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Volume 64 - maio, 2013

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Testeira Sinal Verde

 

Edição 64 - Maio de 2013

EDITORIAL

 

O mês de maio tem um significado especial para nós do ITCR: acontece o Congresso Brasileiro (anual) de Terapia por Contingências de Reforçamento. É um acontecimento de grande significado pela sua abrangência – recebemos participantes de todo o Brasil; pelo seu pioneirismo – congrega num único evento o que tem sido produzido em TCR; e pela contribuição que presta à Psicologia (Comportamental, em particular) – oferece uma gama de atividades, as quais instrumentam a ação terapêutica, para estudantes, profissionais recém formados e novos adeptos da área.

A maior fonte de contribuição científica – basicamente, elaborações conceituais e estudos de casos clínicos – tem sido o ITCR, uma vez que nossa equipe – quase unanimemente – tem apresentado trabalhos com inegável significado clínico-social. Nosso Instituto tem características próprias de inestimável valor: prestamos serviços para a comunidade, preparamos, através de vários níveis de Cursos, alunos e profissionais para atuarem dentro do nosso modelo terapêutico e difundimos conhecimentos aqui gerados em Encontros e Congressos científicos, Jornadas universitárias, Cursos de aprimoramento e de especialização etc.

O Congresso é uma oportunidade para prestação de contas. É ocasião para sistematizar o que produzimos e submeter nossas contribuições à avaliação séria, construtiva e confiável da comunidade científica e de pares psicólogos clínicos. Tal abertura à avaliação de nossos produtos é a aplicação sistemática do princípio fundamental da Análise do Comportamento: expor nossos comportamentos científico-profissionais à seleção pelas consequências.

Gostaria de encerrar este texto com um comentário que foi enviado aos Organizadores do Congresso por uma colega – participante e expositora – a respeito do evento: “Aposto que este evento cresce vertiginosamente; vocês são exemplos de verdadeira formação de analistas do comportamento.”

Editorial

Um abraço, Hélio José Guilhardi
(CRP: 06/918)

 

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RELEMBRANDO

 

“História de contingências se refere à interação e à integração de todas as contingências de reforçamento a que a pessoa foi exposta e não, exclusivamente, aquelas às quais foi exposta num determinado período de seu desenvolvimento, na infância apenas, por exemplo (a menos que determinado período seja o foco de interesse e, então , isso deve ser explicitado). Convém lembrar, o que já foi exposto por mim em outro texto, que as contingências de reforçamento às quais a pessoa foi exposta no passado só são relevantes enquanto mantêm suas funções no presente (neste caso, não é correto dizer contingências de reforçamento passadas ou do passado, já que são atuais, operam funcionalmente no presente. Tão simplesmente, começaram a atuar no passado, mas mantêm as mesmas funções atualmente). As contingências de reforçamento que atuaram no passado e perderam as funções no presente podem ser relatadas, mas como tactos verbais sobre o que ocorreu. Tornaram-se, mantendo um conceito mentalista, conteúdo da memória.” (GUILHARDI, H. J., 2007)

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APRENDENDO COM GRAÇA I

Pode parecer ingênua a frase conclusiva do Calvin... Afinal, ele é apenas um garoto!
Pare e pense. Quantas atividades psicológicas (melhor seria chamá-las de comportamentais) não são atribuídas – com a mesma ingenuidade do Calvin – ao cérebro: livre arbítrio, raciocínio lógico, desejo, decisão, força de vontade, caráter... Serão todos lubrificados no cérebro?

 

 

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APRENDENDO COM GRAÇA II

Tirinha 02

 

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COTIDIANO

 

Cotidiano 01

O CARRO DE LUXO

Hélio José Guilhardi

Ele parou com seu carro do ano na rampa do posto de gasolina. Foi trocar o óleo. Logo puxou conversa com o funcionário que terminava a troca em um carro ainda suspenso no alto do braço hidramático.
— Fui correr na Lagoa. Corri 10 quilômetros. Acordo cedo no sábado para curtir a madrugada. Vou dar uma volta em Poços de Caldas. Fim de semana com estrada cheia, mas curto a paisagem da serra... Me renovo com um passeio assim! Você “vê” o óleo do motor e da direção para mim? Amanhã volto a tempo de ver o Coringão contra o Santos... Vamos afogar o Peixe! Fica pronto até às dez horas? Preciso pegar minha mulher na aula de Inglês!... Está estudando um pouco para nossa viagem para os Estados Unidos...

O funcionário em silêncio. Não falou uma palavra. Aliás, nem houve oportunidade para qualquer palavra. Nem dele, nem minha!

Imaginei o “figura” diante de um espelho:

— Como sou lindo, rico, interessante...

O espelho em silêncio! Calado, o espelho concorda com tudo o que dizem diante dele.

O narciso no posto de gasolina, além de surdo, às vezes é também mudo: não falou “bom dia”; nem se despediu com “obrigado”!

Cotidiano 02

PIETRA

Hélio José Guilhardi

As gêmeas, dois anos recém completados, brincavam com a mãe, montando um quebra-cabeça. Paola logo se distraiu com outra atividade e se afastou. Pietra permaneceu um pouco mais.

Hora de guardar o brinquedo! Pietra parada ficou observando: a mãe guardou todas as peças, fechou a caixa e se afastou. Pietra pegou o quebra-cabeça e tentou tirar a tampa. Alguém falou: “Deixa a caixa fechada. Vai bagunçar tudo pelo chão.”

Pietra fez que não ouviu. Tentou, tentou e abriu a caixa. Não bagunçou nada. Abaixou-se e foi pegar uma peça perdida do quebra-cabeça, debaixo da mesa. Guardou-a na caixa, fechou a tampa e deu-se por satisfeita com a tarefa cumprida!

Não houve necessidade de nenhum reforço arbitrário. Bastou guardar o quebra-cabeça com todas peças. Reforço natural funciona!

 

Rói Dia das Mães

SOBRE O DIA DAS MÃES...

Hélio José Guilhardi

“Meu irmão caçula era muito ligado a minha mãe. Éramos em 10: cinco homens e cinco mulheres.” Assim falava minha vizinha. “Um dia, meu irmão perguntou a ela:”
— Se você morrer, você vem me buscar?
— Se eu vier depois de morta, você não vai ter medo de mim? (Medo de almas do outro mundo era tão comum!)
— Quando eu reconhecer que é você, saio correndo e pulo nos seus braços, completou ele. Nem precisou dizer o quanto a amava.

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ALÉM DE TERAPEUTA

Além de Terapeuta

Maria Isabel de Albuquerque Cavalcanti Franco, a Bela *

Sou professora de inglês na Cultura Inglesa há mais de 35 anos. O inglês sempre me fascinou. Quando era bem pequena adorava ouvir músicas em inglês, que meus irmãos mais velhos gostavam, e cantava do jeito que entendia - quanta risada quando vim a descobrir a letra real das músicas! Fiz intercâmbio de um ano pelo American Field Service (AFS) no Oregon, EUA, quando tinha 17 anos e minha estadia lá foi um divisor de águas na minha vida. Tive uma experiência riquíssima que confirmou meu interesse pelo inglês e me abriu as portas para minha outra paixão, a Psicologia. Uma das matérias que mais me empolgou enquanto estudava nos EUA foi Psicologia e participava de todas atividades oferecidas: sessões de terapia de grupo, discussões teóricas, visitas a instituições e debates . Comecei a ler a respeito do campo e a me interessar.

Quando voltei para o Brasil já comecei a dar aulas de inglês em uma escola em Santo André, ao mesmo tempo em que prestava vestibular para Psicologia na USP. Como professora, sempre pude usar os conhecimentos adquiridos na faculdade e participar da realização de sonhos de muitos alunos: emprego novo, promoção, viagem de negócios ou de lazer. Além disso, fiz amizades duradouras. Ainda me emociono com a facilidade com que as crianças lidam com os sons e com a língua e como se encantam com o material colorido e os brinquedos. No ITCR o armário lotado de brinquedos também exerce um fascínio imenso nos nossos clientinhos.

Gosto muito do som e da lógica da língua inglesa e sinto muito prazer assistindo filmes, séries, ouvindo músicas, lendo textos, conversando e viajando.

Como terapeuta no ITCR tenho tido oportunidade de atender faixas etárias diferentes e dar vazão ao meu lado acadêmico atuando como supervisora presencial de alunos do curso de Graduação e online de alunos do curso de Especialização em Análise do Comportamento. O ITCR tem me desafiado a produzir textos acadêmicos e a cada dia que passa me sinto mais apaixonada pelo que faço. Através do instituto, além dos atendimentos, tenho unido minhas duas profissões dando aulas particulares para pessoas com necessidades especiais e fazendo atendimento em inglês a clientes estrangeiros.

*Bela (CRP 06/6350) é graduada em Psicologia pela USP- SP (1977) e Especialista em Análise do Comportamento pelo ITCR- Campinas (2011). Atua no Instituto desde 2010

 

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A PALAVRA É SUA

 

A Palavra é Sua

Valéria Bertoldi Peres*

1) Quando e como você começou a trabalhar no ITCR?
Estou no ITCR há nove anos. Comecei a trabalhar no ITCR em novembro de 2004, quando se iniciaram as atividades na Rua Josefina Sarmento, 395.

2) Quantas horas por semana você trabalha no ITCR? Trabalha também em outros lugares? Quais?
Não trabalho em outro lugar, pelo menos não como psicóloga! No ITCR trabalho 30 horas semanais em atendimento clínico e sou supervisora do Curso de Especialização, tenho um grupo de supervisão aos sábados e cinco supervisionandos online.

3) Porque a Psicologia?
Meu relacionamento com a Psicologia vem desde a infância, quando meus pais aplicavam os procedimentos da Análise do Comportamento em mim e nos meus irmãos, orientados pelo Prof. Hélio Guilhardi que iniciava suas atividades na clinica juntamente com o Prof. Luis Otávio Seixas Queiroz. Desde então sempre mantive contato com a Psicologia e admirava a forma de trabalho desses dois grandes Psicoterapeutas.

4) Em que cidade você mora?
Moro em Campinas, SP.

5) Se você tivesse que ser outra pessoa, quem escolheria ser e por quê?
Não escolheria ser outra pessoa, apesar dos desafios que a vida me colocou, adoro tudo que construí especialmente minha família e minha profissão.

6) Que personalidade famosa você gostaria de atender? Conte o porque.
Oswaldo Montenegro, um músico em busca da felicidade. Ele diz: “mudar dói, não mudar dói mais ainda” – já está preparado para o início do processo terapêutico.

7) Com quais pessoas você passa mais tempo na sua semana?
Meus filhos, marido e o Spoky!

8) Você tem animal de estimação?
Sim, o Spoky. Um yorkshire que trabalha como acompanhante terapêutico.

9) Nas horas vagas...
Gosto de fazer arte culinária.

10) Livro ou filme favorito
Closer – Perto demais.

*Valéria Peres (CRP: 06/33454) é formada em Psicologia pela PUC-Campinas (1989) e especialista em Terapia por Contingências de Reforçamento pelo ITCR Campinas (2005)

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GIRO

Giro 01

Jovens e o desafio do álcool

"O que eu, pai ou mãe, devo fazer em relação ao fato de o meu filho, menor de idade, já beber?" Proibir radicalmente o consumo em casa e tentar vigiar 100% do tempo o comportamento dele em festas e baladas, ou pensar em alternativas para educar para o consumo responsável, mesmo antes dos 18?

Vamos aos fatos: o adolescente brasileiro de hoje já bebeu antes dos 18. Há poucas semanas, o Estado trouxe dados de uma nova pesquisa. A segunda edição do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas da Unifesp, de 2012, ainda não apresentou os números finais sobre os jovens (em fase de análise), mas em sua versão anterior, de 2006, já mostrava tendências bem claras. O início do contato com a bebida se dá de forma precoce, em torno dos 14 anos e, após cerca de 6 meses, o uso se torna regular para quase um terço dos jovens: 24% deles bebem pelo menos uma vez por mês e quase metade dos garotos bebe ao menos três doses.

Em um mundo ideal, os jovens não beberiam antes dos 18. Assim, estariam mais protegidos dos efeitos nocivos do álcool sobre um sistema nervoso ainda em desenvolvimento. Sabe-se que quanto mais cedo se dá o primeiro contato com a bebida, maiores as chances de o jovem evoluir para um padrão mais complicado de consumo, como o abuso (beber muito em um curto intervalo de tempo) e a dependência. Isso se dá tanto pela questões biológicas quanto pelas fragilidades emocionais dessa fase (insegurança, timidez, autoestima, entre outras).

Quanto mais tempo o jovem puder adiar o contato com álcool, melhor. Assim, começar a beber aos 18 é muito melhor do que aos 13 ou 15. Mas esperar que todos os jovens, com base no diálogo ou na proibição dos pais ou da lei, deixem de beber é acreditar em conto de fadas. Mesmo nos EUA, onde a idade legal é mais alta (aos 21) e a fiscalização mais severa, uma em cada quatro latinhas de cerveja é consumida por um adolescente.

Texto de Jairo Bouer, publicado originalmente no jornal O Estado de S. Paulo, 28 de abril de 2013, Caderno Metrópole, pág. A30

 

Ex-ministros da Justiça defendem fim de penas a usuários de drogas

A campanha pela descriminalização do uso de drogas ganhou o apoio de sete ex-ministros da Justiça, que entregam hoje ao STF (Supremo Tribunal Federal) um manifesto defendendo que não se pode punir comportamentos praticados na intimidade que "não prejudiquem terceiros".

O documento é assinado por Nelson Jobim, José Carlos Dias, Miguel Reale Júnior, Aloysio Nunes Filho e José Gregori --que estiveram à frente da pasta durante o governo Fernando Henrique Cardoso--, além de Tarso Genro e Márcio Thomaz Bastos, que ocuparam o cargo durante os mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva.

A manifestação será enviada ao ministro Gilmar Mendes, relator de um recurso sobre o tema. O processo tem repercussão geral reconhecida --apesar de tratar de um caso específico, a decisão do STF terá um efeito genérico.

"O fracasso da guerra às drogas baseada na criminalização do consumidor revela a impropriedade das estratégias até hoje utilizadas", diz o manifesto. "Tratar o usuário como cidadão, oferecendo-lhe estrutura de tratamento, por meio de políticas de redução de danos, é mais adequado do que estigmatizá-lo como criminoso."

Pela lei brasileira, usar droga é crime, embora, desde 2006, não haja cadeia para os punidos. O condenado deixa de ser réu primário e tem como pena máxima dez meses de prestação de serviços comunitários, além de multa.

Se o Supremo decidir que não há crime, o usuário, em tese, não poderá receber nem advertência, a mais branda das punições previstas na lei.

Ainda não há prazo para que o caso seja analisado pelo Supremo, mas a expectativa é que o julgamento ocorra este ano. Será a primeira vez em que a corte máxima do país discutirá o uso de drogas.

O processo que originou a discussão se refere a usuário de maconha, mas a decisão do STF valerá a todas as drogas. A ação que será julgada pela corte foi movida pela Defensoria Pública paulista.

*Texto do repórter Felipe Seligman, publicado originalmente no jornal Folha de S. Paulo, 16 de abril de 2013, Caderno Cotidiano, p. C1

Giro 03

Viagem sem volta

O suicídio e a batalha por sua prevenção

Prevista para este ano, a inclusão de uma categoria de comportamentos suicidas no novo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o chamado DSM 5, referência na área de saúde mental em todo o mundo, pode ajudar os médicos a quantificar melhor esse fenômeno, em especial as tentativas, cujas taxas podem ser 40 vezes mais altas do que as dos suicídios consumados.
- Essa é a opinião do psiquiatra José Manoel Bertolote, que acaba de lançar "O Suicídio e sua Prevenção" [Unesp, 142 págs., R$ 18]. Ele afirma, em entrevista à Folha, que a depressão, o alcoolismo e a esquizofrenia são as três principais causas por trás das mortes autoinflingidas.

Estima-se hoje em 1 milhão o número anual de mortes por suicídio em todo o mundo. Isso o coloca como uma das "três principais causa de óbitos em determinadas faixas etárias de vários países e em várias regiões do globo", escreve Bertolote. No livro, o psiquiatra traça um histórico sobre o tema a respeito do qual já se debruçaram teólogos, juristas, filósofos, sociólogos entre outros, e analisa, sob o prisma da saúde pública, suas causas no Brasil e no mundo.

Folha - Como o sr. vê a inclusão da categoria de comportamentos suicidas no novo manual de psiquiatria?
José Manoel Bertolote - Vejo com bons olhos. Hoje há boas estatísticas de mortes por suicídio para cerca de dois terços do mundo, mas não há um registro centralizado de tentativas de suicídio. Se uma pessoa ingere um veneno e vai parar no pronto-socorro, o caso é registrado como intoxicação; se ela corta os pulsos, lesão cortante. A intencionalidade acaba nunca sendo registrada.
A inclusão de uma categoria de comportamento suicida é bem-vinda, pois vai permitir dar uma visão melhor desse quadro. Estudos mostram que a taxa de tentativa de suicídios chega a ser 40 vezes mais alta que a taxa de suicídios consumados.

Como o suicídio se tornou um assunto da medicina?
Até cerca de três séculos atrás, o suicídio era basicamente um problema teológico. O catolicismo considerava o suicídio um pecado grave, o islamismo considera até hoje o pior pecado, pois é a destruição da obra divina. Havia também o interesse de filósofos e, na Inglaterra e em vários outros países, o suicídio era considerado uma morte indigna. O direito o tratava como um crime contra o Estado.
Foi a partir dos séculos 17 e 18 que médicos passaram a se interessar pela questão do suicídio e a considerar que o suicídio tinha uma relação estreita com a saúde, porque eles julgavam que todo suicídio era um ato de loucura. E isso foi ganhando adesão com o tempo. No século 20, consolidou-se a ideia de que o suicídio é um problema de saúde e, sobretudo, de saúde pública.

Há relação entre suicídio e doença?
O suicídio, em primeiro lugar, não é uma doença. Na perspectiva da saúde pública, é um fenômeno social de distribuição irregular na sociedade. Mas há estudos em todo o mundo que mostram que, por trás de grande parte das mortes por suicídio, existem doenças.
A maioria dessas doenças são mentais, mas há também uma grande associação entre suicídio e doenças incuráveis e dolorosas. A mortalidade de portadores de HIV por suicídio, por exemplo, caiu muito depois do advento do coquetel de drogas, quando ela deixou de ser essa doença mortal. As doenças mais associadas ao suicídio são a depressão, o alcoolismo e, um pouco atrás, a esquizofrenia.

Quais são os limites da prevenção do suicídio?
Não acredito que o suicídio possa ser erradicado, pois é um fenômeno humano que existe desde sempre. Há, por exemplo, uma porcentagem de suicídios por trás da qual, por mais se investigue, não se encontra uma doença ou causa clara.
Durkheim, em sua tipologia de suicídios, fala do suicídio altruísta [situação em que um indivíduo está tão conectado a sua comunidade, que abdica de sua individualidade, acreditando que sua morte pode trazer benefícios para a sociedade]. Como é que se vai prevenir isso? Não há o menor sentido. Não é disso que a prevenção do suicídio se ocupa. A prevenção se ocupa dos casos considerados evitáveis, porque decorrentes de um fator que poderia ser removido [como o alcoolismo].
Um dado importante e comprovado é que a maioria das pessoas que tentam o suicídio não quer morrer. São pessoas que querem mudar uma situação, escapar de um problema e, às vezes, a situação é tão tantalizante que a pessoa não enxerga outra saída. Há estudos com pessoas que fizeram uma tentativa de suicídio por um método muito letal e estão próximas de morrer. Elas são entrevistadas nesse momento. A imensa maioria fica desesperada quando percebe que vai morrer e que é irreversível.

Pode-se falar de um luto diferente para os parentes de um suicida?
O luto de uma perda inesperada, sobretudo por uma forma inaceitável, é um luto mais complicado que o luto "normal". O suicídio sempre desperta nos que ficam no mínimo dois sentimentos: culpa e raiva. Isso causa um mal-estar tão grande que chega a ser um fator de risco de suicídio. São relativamente comuns suicídios em famílias em que um membro acaba de se suicidar.
Há um importante movimento internacional de sobreviventes, chamado Survivors, fundado por um casal americano que perdeu sua única filha pelo suicídio. Eles se aproximam de famílias em luto para conversar, compartilhar experiências. O resultado é o desenvolvimento de uma solidariedade intragrupal e o sentimento de solidariedade e responsabilidade pelos outros.

Texto publicado originalmente no jornal Folha de S. Paulo, caderno Ilustríssima, p. 6, em 14 de abril de 2013

 

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fera Interior

A fera interior

O atentado de Boston suscitou uma série de questionamentos a respeito do perfil psicológico de terroristas... Transcrevemos a seguir trecho do depoimento de Luiz Alfredo Garcia-Roza, escritor, autor de livros de ficção policial, entre eles “O Silêncio da Chuva”, extraído do jornal O Estado de S. Paulo, de 21 de abril de 2013.

"Se um ataque terrorista é necessariamente produto de uma mente doentia? Essa é uma questão delicada. O que seria 'uma mente doentia'? Invertendo a pergunta: só uma mente doentia seria capaz de tamanha maldade? Uma mente sadia é incapaz de crueldade? O Mal é uma doença e a maldade o seu sintoma? Durante séculos nos ensinaram que o homem é essencialmente bom. Mesmo porque, para grande parte do mundo ocidental, ele foi feito à imagem e semelhança de Deus, seu criador. Crescemos acreditando que o mundo continha nele próprio o Bem, e que o homem como parte desse mundo reproduzia na sua interioridade o Bem inerente ao mundo. Imaginemos um grande círculo no interior do qual colocamos o Bem. O Mal 'habitaria' o exterior desse círculo, seria o outro, o além-muros, o além-fronteiras, a escuridão infinita, o silêncio eterno, a exterioridade pura ou o puro outro. Seria representado no nosso imaginário como o estranho, o estrangeiro, a peste, o monstro assassino. O difícil é admitirmos que o Mal e o Bem possam ambos ser frutos do próprio homem: não há o Bem e o Mal, mas apenas o bom e o mau, ambos humanos, demasiadamente humanos. A partir da eliminação dessa linha que circunscreve, separa e isola o Bem do Mal, a fera e o assassino passam a habitar a nossa própria interioridade – assim como habita o alívio quando saem milhares de policiais à caça de um suspeito para evidentemente matá-lo. A pessoa nunca admitiria que houvesse um fuzilamento público. Mas aí vai descobrindo que aquilo é confortável porque ela faria aquilo daquele jeito, mesmo sem consciência".

 

Giro 05

Darwin e a prática da 'Salami Science'

Em 1985, ouvi pela primeira vez no Laboratório de Biologia Molecular a expressão "Salami Science". Um de nós estava com uma pilha de trabalhos científicos quando Max Perutz se aproximou. Um jovem disse que estava lendo trabalhos de um famoso cientista dos EUA. Perutz olhou a pilha e murmurou: "Salami Science, espero que não chegue aqui". Mas a praga se espalhou pelo mundo e agora assola a comunidade científica brasileira.

"Salami Science" é a prática de fatiar uma única descoberta, como um salame, para publicá-la no maior número possível de artigos científicos. O cientista aumenta seu currículo e cria a impressão de que é muito produtivo. O leitor é forçado a juntar as fatias para entender o todo. As revistas ficam abarrotadas. E avaliar um cientista fica mais difícil. Apesar disso, a "Salami Science" se espalhou, induzido pela busca obsessiva de um método quantitativo capaz de avaliar a produção acadêmica.

No Laboratório de Biologia Molecular, nossos ídolos eram os cinco prêmios Nobel do prédio. Publicar muitos artigos indicava falta de rigor intelectual. Eles valorizavam a capacidade de criar uma maneira engenhosa para destrinchar um problema importante. Aprendíamos que o objetivo era desvendar os mistérios da natureza. Publicar um artigo era consequência de um trabalho financiado com dinheiro público, servia para comunicar a nova descoberta. O trabalho deveria ser simples, claro e didático. O exemplo a ser seguido eram as duas páginas em que Watson e Crick descreveram a estrutura do DNA. Você se tornaria um cientista de respeito se o esforço de uma vida pudesse ser resumido em uma frase: Ele descobriu... Os três pontinhos teriam de ser uma ou duas palavras: a estrutura do DNA (Watson e Crick), a estrutura das proteínas (Max Perutz), a teoria da Relatividade (Einstein). Sabíamos que poucos chegariam lá, mas o importante era ter certeza de que havíamos gasto a vida atrás de algo importante. (...)

Mas o que Darwin tem a ver com isso? Foi ele que mostrou que uma das características que facilitam a sobrevivência é a capacidade de se adaptar aos ambientes. E os cientistas são animais como qualquer outro ser humano. Se a regra exige aumentar o número de trabalhos publicados, vou praticar "Salami Science". É necessário ser muito citado? Sem problema, minhas fatias de salame vão citar umas às outras e vou pedir a amigos que me citem. Em troca, garanto que vou citá-los. As revistas precisam de muitas citações? Basta pedir aos autores que citem artigos da própria revista. E, aos poucos, o objetivo da ciência deixa de ser entender a natureza e passa a ser publicar e ser citado. Se o trabalho é medíocre ou genial, pouco importa. Mas a ciência brasileira vai bem, o número de mestres aumenta, o de trabalhos cresce, assim como as citações. E a cada dia ficamos mais longe de ter cientistas que possam ser descritos em uma única frase: Ele descobriu...

*Texto de Fernando Reinach, publicado originalmente no jornal O Estado de S. Paulo, caderno Metrópole, p. A35, em 27 de abril de 2013.

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Giro 06

Bombardeio Impessoal

O caderno Aliás, de O Estado de S. Paulo, de 12 de maio de 2013, p. E9, no artigo Bombardeio Impessoal, de Kenneth Serbin, apresenta um exemplo dramático do papel do controle de estímulos sobre comportamento humano. Transcrevemos trechos mais significativos do texto:

“Em 1970, em seu best-seller The Pursuit of Loneliness: American Culture at the Breaking Point (publicado no Brasil como A Busca da Solidão), o sociólogo Philip Slater identificou essa tendência e sua relação com a guerra.”

Slater descreveu a maneira como pilotos de bombardeiros americanos no Vietnã praticavam a "violência à distância".

"Bombardeiros B-52, voando de Guam, a 4 mil quilômetros de distância, ou da Tailândia, largando bombas de uma altura de 12 mil metros para que não fossem vistos nem ouvidos do chão, podiam arrasar um vale inteiro", escreveu.

"Voar muito acima de um alvo impessoal e apertar alguns botões para transformar 130 km² num mar de chamas é menos traumático para o americano comum de classe média do que infligir um ferimento superficial de baioneta a um único soldado. O aviador está protegido do contato íntimo com as vítimas de suas mutilações. Ele não vê mulheres e crianças sendo horrivelmente queimadas até a morte - o que faz com que elas nada signifiquem para ele."

(...)

“O sistema de defesa nacional continua a proteger pessoas das atrocidades da guerra com a mais recente inovação em 'violência à distância': os aviões não tripulados, drones.”

(...)

“Como os bombardeiros do Vietnã, os operadores de drones executam burocraticamente as ordens de matar sem noção da dor e da destruição causadas.”

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TOME NOTA

Tome Nota

03.05 – Aula da Dra. Meire Soldera, do ambulatório de AIDS/DST da Prefeitura Municipal de Campinas, sobre o tema “Álcool e Outras Drogas”, no Curso de Especialização.

04.05 – Aula da Psicoterapeuta Thaís Barros Rocha, do ITCR-Campinas, sobre o tema “Avaliação Comportamental: déficits, excessos e reservas”, no Aprimoramento em TCR com Crianças.

04.05 – Participação do Prof. Hélio José Guilhardi, do ITCR-Campinas, na atividade DIÁLOGOS COMPORTAMENTAIS, do Instituto Innove de Londrina – PR.

03 e 04.05 – Visita ao ITCR dos alunos da PUC-Minas (Poços de Caldas), acompanhados da Profª Regiane Quinteiro.

11.05 – Aula da Dra. Juliana Godoi Fialho, sobre o tema “Como fazer registros e gráficos com os dados da Análise Funcional”, no Curso de Intervenção Comportamental com Pessoas com Desenvolvimento Atípico.

17 e 18.05 – II CONGRESSO BRASILEIRO DE TERAPIA POR CONTINGÊNCIAS DE REFORÇAMENTO E ENCONTRO DE TERAPEUTAS COMPORTAMENTAIS.

21.05 – Marília Zampieri (ITCR-Campinas) participará da Feira de Profissões, do Colégio Beneditino de Vinhedo – SP.

25.05 – Aula da Dra. Carolina Vieira, sobre o tema “Procedimentos para minimizar comportamentos disruptivos e socialmente inadequados”, no Curso de Intervenção Comportamental com Pessoas com Desenvolvimento Atípico.

 

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COMPREENDENDO A TCR - I

 

Compreendendo a TCR 1

Especialista em TCR, a Psicóloga e Diretora do ITCR, Noreen Aguirre, concedeu entrevista à Revista Metrópole, do jornal Correio Popular, sobre a Síndrome do Ninho Vazio.

A matéria será publicada na revista em breve. Aqui no Sinal Verde você confere a íntegra do material elaborado pela Noreen.

O que exatamente caracteriza a síndrome do ninho vazio? Pode chegar a ser uma depressão?
Quando falamos em síndrome, estamos nos referindo a uma série de sintomas que aparecem em conjunto. Não necessariamente a pessoa relata todos os sintomas, mas alguns dentre aqueles possíveis. O que se convencionou chamar de síndrome do ninho vazio são alterações indesejadas nos comportamentos e sentimentos dos pais, quando os filhos saem de casa, seja para estudar fora, ou quando se casam, ou quando se mudam para um local distante etc. Tais alterações, ao invés de adaptativas, trazem sofrimento para a pessoa. A depressão é um dos sintomas possíveis (e frequentes) na síndrome. Além disso, a pessoa pode se tornar extremamente queixosa; não obtém satisfação com as ocorrências normais do dia a dia; se isola ou busca contato com os outros apenas para deixar claro o estado de solidão e abandono em que acha que se encontra; apresenta inúmeras queixas sobre dores e doenças etc.

As mulheres que mais tendem a sofrer com ela são aquelas que não trabalham e viveram para os filhos? As modernas, que trabalham fora, tendem a sofrer menos quando os filhos saem de casa?
Não necessariamente. Os sentimentos independem do fato de a pessoa ter trabalhado fora ou ter se dedicado ao lar durante a criação e educação dos filhos até a idade adulta. O importante é que, não obstante seu estilo de vida, ela tenha mantido interesses próprios, contatos com amigos, tenha se mantido atualizada com o que ocorre fora do ambiente doméstico.

Existe um perfil de pessoas mais propensas a ter a síndrome?
Podemos dizer que a pessoa que, mesmo no período em que os filhos ainda estavam em casa, não obtinha prazer e satisfação pessoal a não ser através de situações que envolvessem os filhos, terá maior propensão a relatar sentimentos indesejados quando seu acesso ou sua influência sobre eles se reduzir ou cessar. Podemos considerar também que, quando a pessoa vive sozinha, por ser divorciada ou viúva, já está exposta a uma situação de privação de contato social que, caso não seja bem administrada, pode aumentar a probabilidade de ocorrência de sintomas da síndrome. Outra questão a ser analisada é se a pessoa tem sentimentos de culpa por achar que deixou de fazer algo pelos filhos e... agora é tarde demais!

Quanto tempo ela pode durar? E como se livrar dela?
Não dá para estabelecer um prazo. Vai depender das oportunidades disponíveis e do envolvimento da pessoa para mudar sua rotina e reverter tais sentimentos, do apoio de amigos e familiares etc. Pode ser necessário o encaminhamento a um tratamento psicológico e, em alguns casos, até tratamento medicamentoso orientado por um psiquiatra.

Como os filhos que saíram de casa podem ajudar a mãe sair desta condição?
De várias maneiras: mantendo contato (atualmente, além do telefone, há recursos como o Skype, que dão maior sensação de proximidade. Além disso, caso os pais não saibam utilizar tais recursos, o aprendizado acabará também se constituindo numa ferramenta para se livrar da síndrome), demonstrando que reconhecem a influência (quando positiva) dos pais em suas próprias vidas (profissional, familiar), se interessando pelas atividades que os pais vêm desenvolvendo...

Os homens também podem sofrer com a síndrome do ninho vazio? Em mesma proporção que as mulheres?
Os sintomas relatados são mais comuns em mulheres, mas ocorrem também com os homens, principalmente se já são aposentados e não têm uma ocupação fixa, ou se vivem sozinhos.

É possível fazer algo para que a saída dos filhos de casa seja menos dolorida?
A saída dos filhos de casa não deveria ser experienciada como algo doloroso. Afinal, é o momento em que estão começando a assumir o controle sobre suas próprias vidas, e os pais podem encará-lo como uma demonstração de sucesso dos filhos e de retorno (na forma de admiração, orgulho, sensação de dever bem cumprido) de toda a dedicação e investimento (tanto material, como afetivo) dispensados aos filhos. Além disso, os pais precisam ter claro que não é uma situação de rompimento, mas pode ser, sim, de desenvolvimento.
A preparação para tal momento também é muito importante: reconhecer que é inevitável e desejável, e manter-se ativo e envolvido com algum interesse que não envolva, necessariamente, os filhos. Pode ser ocasião para retomar interesses temporariamente deixados de lado (fazer um curso, aprender um idioma, dedicar-se a um novo hobby, viajar). Costumo dizer que para manter-se emocionalmente saudável é preciso estar “inventando moda”, ou seja, manter-se aberto a algo novo.

COMPREENDENDO A TCR - II

 

ATENÇÃO SÓCIO-AFETIVA E ATENÇÃO SOCIAL

Hélio José Guilhardi


É comum argumentar, e até demonstrar cientificamente, que a atenção mantém e amplia repertório de comportamentos indesejados. A atenção, inclusive, tem função de reforço (generalizado, condicionado) positivo, quer seja expressa de uma forma acolhedora (sorrisos, elogios, toques físicos, aprovação, olhares, acenos de cabeça etc.), quer seja apresentada de forma recriminatória (repreensões verbais, reprovações, críticas, beliscões, toques bruscos, safanões, gritos, palavrões etc.).

Em seu trabalho clínico, o terapeuta encontra muitos exemplos de situações como as alinhavadas no parágrafo acima e, às vezes, é desafiado por algumas questões – como as duas que se seguem – por pessoas pouco familiarizadas com os conceitos e procedimentos comportamentais:
1. Se o comportamento indesejado produz atenção, por que ele não se enfraquece por saciação (da atenção que produz)?
2. Se a pessoa está carente de atenção, por que, ao recebê-la, a pessoa não passa a se sentir bem – afinal, conseguiu aquilo de que está privada – e a se relacionar de forma harmoniosa com seu ambiente sócio-afetivo?
Em primeiro lugar, atenção não é um reforço primário, como água, comida, sexo, calor etc., mas um reforço condicionado (aprendido, portanto) generalizado positivo. Atenção não é um comportamento único, mas uma classe ampla de comportamentos, tendo todos eles a função de reforço positivo, adquirida de maneira particular para cada indivíduo, a partir da história de contingências de reforçamento a que ele foi exposto. O termo “generalizado” informa que a função reforçadora da atenção foi adquirida por associação com inúmeros outros reforços e, como tal, sua função reforçadora não depende de nenhuma privação específica e individual. A pessoa, pode-se dizer, sempre estará privada de alguma classe de reforços e o reforço generalizado tem, portanto, garantida sua função durante todo o tempo. Um exemplo didático de tal reforço é o dinheiro: ele adquire a função de instrumento que permite acesso a um sem número de itens que têm função reforçadora para as pessoas. É raro encontrar alguém que se sinta saciado com o dinheiro que tem! Concluo, então, que as pessoas não se saciam quando produzem reforço positivo generalizado.
Em segundo lugar, a atenção é disponibilizada em diferentes esquemas de reforçamento intermitentes (razão e intervalo variáveis, na maioria das situações), o que produz maior resistência à extinção e maior tolerância à frustração. O poder de esquemas intermitentes, de manter os comportamentos que produzem determinada consequência, em parte explica a manutenção dos padrões comportamentais, insensíveis à saciação (em particular quando a consequência não tem a propriedade de saciar...) .
Um terceiro argumento nos dirige a uma avaliação do repertório comportamental mais amplo da pessoa. Em outras palavras, um indivíduo pode obter atenção emitindo comportamentos indesejados porque são esses comportamentos exatamente os que produzem atenção e, como tal, são os selecionados naquele determinado contexto social (o outro que libera a atenção é mais sensível a contingências aversivas; nota e reage a comportamentos que lhe são aversivos - se comporta por reforçamento negativo – e coloca em extinção comportamentos que não lhe são aversivos). Se o indivíduo tem repertório comportamental restrito, basicamente comportamentos indesejados que produzem atenção negativa, então sua possibilidade de se comportar se restringe às classes comportamentais indesejadas. Se, por outro lado, a pessoa tem repertório comportamental desejado, as possibilidades de apresentar variabilidade e substituir comportamento indesejado por desejado e, desta forma, produzir atenção, são imensas. Ou seja, as interações interpessoais podem se enriquecer (desde que o ambiente responda sob controle da emissão de comportamentos desejados) e se caracterizar por uma ampla gama de variabilidade comportamental em que se mesclam comportamentos desejados e indesejados, com predominância – deseja-se que assim seja – de padrões comportamentais desejados naquele dado grupo social. Em suma, quando a pessoa tem, em seu repertório comportamental, as duas classes de respostas, desejadas e indesejadas, a atenção pode vir a privilegiar a ocorrência de comportamentos desejados. Alguém poderá perguntar: mesmo quando inicialmente a atenção é dada contingente a comportamento indesejado? A resposta é sim, embora possa parecer, à primeira vista, um efeito paradoxal. A atenção, neste caso, pode adquirir a função de SD, ou seja, ocasião em que, caso as respostas adequadas sejam emitidas, então serão consequenciadas por atenção. Pode, adicionalmente, produzir um estado corporal de bem-estar, que assume a função de operação motivacional, a qual aumenta a probabilidade de emissão da classe de comportamentos desejados. Finalmente, a atenção pode gerar, naquele que se comporta “mal”, sentimentos de culpa em relação ao outro que libera o reforço generalizado, e esta contingência de reforçamento complexa evoca comportamento de fuga-esquiva, qual seja, respostas desejadas.
Em quarto lugar, gostaria de fazer uma distinção entre atenção com amor (atenção sócio-afetiva) e atenção sem amor (atenção social). Os termos entre parênteses são arbitrários e são propostos com a finalidade de destacar que a atenção presente numa interação social pode ser desprovida de afeto. Quando determinado comportamento (mesmo aquele denominado indesejado) produz atenção sócio-afetiva, ocorrem dois fenômenos comportamentais produzidos pelo reforço positivo generalizado carregado de afeto: fortalecimento do comportamento que o produz e sentimentos de bem-estar, de tranquilidade, de satisfação, de felicidade etc. A pessoa inundada por tais sentimentos relaxa e diminui (ainda que temporariamente) a emissão de comportamentos que poderiam ser rotulados de agitação, de atividade (ou hiperatividade). É como se houvesse uma saciação de atenção... Ao mesmo tempo, aumenta a probabilidade de emissão de comportamentos desejados, que se expressam na forma de quietude (menor agitação), cooperação, delicadeza etc. Disto tudo resulta – num ambiente social diferencialmente sensível às duas diferentes classes comportamentais – uma maior probabilidade de reforçamento de comportamentos desejados (e, concomitantemente, extinção de comportamentos indesejados), os quais, se forem fortalecidos, resultarão em enfraquecimento na emissão dos indesejados, por incompatibilidade funcional.
O mesmo não acontece quando a atenção é apenas social. Ocorre fortalecimento da classe de comportamentos que a produzem, mas os sentimentos gerados são de alívio, não de bem-estar, não de satisfação, não de tranquilidade... Como tal, comportamentos da classe dos indesejados continuam sendo emitidos, aumenta a variabilidade comportamental dentro desta classe de respostas (ocorrem agitação e hiperatividade) e os sentimentos de alívio são alternados com sentimento de ansiedade, insegurança, além de a carência afetiva não se esvair. A atenção social não supre o afeto! Há menor probabilidade de emissão de comportamentos desejados, mesmo que façam parte do repertório da pessoa (o ambiente não disponibiliza SDs que os evoquem) e surgem padrões de comportamento de antagonismo, rebeldia etc. Uma metáfora facilitará a compreensão do exposto. O reforço generalizado positivo exclusivamente social equivale ao uso de um adoçante dietético. Adoça, mas não alimenta. A atenção sócio-afetiva é como o açúcar: adoça e nutre.

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ITCR RESPONDE

ITCR Responde

Perguntas enviadas pela psicóloga Deyse Aline Tem Pass, de Toledo, PR.

Oi professor Hélio, tudo bem? Gostaria de tirar algumas dúvidas que surgiram quando assisti algumas gravações de estudos de caso.

1) Você disse que a autoestima pode ser desenvolvida ou perdida em qualquer momento da vida. E a autoconfiança, também pode ser perdida?
Hélio José Guilhardi: Qualquer sentimento é produto de contingências de reforçamento. Como tal, pode ser instalado, desde que manejadas as contingências de reforçamento – corretamente identificadas como determinantes de dado sentimento – na direção apropriada. O fato de ser possível não significa que seja fácil! Desta maneira, podemos desenvolver sentimentos de autoestima num contexto sócio-afetivo acolhedor. Inversamente, uma pessoa exposta a condições de interações negativas, destrutivas, coercitivas etc. pode deteriorar sua autoestima. Nada é irreversível, nem inevitável. No entanto, os sentimentos não são regidos por força de vontade; não se alteram aleatoriamente: são desenvolvidos ou enfraquecidos segundo leis regulares e conhecidas, que regem comportamentos e sentimentos humanos. O que se disse sobre o sentimento de autoestima, do ponto de vista conceitual, também se aplica ao sentimento de autoconfiança.

2) Pode-se supor que uma pessoa que tem mais autoconfiança por consequências negativas tem baixa autoestima?
Hélio José Guilhardi: Em geral, sim. Reforçamento negativo, que instala autoconfiança, instala também ansiedade, preocupação, medos, fobias e outros sentimentos negativos que enfraquecem ou são incompatíveis com sentimento de autoestima. O desenvolvimento pleno - comportamental e emocionalmente falando – ocorre quando prevalece o contato da pessoa com contingências de reforçamento positivas. Temos que reconhecer que não há possibilidade de poupar alguém de conviver com contingências coercitivas. É difícil falar em desenvolvimento de autoestima sob condições sociais aversivas; pode-se, porém, reconhecer o desenvolvimento de autoconfiança sob condições coercitivas.

Para entender mais, leia os textos indicados abaixo, também da autoria de Hélio José Guilhardi, disponíveis na seção Textos sobre Terapia por Contingências de Reforçamento, do site www.itcrcampinas.com.br)
AUTO-ESTIMA, AUTOCONFIANÇA E RESPONSABILIDADE
AUTO-ESTIMA E AUTOCONFIANÇA SÃO METÁFORAS, NÃO CAUSAS

 

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Congresso 01

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