a compreensão que tinha a respeito do meu papel enquanto psicóloga e o exercício de minha profissão mudou muito desde então.
Nessa época eu auxiliava meu marido em sua empresa e meu trabalho na área administrativa se deu por uma necessidade específica: dar-lhe suporte no dia-a-dia em seu escritório. Fui com a cara e a coragem, já que não tinha experiência nenhuma nisso. Aprendi as funções que teria que desempenhar com ele e me vi inserida em um contexto de trabalho totalmente diferente do que estava habituada: precisei me familiarizar com a rotina da contabilidade, do setor financeiro, organização e manutenção dos Recursos Humanos e do ambiente de trabalho.
Isso foi um duplo desafio, pois tudo funcionava de acordo com a organização desenvolvida e estruturada por meu marido e também pela situação de ter que conviver com ele como chefe, desempenhando minhas atividades de acordo com o que já estava estabelecido. Tudo funcionava muito bem do jeito dele e além disso ele era um chefe exigente. Precisava, além desse trabalho, me dividir entre as funções de terapeuta e mãe. Reconheço que isso não foi tarefa fácil! Considero que as boas relações interpessoais são parte fundamental para um convívio agradável e produtivo em qualquer ambiente de trabalho e, nesse sentido, foi importante aplicar os conhecimentos adquiridos na Psicologia e na Análise do comportamento. Aos poucos fui conseguindo me desempenhar com mais autonomia, sem perder o foco de minhas outras funções, tão importantes em minha vida. Hoje, com meus clientes na clínica, tenho essa visão de trabalho em equipe e das habilidades que isso exige e consigo perceber melhor as dificuldades encontradas por muitos deles, em sua própria rotina de trabalho.
*Mari Olívia Kfouri Ribeiro (CRP 06/25331) é formada em Psicologia e possui Especialização em Psicologia Escolar e Dificuldades de Aprendizagem pela PUC-Campinas. Atua no ITCR desde 2008 como terapeuta e orientadora profissional.
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Veja a seguir depoimentos interessantes. Mais que isso, desconcertantes sobre o humano...
Fascínio da Imagem
Projeto Genesis incentivou Sebastião Salgado a retornar à fotografia e a trocar a depressão pelo otimismo
Sebastião Salgado construiu sua carreira como um dos mais aclamados fotógrafos da história registrando o homem, as questões sociais, a industrialização, a economia, a imigração, a vida e a morte das guerras. Um desses projetos, Êxodos, lançado em 2000, é o best-seller que encarna seu fascínio pelo humano ordinário em fuga - o trânsito dos refugiados. Ao término desse projeto, que marcou sua biografia, o fotógrafo brasileiro radicado em Paris estava morrendo.
(...)
Você construiu sua carreira registrando o homem e suas questões econômicas, políticas e sociais. Ao que consta, ao fim de Êxodos você estava abalado, perdendo a fé na humanidade e decidiu parar de fotografar. É isso?
Sim, eu parei de fotografar um momento. Quando estava fazendo Êxodos, sofri uma carga psicológica brutal. Em Ruanda, principalmente, vi coisas terríveis. A força de se trabalhar em um universo difícil, violento, é enorme. Eu presenciei 15, 20 mil mortos por dia, a tal ponto de não se poder enterrar as pessoas. Os corpos se acumulavam em montes, em linhas de 100 metros de mortos. Aí vinha a máquina e levantava 30, 40 corpos e os jogava em um buraco. Era uma coisa brutal. Vi populações em total desespero. Quando terminei esse trabalho, meu corpo inteiro estava doente. Eu não conseguia mais dormir, não fazia mais a digestão. Fui ver o médico e fiz exames. Ele me disse: "Você não tem nada, mas está morrendo". Eu tinha vivido um universo de degradação tão profundo que meu corpo não se dava mais o direito de viver.
Com foi a redescoberta?
Lélia e eu paramos e fomos para Porto Seguro. Coincidentemente, foi o momento em que meus pais estavam ficando velhinhos, e nos passaram uma fazenda em Minas Gerais. Pensamos até em ser fazendeiros, abandonar a fotografia. Mas, quando vi aquela terra, ela não era mais o paraíso com 50% de cobertura de florestas de quando eu era criança, mas só com 0,3% de cobertura florestal. Na minha região inteira, tudo estava destruído. Eu estava meio morto, e aquela terra estava meio morta, apesar de sua qualidade maravilhosa. A Lélia então teve uma ideia maravilhosa. Ela me disse: "Você sempre me disse que cresceu em um paraíso. Por que não replantamos a floresta nativa que havia aqui?". Foi construindo esse projeto que veio a ideia de fotografar o planeta. Eu nunca tinha fotografado paisagens, nem outros animais. Foi fantástico.
Mas para isso você teve de sair da zona de conforto e se lançar no desconhecido.
Sim, mas o conforto é relativo. Eu trabalhei dentro do projeto Genesis com grupos que ainda vivem como há 3 mil, 10 mil, 50 mil anos. E posso dizer que eles vivem de uma forma hiper confortável. Não têm a sofisticação de consumo de produtos que nós temos, mas eles têm um conceito que nós perdemos: o essencial. Eles vivem de uma maneira fantástica, com o mesmo sentido de comunidade e de solidariedade que nós temos.
E você teve de viver assim também durante o projeto.
Fazendo esse projeto, voltei a viver como vivíamos há cinco mil anos, em uma barraca, caminhando… Fiz caminhadas incríveis, como no norte da Etiópia, por exemplo. Foram 55 dias caminhando, fazendo 850 quilômetros a pé, pelas montanhas, porque não tem estrada. A Lélia veio a 350 quilômetros do fim e fomos embora. Qualquer um pode fazer. Não é um desconforto. É maravilhoso.
Você disse em uma de suas entrevistas que se reencontrou como animal.
Sim, sou um animal e me reencontrei com minha espécie. Lembro de quando fotografei uma iguana em Galápagos e me dei conta de que ela era uma miniatura de um dinossauro. Estava ali em frente à mim. Quando fotografei aquela pata, foquei minha teleobjetiva macro e me senti como se estivesse fotografando a mão de um guerreiro da Idade Média, com aquelas escamas de metal protegendo-o para a luta. Todos os movimentos musculares, as veias, os cinco dedos, tudo estava ali representado. Se aceitamos a Teoria da Evolução de Darwin, sabemos que viemos todos da mesma célula de base e evoluímos em trajetórias diferentes, em função dos ecossistemas em que vivemos. Na verdade, entendi que o que nos contaram a vida inteira, que éramos a única espécie racional, é uma enorme pretensão da nossa espécie. Todas são racionais. Mas é preciso entrar na sua lógica para compreender a racionalidade de cada espécie.
Genesis lhe fez filosofar sobre a vida também?
Filosofar, não. Mas me fez voltar à essência e sair com muita paz desse projeto.
* Texto de Andrei Netto, publicado originalmente no jornal O Estado de S. Paulo, em 10 de maio de 201.
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Novo Manual de Psiquiatria é lançado em meio à críticas
O livro que orienta a atividade de psiquiatras do mundo inteiro ganhou uma nova versão com certo sabor de derrota.
A quinta edição do DSM (Manual de Estatísticas de Diagnósticos) promete tornar mais coerentes os critérios de definição de transtornos mentais, mas deve deixar de nortear pesquisas que conectam a prática clínica à ciência de ponta feita nessa área da medicina.
A festa de lançamento do livro ocorre no encontro anual da APA (Associação Psiquiátrica Americana), que começa amanhã em San Francisco e vai até quarta-feira (22).
A declaração que criou um clima de desconforto para o evento, porém, partiu da periferia de Washington, onde fica o NIMH (Instituto Nacional de Saúde Mental), o principal organismo de financiamento à ciência psiquiátrica nos Estados Unidos, com orçamento anual de US$ 1,4 bilhão.
Às vésperas do encontro, o diretor da instituição, Thomas Insel, disse que pretende distanciar do DSM o esforço de pesquisa básica em saúde mental.
A ideia é criar, no longo prazo, um novo sistema diagnóstico dentro de um projeto capitaneado pela instituição, o RDoC (Critérios no Domínio da Pesquisa, sigla em inglês). É preciso pôr o manual da APA de lado por um pouco e começar o esforço do zero, diz o diretor. Do contrário não haveria modo de tornar a psiquiatria um ramo da medicina mais objetivo, mais baseado em biologia e mais científico.
"Não podemos ter sucesso se usarmos como 'padrão ouro' as categorias do DSM", escreveu Insel no blog do instituto duas semanas atrás. Segundo ele, é preciso tentar ligar a neurobiologia com itens de diagnóstico mais simples, como um tipo específico de alucinação, e não com categorias de doenças impostas de cima para baixo, como a esquizofrenia. "O sistema de diagnóstico tem de ser construído sobre dados de pesquisas emergentes, não sobre as categorias atuais baseadas em sintomas."
Seu texto ainda trazia uma mensagem que despertou preocupação na força-tarefa encarregada de atualizar o manual. "Muitos pesquisadores ligados ao NIMH, já estressados com cortes de orçamento e com a dura disputa por verbas de pesquisa, não acolherão essa mudança com bons olhos", alertou. "Alguns considerarão o RDoC um exercício acadêmico divorciado da clínica prática. Mas essa mudança será bem recebida por pacientes e suas famílias..."
A declaração provocou reação por parte da APA, que reconhece ter sido incapaz de criar um sistema diagnóstico baseado em neurobiologia, promessa que vinha sido feita desde a década de 1970.
As alterações da quinta edição do DSM em relação à quarta não contemplam esse objetivo. Apesar de alguns transtornos terem sido excluídos e outros criados (veja quadro abaixo.), a base do manual ainda está nos sintomas, e não na neurobiologia. Segundo a associação, porém, é preciso manter firme a prática clínica tradicional enquanto não há ciência suficiente para uma transição cuidadosa.
"Esforços como o RDoC são vitais para o progresso contínuo de nossa compreensão coletiva sobre transtornos mentais, mas eles não podem nos servir aqui e agora, e não podem suplantar o DSM-5", escreveu David Kupfer, chefe da força-tarefa do DSM, num comunicado oficial. "O resultados do RDoC podem um dia culminar nas descobertas genéticas e neurocientíficas que vão revolucionar nossa área. Mas, até lá, devemos entregar a nossos pacientes uma outra nota promissória dizendo que algo vai acontecer alguma hora?"
Anteontem, a APA e o NIMH tentaram aplacar o clima de animosidade emitindo um comunicado conjunto.
"Todas as disciplinas médicas avançam por meio do progresso da pesquisa em caracterizar doenças e transtornos. O DSM-5 e o RDoC representam arcabouços complementares, e não concorrentes, para esse objetivo", diz o documento.
As entidades também ressaltaram a importância de existir uma referência sólida de critérios para uso por planos de saúde e por governos. O Brasil usa a Classificação Internacional de Doenças, da OMS (Organização Mundial de Saúde), que é virtualmente igual ao DSM. Há um comitê de "harmonização" que trata de eliminar a incompatibilidade entre os dois sistemas.
* Texto de Rafael Garcia, originalmente publicado no jornal Folha de S. Paulo, em 17 de maio de 2013. (grifos acrescentados para o Jornal Mural)
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Ódio Visceral
A selvageria das imagens gravadas recentemente na Síria é chocante, mesmo pelo que se tem visto na avalanche de atrocidades e massacres cometidos no país. O vídeo, postado no dia 12 de maio, mas filmado em 26 de março perto da cidade síria de Qusayr, começa com um comandante rebelde abrindo à faca o peito de um suposto combatente de Bashar Assad e retirando o coração e o fígado do homem com precisão cirúrgica e sangue-frio.
O cameraman brinca com o comandante: “Deus te abençoe, Abu Sakkar, parece que você está tirando (desse peito) um coração amoroso!”. Abu Sakkar ergue o fígado e o coração e, falando diretamente para a câmera, faz uma ameaça aterradora: “Juro por Deus que vamos comer seus corações e fígados, soldados de Bashar, cães! Heróis de Bab Amr, massacrem os alauitas, arranquem e comam seus corações!”.
Enquanto os homens ao fundo gritam Allahhu akbar (Deus é Grande), Abu Sakkar põe na boca o coração do morto e arranca um pedaço (em vídeo posterior, ele diz que era um pulmão). A visão da mutilação e do canibalismo, entremeados pela linguagem fanática, destaca a horripilante violência sectária que se espalha por muitas partes da Síria.
*Texto Peter Bouckaert, publicado originalmente no Jornal O Estado de S. Paulo, em 19 de maio de 2013, pág. E4
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Nota Zero para a Educação
Em itálico, comentários de Hélio José Guilhardi
“O pianista André Mehmari foi hostilizado por estudantes da rede pública de Campinas durante uma das apresentações que realizou na cidade, como parte do projeto Ouvir para Crescer, cujo objetivo é, justamente, facilitar o acesso desse público carente à música e ao teatro. Ele, que é um dos músicos mais aclamados da nova geração, foi vaiado e surpreendido com frases do tipo 'sai daí filho da p...', 'vai tomar no c...' e 'vai se foder...' – conforme relatou no seu perfil no Facebook [ver trecho abaixo] –, depois de explicar sobre Ernesto Nazareth e listar as obras que tocaria a seguir. Esse triste retrato da educação foi revelado no dia 14 de maio, em meio a uma plateia de cerca de 600 alunos da rede estadual de ensino no Teatro Municipal José de Castro Mendes. Mehmari continuou a apresentação conforme o programa pedia.”
Infelizmente, nosso espanto não se resume ao descabido comportamento por parte dos alunos! A secretária da Educação de Campinas – veja na mesma reportagem – nos permite nova exclamação: Cada uma! Além de se omitir – pelo menos algum comentário ou análise poderia nos oferecer – reduz sua contribuição à constatação de que se tratavam de alunos do Estado... Certamente ela deve ter alguma evidência de que, se fossem do Município, teria sido diferente. Cada secretária que nos oferecem!!
“A Prefeitura de Campinas, apoiadora do Projeto, tomou ciência do ocorrido por meio da reportagem na manhã de ontem, porém, a secretária da Educação, Solange Villon Kohn Pelicer, preferiu não se manifestar, justificando que os alunos envolvidos são da rede estadual e, portanto, não são de responsabilidade do município.”
Animadora a reação do pianista, pois, em seu perfil no Facebook – além de um desabafo equilibrado e justo –, faz um apelo ao bom senso dos pais. Leia trecho da mensagem de André:
[...] “É, eu queria falar pra eles dessa coisa bonita da Música, de não ter fronteiras, a não ser na cabeça de medíocres e preconceituosos. Mas a fronteira ali estava tão antes de qualquer pensamento, de qualquer diálogo... tudo tão aquém de qualquer desenvolvimento, que abaixei a cabeça e levei mecanicamente a apresentação até o final, acreditando que se tocasse para um único par de ouvidos férteis naquela plateia de 600 jovens pessoas, já teria valido meu esforço, minha confiança na vida. Sei bem que educação é sempre desafio, e que o Brasil encontra-se muito longe de ter estrutura e pessoal adequado. Meu apelo aqui fica para os pais, que acreditam que a educação de um filho se dá na escola. Ela se dá principalmente em casa, neste nível fundamental da formação do caráter de um ser humano.” [...]
*Texto de Marita Siqueira, publicado originalmente no jornal CORREIO POPULAR, em 30 de maio de 2013.
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Os Ossos do Socialismo
Os habitantes da primeira colônia inglesa nos Estados Unidos recorreram ao canibalismo para sobreviver à ineficiência do sistema coletivista em que viviam
Aos 14 anos, a jovem Jane chegou em um navio de suprimentos a Jamestown, a primeira colônia inglesa na América, em 1609. A causa de sua morte, meses depois, é um mistério, mas sabe-se que seu cadáver foi desmembrado para ser devorado por um grupo de colonos. Seu crânio foi aberto e a carne do seu rosto foi destrinchada por uma pessoa sem experiência com a faca, o que pode ser constatado pela hesitação das marcas deixadas na testa e na mandíbula.
A tíbia foi descarnada por alguém com maior conhecimento do ofício. Esses ossos, encontrados no ano passado no que sobrou do porão de uma antiga cozinha, são o primeiro indício arqueológico do canibalismo nas colônias pioneiras, onde hoje fica o estado americano de Virgínia. Essa prática já havia sido registrada em cartas e outros relatos históricos. A descoberta foi revelada no início deste mês.
O horripilante destino de Jane, como a garota foi batizada pelos arqueólogos, é uma exceção, restrita à penúria enfrentada pelos moradores de Jamestown no inverno do fim de 1609 e início de 1610. Uma anomalia daquelas que só acontecem quando o ser humano atravessa condições extremas o bastante para fazer desmoronar qualquer tabu.
Jane foi devorada por seus pares como consequência do fracasso do modelo de produção coletiva implantado nos primeiros anos da colonização dos Estados Unidos. A propriedade era comunitária, e o fruto do trabalho era dividido igualmente entre todos. Era, portanto, uma experiência que antecipava os princípios básicos do comunismo. Deu no que deu.
Sem estímulo para o trabalho, os habitantes de Jamestown eram incapazes de produzir um excedente de alimentos para os períodos de estiagem ou de inverno. No ano em que Jane foi canibalizada, seis de cada dez colonos sucumbiram à fome. A tragédia levou os primeiros americanos a rever o modelo econômico e a instituir a propriedade privada.
A partir desse momento, quem trabalhasse melhor ganharia mais e poderia se resguardar para os períodos de vacas magras. Foi essa mudança, nascida do trauma de um inverno em que os colonos caíram na selvageria, que permitiu aos Estados Unidos se tornar o maior gerador de riqueza do planeta e o berço do capitalismo moderno
*Texto de Duda Teixeira, publicado originalmente na revista Veja, em 22 de maio de 2013
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"Olá, Prof. Hélio, tudo bem?
Estou com uma dúvida que acredito seja básica.
Quando um organismo responde sob um determinado contexto (Sd) e não a outro (Sdelta), ele tem consciência disto? Em outras palavras, quando discrimino um contexto para me comportar e assim receber reforço, eu tenho consciência que aquilo é um Sd?"
Pergunta enviada por Paulo Henrique Azevedo Grande, de Curitiba, PR, e respondida por Hélio José Guilhardi (ITCR-Campinas).
Skinner (1993) , quando discorre sobre a consciência, distingue o ser humano, como membro de uma comunidade verbal, de outras espécies, desprovidas de comportamento verbal. Na pergunta devemos, então, especificar de que organismo estamos falando. Skinner (p. 188) afirma: “Outras espécies também são conscientes no sentido de estarem sob controle de estímulos [isto é, respondem diferencial e sistematicamente sob controle de estímulos diferentes, cada um sinalizando a operação de contingências de reforçamento distintas: na presença do SD ocorre reforçamento positivo; na presença do S∆, opera o procedimento de extinção]. Sentem dor no sentido de responderem a estímulos dolorosos, assim como veem uma luz ou ouvem um som no sentido de responderem de forma apropriada; todavia, nenhuma contingência [de reforçamento] verbal os torna conscientes da dor no sentido de sentir que estão sentindo dor, ou da luz ou do som, no sentido de ver que estão vendo ou ouvir que estão ouvindo.” Em suma, se o sujeito experimental (por exemplo, o rato ou o pombo) emite uma resposta na presença da luz que produz um reforço do qual está privado (a luz, desta forma, adquire função de SD) e, mesmo privado, não emite respostas da mesma classe que produz reforço na ausência da luz (escuro, desta forma, adquire a função de S∆) e, se este sujeito experimental assim se comporta de forma sistemática, então se pode dizer que ele aprendeu a se comportar sob controle de estímulo. Ele está ciente dos controles de estímulos que regem seus comportamentos, pois a eles responde, mas não está ciente de por que assim se comporta, pois não pertence – enquanto espécie – a uma comunidade verbal que o ensine a dizer (ou a saber): 1. que se comporta e 2. sob que controles o faz. Russell influenciou fortemente os escritos de Skinner. Assim se expressou sobre o conhecimento:
“Podemos observar o tato produzindo reações em animais bastante simples, tais como vermes marinhos e anêmonas. Devemos dizer que eles têm “conhecimento” das coisas em que tocam? Em certo sentido, sim. O conhecimento é uma questão de grau. Quando encarado de uma maneira puramente behaviorista, teremos que concordar que existe, em certo grau, sempre que há uma reação característica diante de um estímulo de certa espécie, e que essa reação não ocorre na ausência desse estímulo exato. Neste sentido, não se pode distinguir o estímulo de “sensibilidade”, que foi por nós tratada em conexão com a percepção. Poderíamos dizer que um termômetro “conhece” a temperatura e que uma bussola “conhece” a direção do norte magnético. É este o único sentido em que, no campo da observação, podemos atribuir conhecimento a animais inferiores na escala zoológica. Muitos animais, por exemplo, escondem-se quando expostos à luz, mas não o fazem, em regra, de outro modo. Nisto, porém, não diferem de um radiômetro. Não há dúvida de que o mecanismo é diferente, mas o movimento molar possui características semelhantes. Sempre que há um reflexo, pode-se dizer que o animal, em certo sentido, “conhece” o estímulo. Este não é, sem dúvida, o sentido usual de “conhecimento”, mas é o germe do qual o conhecimento, no sentido usual, se desenvolveu e sem o que conhecimento algum seria possível.” (p. 96)
“Há, porém, dentro da filosofia behaviorista, uma importante adição a ser feita à nossa definição... há outra espécie de maneira de se aprender – uma maneira que é, pelo menos, prima facie, de outra espécie – e que consiste no aumento da sensibilidade. Toda sensibilidade, nos animais e nas criaturas humanas, deve ser encarada como uma espécie de conhecimento. Isto quer dizer que, se um animal procede, na presença de um estímulo de certa espécie, como não teria procedido na ausência de um tal estímulo, é que ele, então, num sentido importante, tem “conhecimento” quanto ao que diz respeito ao estímulo. Ora, parece que a prática – como, por exemplo, na música – aumenta grandemente a sensibilidade. Aprendemos a reagir diferentemente em presença de estímulos que diferem apenas ligeiramente. E, o que é mais, aprendemos a reagir diante de diferenças... Todo este aumento de sensibilidade deve ser encarado como aumento de conhecimento.” (p. 102)
“Diferentemente, uma pessoa torna-se consciente quando uma comunidade verbal organiza contingências de reforçamento, de tal forma que a pessoa não apenas vê um objeto, mas também vê [sabe] que o está vendo. Neste sentido especial, a consciência ou percepção é um produto socioverbal” (Skinner, 1993, p.187). Assim, quando uma pessoa pega uma bola plástica vermelha, quando um membro da comunidade verbal ali presente lhe pede para fazê-lo, ela será ensinada a tomar consciência daquilo que fez (a consciência não ocorre espontaneamente), quando alguém lhe faz perguntas como as que se seguem:
- Você viu a bola? R: Sim, eu vi a bola.
- Onde ela estava? R: No chão, ao lado do balde.
- Qual a cor dela? R: Vermelha.
- Ela é de borracha ou de plástico? R: Plástico.
- O que você fez depois de ter visto a bola? R: Eu a peguei.
- Por que você pegou a bola? R: Porque você me pediu...
- Você consegue contar para a titia o que fizemos no quintal? R: Sim. Que você pediu para eu pegar a bola vermelha de plástico.
- Que mais? R: Que eu peguei a bola vermelha de plástico.
- etc.
Para que este diálogo seja possível, a pessoa já deve previamente ter adquirido repertório verbal (tatos verbais) de dizer: bola (sob controle da bola), chão (sob controle de chão), balde (sob controle de balde), vermelha (sob controle de vermelho), plástico (sob controle de plástico), ver (sob controle de ver) etc. Cada tato verbal deve ser instalado individualmente. Conclui-se, então, que o ser humano pode se tornar consciente de como se comporta e por que o faz, desde que a comunidade socioverbal em que vive atue, tornando-o consciente. Tal possibilidade está vetada para organismos infra-humanos.
A mesma situação só seria possível com um sujeito experimental com as seguintes restrições: um rato poderia empurrar uma bola vermelha de plástico (SD) e desdenhar uma bola vermelha de borracha e uma verde de plástico (S∆s), desde que empurrar a bola vermelha de plástico produzisse alimento (do qual o animal estivesse privado) e empurrar quaisquer outras bolas não produzisse alimento. A ausência de repertório verbal do rato não permitiria que se fosse além.
Pode parecer estranho que o sujeito experimental (todas as espécies sub-humanas) saiba se comportar sem saber que assim se comporta e por que o faz. É nossa tendência antropomorfizar outros organismos (Dawkins afirma que quanto mais próximo do ser humano um organismo é, maior a tendência que temos para antropomorfizar seus atos!) e essa é uma das razões pelas quais é difícil – de início – entender a interpretação comportamental apresentada!
1. Skinner, B. F. (1993). Sobre o Behaviorismo. Ed. Cultrix: São Paulo.
_ 2. Russell, B. (1969). Delineamentos da Filosofia. Civilização Brasileira: Rio de Janeiro._
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