Edição 63 -
Abril de 2013
|
Neste mês
comemora-se o
Dia do Livro.
Não é uma
homenagem
trivial. O que
seria da
humanidade se
eles não
estivessem ao
nosso alcance? O
livro é algo tão
corriqueiro, que
passa
despercebida sua
relevância para
nossa formação e
nosso
desenvolvimento
pessoal.
O livro é
produto de
comportamentos
complexos. A
produção do
conhecimento a
ser relatado por
escrito é um dos
primeiros
passos. Escrever
é outro...
Quantos elos
existem desde a
formação do ser
humano que gera
conhecimento –
em qualquer área
– até a
aquisição do
livro num ponto
de venda? A
lista é imensa e
sofisticada.
Quantos elos
poderiam ser
enumerados desde
o momento em que
o leitor começa
a ler as páginas
impressas e as
desenvolve ainda
mais, as usa e
as transmite, de
modo a
tornar-se, ele
próprio,
aprendiz e
professor?
Todos nós do
grupo ITCR somos
parte ativa
desse processo.
É um
extraordinário
privilégio,
enorme mérito e
inalienável
dever de cada um
adquirir
conhecimento,
produzir novos
conceitos e
práticas e
transmití-los.
Gostaria que
cada um
refletisse a
esse respeito:
você é
continuamente
aluno,
pesquisador e
professor. O
desenvolvimento
da humanidade se
deu pelo
singular acúmulo
de contribuições
de pessoas – a
maioria das
quais como nós;
outras melhores
que nós – que
fizeram o que
nós fazemos
diariamente:
estudaram,
aprenderam,
criaram,
transmitiram o
que sabem a
outros, os
quais, por sua
vez, entrarão na
mesma espiral
ascendente do
conhecimento.
Desejo que você
se veja
exatamente
assim! Um ser
humano que pode
ter significado
relevante para
si mesmo e para
outros!
|
Um abraço,
Hélio José Guilhardi
(CRP: 06/918)
|
19/04
- “Contingências
entrelaçadas na
relação
terapeuta-cliente”,
aula do Dr.
Roberto Alves
Banaco, no Curso
de
Especialização
20/04
- “Alcoolismo”,
aula do Prof.
Hélio José
Guilhardi/Discussão
de caso clínico
apresentado pela
Psicóloga.
Tatiana Lance
Duarte – no
Curso de
Especialização
27/04
- “A Análise
Funcional como
estratégia de
intervenção
sobre
comportamento-alvo”,
aula da Dra.
Juliana Godoi
Fialho, no Curso
de Intervenção
Comportamental
com Pessoas com
Desenvolvimento
Atípico.
|
”O doloroso processo
da extinção...”
|
”Formação incompleta
de conceitos”
|
“- Mas, se aprendi
em casa o que é uma
bromélia, como a
reconheço nas
rochas?
-Se o treino
discriminativo foi
repetido com
diferentes tipos de
bromélias, em
diferentes
circunstâncias,
você, provavelmente,
formou o 'conceito
bromélia'. Isto é,
passou a ser capaz
de dizer 'bromélia'
para muitos tipos
diferentes de
plantas, todas
bromélias:
generalizou dentro
da classe de
estímulos (bromélias
grandes ou pequenas,
floridas ou sem
flores, ao vivo ou
em fotos, etc.).
Simultaneamente,
discriminou entre
classes de estímulos
(não diz 'bromélia'
diante de uma
avenca, ou de uma
samambaia, etc.).
Tendo formado o
'conceito bromélia',
portanto, você está
habilitada a
identificá-la (um
vegetal bromélia tem
função de SD para
você) e a nomeá-la
em qualquer
ambiente.” (Guilhardi,
H.J. e Queiroz, P.P.,
2002)
A íntegra do texto
disponível em
www.itcrcampinas.com.br.
|
AGNALDO,
TIMÓTEO, EMÍLIO
SANTIAGO E
DANIELA MERCURY
HÉLIO JOSÉ
GUILHARDI
Meu vizinho tem
um cachorro
lindo: pitbull,
macho, bravo!
Cheio de
personalidade!
Sempre que passo
em frente do
portão, posso
vê-lo, através
de uma
tela,correndo em
círculos,
latindo, ávido
por se aproximar
de mim. Já não
tenho mais medo
dele, pois me
certifiquei de
que o portão que
nos separa é
seguro. Ou
melhor, tem sido
seguro!
Costumo
cumprimentá-lo:
“Oi, Timóteo”,
ou uso outras
frases
amistosas. Não
foi sempre
assim, pois no
momento de
saudá-lo me
esquecia do nome
dele. Considero
um insulto não
chamar um ser
querido pelo
nome. Que falta
de “tato”!...
Resolvi adotar
um recurso
mnemônico.
Elaborei um míni
encadeamento de
respostas
verbais: Agnaldo
Timóteo. Aí
bastava pensar:
“Qual é o
cantor?” Era o
primeiro SD para
a resposta
encoberta:
“Agnaldo”. Dizer
“Agnaldo” para
mim mesmo era
Sr+ para a
resposta de ter
me lembrado do
cantor e SD para
a resposta
seguinte:
“Timóteo”.
Lembrar-me, de
forma encoberta,
de “Timóteo” era
Sr+ para a
resposta de ter
me lembrado de
Agnaldo e SD
para dizer:
“Timóteo”.
Simples, não?
Desta forma, a
resposta
desejada podia,
afinal, ser
pronunciada em
alta voz. Os
reforços eram o
sucesso de minha
memória, ainda
que capenga, e a
euforia do
Timóteo por
ouvir seu nome
em destaque
(isto é, minha
fantasia sobre
sua euforia...).
O percurso para
automatizar o
nome do meu
querido amigo
não foi, no
entanto, sem
equívocos. Já o
chamei de
“Cantor”, de
“Rayol” (o outro
Aguinaldo), de
“Roberto Carlos”
e outros, sempre
pedindo a ele as
necessárias
desculpas...
Estou melhor. O
que não tenho
conseguido
evitar, porém, é
a generalização
que ocorre –
ainda bem que só
de forma
encoberta –,
sempre que me
aproximo do
portão da casa
do Timóteo. Na
semana passada
pensei no Emílio
Santiago, nesta
semana na
Daniela Mercury.
Acho que minha
cabeça vai
fundir na semana
do Rock in
Rio...
|
Com exclusividade no
Sinal Verde, você
confere a íntegra da
entrevista concedida
pelo diretor do ITCR
Campinas, Hélio José
Guilhardi, à revista
Metrópole, de
Campinas. Em pauta,
o tema solidão.
Parte do conteúdo
foi publicada na
edição da Metrópole
de 24 de março de
2013.
Como conceituar, em
linhas gerais, a
solidão?
Hélio J. Guilhardi:
O sentimento de
solidão é doloroso.
Ao contrário do que
se pensa, o
sentimento de
solidão não está
relacionado com
viver sozinho. Uma
pessoa pode sofrer
com sua solidão em
meio a pessoas,
inclusive junto
daquelas que lhe são
próximas: pais,
irmãos, parceiro
conjugal, filhos,
amigos... Também não
se espere que as
pessoas não sintam
solidão em momentos
diversos de sua
vida, tais como após
uma perda afetiva
significativa,
durante a evolução
de uma doença grave,
depois de perdas
materiais e
profissionais
expressivas (início
de aposentadoria,
por exemplo).
Sentimentos de
solidão
desencadeados por
eventos específicos
são normais e,
necessariamente,
passageiros. O que
pode ser considerado
patológico é viver
cronicamente com
sentimento de
solidão.
O sentimento crônico
de solidão se
desenvolve como
resultado de pobreza
afetiva, em geral
com gênese num
ambiente familiar
carente de diálogo
respeitoso e
minguada expressão
genuína de afeto.
Nesse tipo de
contexto, a pessoa
não se sente
respeitada por
aquilo que ela é,
não tem oportunidade
de expressar ideias,
crenças, valores,
sentimentos,
empobrece seu
autoconhecimento,
nunca está
convencida de que é
amada e fica privada
de vivenciar seu
amor pelo outro, com
o outro.
Por outro lado, uma
pessoa que vive
sozinha pode se
sentir bem e se
bastar, sem
experimentar
sentimentos de
solidão por razões
imaturas. Pessoas
pouco afetivas,
narcisistas,
egoístas,
insensíveis à
presença e aos
sentimentos do outro
podem viver em paz a
sós. Não são, no
entanto, realizadas
(podem pensar que
sim, pois lhes falta
conhecer aquilo de
que estão carentes)
e seu
desenvolvimento é
truncado. Um ser
humano maximiza seu
crescimento pessoal,
em especial o
afetivo, no
exercício da
interação social.
Uma pessoa
emocionalmente
madura é aquela que
está bem a sós e
também se sente
plena na convivência
com o outro.
Há estatísticas que
revelam que há,
percentualmente,
mais pessoas casadas
com sentimentos de
solidão do que
aquelas que vivem
sós!
Hélio J. Guilhardi:
É perigoso
generalizar: uma
pessoa que mora
sozinha, mas que
desenvolveu
plenamente
sentimentos de
autoestima, de
autoconfiança, boa
dose de tolerância à
frustração, que se
sente segura e
apresenta amplo
repertório
comportamental em
múltiplas áreas da
vida, pode dispensar
o casamento, pois
não depende do outro
para se realizar,
para se sentir
protegida, para
enfrentar os
desafios do
cotidiano. Como tal,
não precisa se casar
para se sentir
(ilusoriamente)
protegida; pode
escolher casar-se ou
não! Por outro lado,
uma pessoa com baixa
autoestima, baixa
autoconfiança, baixa
tolerância à
frustração,
insegura, com
limitado repertório
comportamental para
lidar com os
desafios do dia a
dia, tem necessidade
de se casar. Não
está apta a escolher
aquilo que lhe
parece melhor, nem
de se aproximar de
pessoas que sejam
melhores para ela.
Casar-se, nestas
condições, não é uma
escolha; trata-se de
uma necessidade,
determinada por suas
carências e
limitações. E o
casamento raramente
supre os déficits,
que devem ser
superados de
maneiras mais
apropriadas. A
pessoa se casa e,
nesta condição,
continua vulnerável,
pois a relação do
casal não é
caracterizada pelo
desenvolvimento de
ambos através de
influências
recíprocas. O que
melhor define tal
relação é
dependência. Uma
pessoa dependente
está sempre
vulnerável e sentirá
contínuos
sentimentos de
solidão, mesmo
acompanhada!
Há ganhos em se
viver sozinho? Quais
limites da solidão
devem ser
respeitados?
Hélio J. Guilardi:
Viver sozinho pode
ser uma boa
oportunidade para a
pessoa melhor se
conhecer, para
testar seu potencial
emocional e de
atuação nos
confrontos
cotidianos, para
exercitar o
sentimento de
liberdade, para
expandir a
capacidade de tomar
decisões, encarar
seus medos e
incertezas, assumir
riscos e não delegar
para outrem a
responsabilidade por
suas ações. É bom e
necessário conviver
consigo mesmo, a
sós. Por outro lado,
é graças à interação
com outras pessoas
significativas do
seu dia a dia que o
senso crítico se
mantém agudo, que a
reavaliação contínua
de seus pensamentos
e atos se faz
necessária, que
surgem oportunidades
para aprender e
acelerar seu
desenvolvimento
pessoal, que são
testadas as
capacidades de se
enternecer, de
colaborar, de doar,
de ceder, de pospor
ou renunciar a
privilégios, de se
tornar humilde.
Ninguém se
desenvolve sozinho
com a mesma
magnitude e
qualidade daquele
que se relaciona com
seu próximo. O
desenvolvimento
pessoal tem muito a
ganhar com o
necessário
equilíbrio entre
saber viver sozinho
e saber viver com o
outro.
Como uma pessoa pode
se preparar para
viver sozinha?
Hélio J. Guilardi:
O preparo para viver
sozinho é cotidiano.
Deveríamos estar
continuamente
vivendo sozinhos e
acompanhados. Você
não precisa se
isolar das demais
pessoas, romper um
vínculo afetivo,
dissolver laços
familiares etc. para
então viver sozinho.
Rodeado por pessoas,
com sólido vínculo
afetivo, no seio de
uma família
funcionalmente
madura, você deve
exercer também o
dever (note que não
falo em exercer o
direito) de viver
sozinho. São ambas
facetas de um mesmo
conceito – viver a
sós e viver com
pessoas – que
compõem o pleno
desenvolvimento
individual. Se as
circunstâncias da
vida lhe forem
adversas e não lhe
sobrar opção de
viver com pessoas,
você, desta forma,
tendo vivido uma
experiência a
sós-junto, estará
preparado para
prosseguir sozinho
sem se desnortear,
sem se desequilibrar
com danos profundos.
No entanto, não se
deve almejar a
solidão. Nenhuma
circunstância deve
ser considerada a
priori como
condenação à
solidão. Há
múltiplas maneiras
para minimizar a
solidão imposta. As
pessoas devem
cotidianamente
exercitar
variabilidade
comportamental e
criatividade para
não se deterem
diante de acidentes
e imprevistos. As
possibilidades de
rearranjar os rumos
da vida são
incontáveis e
oferecem
possibilidades para
evitar que alguém se
condene a uma vida
solitária. Optar
pela vida solitária,
então, nem
pensar!...
Quais os perigos de
se viver sozinho?
Hélio J. Guilardi:As
pessoas solitárias
são mais propensas à
depressão e a não
reconhecer mais as
qualidades e a
potencialidade que a
vida oferece.
Trata-se de uma
forma de depressão
que se diferencia da
depressão
clinicamente
rotulada como
doentia. Nesta, a
pessoa quase que
literalmente desiste
de viver. Trata-se
de uma manifestação
de depressão tão
drástica que a
pessoa perde a
autonomia para se
cuidar e alguém tem
que conduzi-la para
um tratamento... A
forma de depressão a
que me refiro é
menos intensa quanto
aos sintomas e pode
ser, por isso mesmo,
negada. A pessoa não
perde a autonomia
para decidir o que é
melhor para ela e,
como tal, impede que
outras pessoas a
ajudem. No entanto,
tal autonomia é
apenas aparente. A
pessoa acredita que
escolhe se isolar,
que escolhe não mais
se divertir, que os
componentes da vida
não são
significativos: que
as cores se tornaram
cinzentas, que os
risos são
hipócritas, que o
amor é ilusão, que
viver é durar e não
desbravar e
desfrutar...
Além das
preocupantes e
graves mudanças
afetivas, como
expostas acima, a
pessoa solitária
inicia um galopante
processo de atrofia
intelectual, de
raciocínio, de
expressão verbal, de
conhecimento. Em
casos mais graves,
há alterações nos
processos
neurofisiológicos do
organismo, que
antecipam doenças e
chamam pela morte.
As decadências
afetivas,
comportamentais,
sociais e de bem
estar físico
avançarão
irremediavelmente se
não houver uma
intervenção. O fato
de os avanços dos
danos serem graduais
atrapalha a
percepção da pessoa,
que não tem
consciência de seu
declínio e, como
tal, resiste a
aceitar ajuda e
repete: “Estou bem
assim... Deixem-me
em paz!”.
A melhor solução é
preventiva:
variabilidade
comportamental,
permanência ativa no
convívio com o
outro, busca ativa –
por decisão
individual e por
sugestão do outro –
de desenvolvimento
pessoal em múltiplas
áreas. Gostar de si,
gostar de pessoas.
Gostar da vida é um
processo ativo e
tanto melhor quanto
mais conscientemente
ele for cultivado.
É se comportando que
melhor viveremos;
jamais esperando o
que a vida tem a nos
dar. Ela
disponibiliza quase
tudo; não nos dá
nada!
|
Vitor
dos
Santos (CRP:
06/
91521) é
graduado
em
Psicologia
e
especialista
em
Psicologia
Analítica
pela
PUC-PR.
Também
possui
Especialização
em
Análise
do
Comportamento
pelo
ITCR-Campinas.
|
Vitor Pedro
Calixto dos
Santos
“Era uma vez...”
penso que assim
se pode começar
minha história
da relação entre
a psicologia e a
vida de padre.
Tudo começou em
Rio Claro
quando, ao fazer
a catequese,
conheci o
Seminário Claret
e comecei a
participar no
grupo
vocacional. Em
1975, com 15
anos de idade,
entrei para o
seminário. Segui
os estudos:
Ensino Médio,
Noviciado,
Filosofia e
Teologia e
recebi a
Ordenação
Sacerdotal em
1984 (em
dezembro passado
completei 28
anos como
padre).
Logo no início
de minha vida de
padre fui para
Roma, onde
fiquei dois anos
fazendo
especialização
em Liturgia no
Pontifício
Instituto
Litúrgico Santo
Anselmo. Ao
voltar, em 1987,
iniciei o
trabalho como
professor de
liturgia e
sacramentos no
Studium
Theologicum em
Curitiba. Morei
em Curitiba por
20 anos e, além
de professor,
exerci as
funções de
administrador e
diretor da
faculdade.
E a Psicologia?
Bem, a
psicologia, de
alguma maneira
sempre esteve
presente, pois
desde os tempos
da filosofia
estudei alguns
de seus
conteúdos e o
interesse pelo
ser humano
sempre foi uma
constante nos
estudos
humanísticos. Em
Curitiba fiz um
curso de
Counseling,
participei de
grupos de
estudos
junguianos e
cursei a
pós-graduação em
Psicologia
Analítica na
PUC-PR. Somente
em 2000 é que
iniciei, também
na PUC-PR, a
graduação em
Psicologia,
formando-me em
2006. Foi
durante este
período de
estudos que
conheci a
análise do
comportamento,
ao participar
dos encontros da
ABPMC. Fui
seduzido por ela
e comecei em
2006 a
especialização
no ITCR, onde
atuo desde 2008
quando fui
transferido para
Campinas.
Hoje, sou um
padre analista
do
comportamento.
Quem sabe, o
primeiro. Para
mim, no entanto,
trata-se de uma
opção
positivamente
reforçada de
várias maneiras:
pelo ITCR e
todos os seus
membros e,
sobretudo, pelas
possibilidades
que se tem de
ajudar as
pessoas a
viverem sua
humanidade de
maneira mais
plena e assim,
se for o caso,
descobrirem a
presença de
Deus.
|
Tania
Parolari
(CRP:
06/90250) é
graduada em
Psicologia
pela UNIP,
Pós-Graduada
em Terapia
Cognitiva
Comportamental
e
Especialista
em
Transtornos
Ansiosos
pela USP/SP
|
Tânia Parolari
Quando e como você
começou a trabalhar
no ITCR?
Comecei a trabalhar
no ITCR em 2008.
Logo quando terminei
minha especialização
senti necessidade de
trabalhar com outros
colegas para poder
compartilhar ideias,
pensamentos e trocar
experiências.
Encontrei no
Instituto o que
procurava e fui
muito bem acolhida.
Quantas horas por
semana você trabalha
no ITCR? Trabalha
também em outros
lugares? Quais?
Dedico 18 horas por
semana ao ITCR.
Também trabalho na
parte da manhã em um
escritório de
advocacia
especializado em
direito de família e
atuo como mediadora
de conflitos
familiares e
conjugais junto aos
advogados. Também
sou voluntária de
uma instituição
religiosa no
departamento de
acolhimento.
Porque a Psicologia?
Desde adolescente
sempre pensei na
possibilidade de ser
psicóloga, pois
admirava as pessoas
que se dedicam às
questões do outro.
Saber como as
pessoas pensam e se
comportam é
estimulante.
Em que cidade você
mora?
Moro em Campinas
desde 1997.
Se você tivesse que
ser outra pessoa,
quem escolheria ser
e por quê?
Eu mesma,
enriquecida por
tantas pessoas que
admiro e que podem
me agregar muito.
Que personalidade
famosa você gostaria
de atender? Conte o
porquê.
Dilma Rousseff, para
ajudá-la a manter a
competência com
menos estresse e
mais serenidade.
Com quais pessoas
você passa mais
tempo na sua semana?
Clientes, marido e
amigas.
Você tem animal de
estimação?
Não tenho animal de
estimação, prefiro
admirá-los no
habitat natural.
Nas horas vagas...
Encontro bons
momentos em família,
gastronomia,
viagens, religião e
com os amigos.
Livro ou filme
favorito
Recentemente fui
assistir ao filme
"Quarteto" e me
impressionei com o
conteúdo, música e
paisagens. "Os 7
hábitos das pessoas
altamente eficazes"
de Stephen Covey,
está entre meus
livros favoritos.
|
Século 21, um
paraíso da paz
A evolução de um
mundo menos hostil
Em aguardada edição
brasileira,
psicólogo
evolucionista
sustenta que a
humanidade se
encontra num dos
períodos de menor
violência de toda a
sua história. Autor
sublinha o embate
entre as tendências
que nos levam à
agressividade, como
a vingança e o
sadismo, e as que
nos afastam dela,
como a razão e a
empatia.
O livro mais recente
do pesquisador, "Os
Anjos Bons da Nossa
Natureza" [trad.
Bernardo Joffily e
Laura Teixeira
Motta, Companhia das
Letras,188 págs., R$
74,50], acaba de
chegar ao Brasil, e
usa uma enorme massa
interdisciplinar de
dados para
argumentar que,
perto de qualquer
outro momento da
história humana
-inclusive o "estado
de natureza"
supostamente idílico
dos
caçadores-coletores
ancestrais-, o
século 21 é um
paraíso de paz. Até
o terrorismo já
passou de seu auge,
que teria sido nos
anos 1970.
|
“O conceito de
monogamia vem
mudando com o
tempo”
Para a psicóloga
belga Esther
Perel, um bom
casamento
precisa ter
espaço para o
indivíduo.
O conceito de
fidelidade e
monogamia está
mudando. Essa é
a teoria
sustentada por
Esther Perel,
psicóloga belga
radicada nos
EUA. As traições
atuais, segundo
ela, têm pouca
relação com
frustrações no
casamento – e,
sim, com
questões
individuais.
“Parte das
motivações que
levam uma pessoa
a ter um caso
fora do
casamento não é
proveniente de
ausências em
casa. Às vezes,
sim. Mas, na
maioria das
vezes, um caso
tem mais a ver
com a descoberta
de outras partes
de nós mesmos”,
afirmou a
terapeuta, em
conversa com a
coluna por
telefone, de
Nova York.
Autora do livro
Sexo no
Cativeiro e uma
das vozes mais
respeitadas na
área de terapia
conjugal do
mundo, Esther
teve,
recentemente,
uma de suas
conferências –
parte do
TEDxTalks –
vista por mais
de 1 milhão de
espectadores. Em
sua palestra,
explica a
contradição
entre amor e
desejo e os
muitos desafios
dos casais
contemporâneos,
entre eles a
junção de duas
necessidades
paradoxais que
buscam no outro:
a segurança e a
aventura.
“Atualmente, o
casamento, como
um
empreendimento
romântico,
tornou-se
consagrado. É
como pedir a uma
pessoa que lhe
dê o que toda
uma comunidade
costumava
fornecer. É um
nível irreal de
expectativa”,
explica.
A psicóloga
afirma que é,
sim, possível
manter no
casamento tanto
o desejo quanto
a segurança –
desde que seja
cultivada uma
certa
“distância”
entre os
parceiros.
Abaixo, os
principais
trechos da
entrevista.
Na sua
conferência,
você faz a
diferenciação
entre amor e
desejo. Como
funciona isso
nos casais
contemporâneos?
Esther Perel:
Acho que um dos
desafios mais
interessantes
dos casais é o
desejo de reunir
duas
necessidades
fundamentais
humanas – que,
historicamente,
não caminhavam
juntas. Pelo
menos, não nos
relacionamentos
conjugais. É
como se
afirmássemos que
um “casamento
apaixonado” é
uma contradição
em si. O
casamento,
antigamente, era
um contrato de
companhia para a
vida familiar,
para a
reprodução,
apoio
financeiro,
status social.
Entretanto,
atualmente,
queremos que a
pessoa com quem
nos casamos seja
nosso melhor
amigo,
confidente e
também nosso
amante
apaixonado.
É muito para um
parceiro.
Esther Perel:
Não é fácil para
o casal.
Trouxemos o amor
para o
casamento, e
esse acordo
romântico está
cada vez mais
centrado na
confiança,
intimidade e
afeição. Daí
acrescentamos
sexualidade a
essa porção de
amor.
Sexualidade não
como questão de
reprodução, mas
como força
enraizada na
ligação com o
prazer. É a
sexualidade que
vem do desejo,
não da
obrigação. Temos
hoje um
casamento que
precisa ter
amor,
sexualidade e o
desejo de
felicidade.
Mas amor e
desejo são
realmente
contraditórios?
Esther Perel:
Convivemos com a
ideia de que, se
amamos,
desejamos. No
entanto, as
forças que
alimentam o amor
– que têm a ver
com proteção,
responsabilidade,
mutualidade –
não são
necessariamente
as mesmas que
alimentam o
desejo. O desejo
nunca é
alimentado pela
responsabilidade
ou pela
necessidade de
proteção. São
duas
experiências
distintas.
Relaciono a
experiência do
amor com a
segurança. E o
desejo com a
aventura. Sempre
digo que amar
caminha com o
verbo “ter”, e
desejar, com o
verbo “querer”.
E assim, a
questão sempre
se torna: “Você
pode querer o
que já tem?”
É difícil de
responder.
Esther Perel: Na
verdade, você
nunca possui o
seu parceiro. É
apenas um
“empréstimo”,
com a
possibilidade de
ser sempre
renovado.
Entretanto, é
muito difícil
tolerar essa
ansiedade.
Quando você ama,
vive com o medo
do amor. É uma
forma
existencial. A
incerteza faz
parte do amor,
mas o fato é que
nós não gostamos
da ideia de que
é necessário um
mínimo de
imprevisibilidade.
Apenas o
bastante para
que exista um
espaço para a
novidade, a
surpresa, o
mistério.
Por isso a
senhora defende
uma mudança de
percepção do que
é considerado
casamento?
Esther Perel: Na
minha pesquisa,
indagando às
pessoas sobre
quando elas se
sentiam mais
atraídas pelos
parceiros,
ninguém
respondeu
“quando olhamos
nos olhos a
cinco
centímetros um
do outro”. As
pessoas
respondem: “Eu
me sinto atraído
pelo meu
parceiro quando
estamos longe”.
Isso significa
que a imaginação
precisa ter
espaço para
acontecer.
Muitas situações
descritas como
de atração
representam
momentos em que
o parceiro está
sozinho, como,
por exemplo,
tocando algum
instrumento,
apaixonado por
algo, seduzindo
outros.
Acha que a
atração está
relacionada com
admirar o outro?
Esther Perel:
Acho que o
desejo pode
nascer dessa
observação do
outro. A
sensação de
confiança,
suficiência,
quando meu
parceiro está em
seu mundo.
Quando ele não
precisa de mim.
Assim, não sou
responsável, não
estou protegendo
e posso admirar.
E posso
desejá-lo.
A senhora afirma
que, para o
casamento
sobreviver, é
necessário
existir uma
distância.
Esther Perel:
Sim. Precisa de
espaço. Mas,
para isso, é
preciso estar
confortável com
o fato de ele
não estar perto
de mim, me
protegendo.
Preciso ficar
tranquila que
ele esteja
falando com
outras pessoas.
Preciso ser
capaz de
permitir que ele
cresça. E isso é
difícil. Em um
casal, sempre
tem um que
precisa de mais
espaço e outro,
de mais
proteção.
Acredita que os
filmes
produzidos por
Hollywood
contribuem para
que o
amor/casamento
seja muito
idealizado?
Esther Perel:
Hollywood apenas
reflete o que as
pessoas querem.
Atualmente, o
casamento, como
empreendimento
romântico,
tornou-se
consagrado. É
como pedir a uma
pessoa que lhe
dê o que toda
uma comunidade
costumava
fornecer. É um
nível irreal de
expectativas.
É daí que nasce
o divórcio?
Esther Perel: O
divórcio é a
expressão do
verdadeiro
idealismo. As
pessoas não
pensam que
escolheram o
modelo errado;
acreditam, sim,
que erraram na
pessoa. E o
modelo
representa a
expectativa de
que o parceiro
forneça todas as
necessidades de
segurança e de
empolgação.
E como se
resolve essa
contradição tão
complicada?
Esther Perel: Eu
sempre digo que
não é um
problema que
você resolve: é
um paradoxo que
você gerencia.
E quanto à
infidelidade? É
um grande
desafio, certo?
Esther Perel:
Ah, sim.
Historicamente
condenada e
universalmente
praticada
(risos).
Quais são as
maiores queixas
que a senhora
ouve?
Esther Perel: É
o que chamo de
“infidelidade
moderna”.
Trata-se de uma
visão geral, em
um mundo
igualitário, de
que a
infidelidade
representa um
problema no
casamento. Ou
seja, um bom
casamento não
tem
infidelidade. Se
você tem tudo em
casa, não existe
necessidade de
procurar fora.
Mas não acredito
nisso.
Então, quais são
as verdadeiras
razões modernas
para a
infidelidade?
Esther Perel: Na
maioria das
vezes, um caso
fora do
casamento – não
estou falando
apenas de sexo –
tem mais a ver
com a descoberta
de outras partes
de nós mesmos.
As pessoas não
procuram outros
parceiros,
procuram um
outro “eu”.
Buscam a
possibilidade de
serem
diferentes, de
se conectarem
com outras
partes de si
mesmas. Em um
casamento de 20
anos, existe uma
estabilidade que
permite pouco
uma renovação
pessoal.
Quais são os
maiores
desafios? Esse
pensamento pode
ser muito
narcisista, não?
Esther Perel: A
fidelidade tem,
hoje, um
significado bem
diferente do que
tinha
antigamente. Era
uma imposição às
mulheres.
Representava
patrimônio, e a
infidelidade era
um privilégio
dos homens. As
mulheres infiéis
podiam ser
apedrejadas. O
romantismo mudou
isso. A
fidelidade,
hoje, é um sinal
de amor. É parte
do culto sagrado
do ideal
romântico. Nunca
precisamos tanto
da fidelidade
como hoje. Aí
existe outro
paradoxo: nessa
sociedade
individualista,
dependemos muito
de uma única
pessoa, mas
também estamos
tentados a
satisfazer
nossos desejos
pessoais.
Acredita em
fidelidade?
Esther Perel:
Claro. A
monogamia é um
exercício, uma
escolha. E
também está
mudando de
significado, o
conceito vem
mudando com o
tempo. Era
exclusividade
sexual. Hoje, as
pessoas
questionam isso.
Você está
traindo quando
pensa em outros?
Começa na mente?
A monogamia é um
compromisso
emocional? Essa
é uma boa
questão. As
pessoas podem
ser fiéis
sexualmente e
trair
emocionalmente.
E em relação a
casamentos e
relacionamentos
abertos?
Esther Perel:
Através da
história, o
significado da
sexualidade e as
fronteiras
sexuais mudam.
Assim, para
entender os
relacionamentos
abertos, é
preciso entender
que as pessoas,
hoje, estão
negociando
limites.
Mas a traição
não é uma forma
de ter tudo?
Esther Perel: A
infidelidade é
um mecanismo
interessante.
Porque quem trai
não desiste da
segurança. Joga
dos dois lados.
Possui o
entusiasmo, o
perigo de perder
tudo, mas não
deixa o
casamento
realmente.
Falando de
gêneros, na sua
opinião, todos
esses paradoxos
são diferentes
para homens e
para mulheres?
Esther Perel: Em
todos os níveis.
Sociopolítico,
socioeconômico e
biológico.
Vivemos com
hormônios
diferentes.
Vivemos com
órgãos
distintos.
Através da
história, todas
as sociedades
tentam controlar
a sexualidade. E
os
“regulamentos”
para os homens
são diferentes
dos das
mulheres. O que
eu observo é que
muitas mulheres
são igualitárias
até o nascimento
do primeiro
filho. Daí, elas
percebem que sua
história não é
tão diferente da
de suas mães e
avós. O desafio
dos homens –
criados para
serem
autossuficientes
– é experimentar
a intimidade. E
o desafio das
mulheres – que
são criadas para
serem mais
relacionadas – é
experimentar sua
independência.
Em uma
conferência
recente, a
senhora leu uma
carta que Obama
escreveu para
Michelle como
exemplo de uma
relação que sabe
cultivar esse
espaço. Acha que
o casal Obama
representa um
modelo?
Esther Perel:
Obama falou
sobre isso, e o
poeta Rilke
também. Da
necessidade de
ver o outro com
maturidade,
diferença,
distância. É um
mistério que
você pensa
conhecer, mas
você sabe que
nunca vai
conhecer.
É muito difícil
manter isso em
um casamento?
Esther Perel:
Para algumas
pessoas, sim.
Por isso eu digo
que não é um
problema que
você resolve,
mas, sim, um
paradoxo que
você gerencia. E
nem todo mundo
quer viver com a
tensão que é
exigida pelo
erotismo. Porque
vem com o que é
mais oculto,
misterioso e
transgressivo. A
paixão anda
junto com a
quantidade de
incerteza que
você consegue
tolerar.
Matéria de
Marília
Neustein,
originalmente
publicada no
jornal O Estado
de S. Paulo, em
08 de abril de
2013. Caderno 2,
página D2.
|
Pinker é um otimista
sem ser crente
HÉLIO SCHWARTSMAN,
colunista da Folha
de S. Paulo
"Ó tempos, ó
costumes". Não foi
Cícero quem inventou
a mania de lamentar
a corrupção e a
decadência, mas ele
foi particularmente
feliz ao cunhar a
expressão "o tempora,
o mores", que traduz
com primor essa
propensão humana.
Somos otimistas
locais e pessimistas
globais. A maioria
das pessoas se julga
um pouco melhor e
mais esperta que a
média da humanidade,
mas não hesitamos
nem um instante em
catalogar o mundo
como um lugar
caótico e ameaçador
que piora a cada dia
que passa.
É claro que essa
visão não resiste a
uma análise
empírica. Num dos
livros mais
importantes da
década, Steven
Pinker demole o mito
recorrente de que o
ser humano é uma
espécie violenta e
de que as guerras e
massacres que
produzimos em escala
industrial nos
levarão de forma
inexorável à
extinção.
Em "Os Anjos
Bons...", o autor
mostra que o mundo
está se tornando um
lugar cada vez mais
seguro para viver, e
a raça humana se
mostra cada vez
menos violenta.
Pinker tem noção de
que a tese encerra
algo de polêmico e
por isso dedica boa
parte do livro a
demonstrar com
sofisticadas
análises
estatísticas como as
taxas de violência
estão caindo.
Considerando os
números absolutos, o
século 20, com duas
guerras mundiais e
um punhado de
genocidas, se torna
imbatível - 180
milhões de mortes em
conflitos e
massacres. Essa
cifra corresponde a
mais ou menos 3% do
total de óbitos
registrados ao longo
do século. Mas, se
nos fixarmos nas
proporções, até os
mais sanguinários
tiranos perdem para
nossos ancestrais
que viviam em
sociedades sem
Estado.
Evidências
arqueológicas
recolhidas de
dezenas de sítios
que datam de 14000
a.C. a 1770 d.C.
revelam que as taxas
de mortalidade em
conflitos podiam
chegar a
inacreditáveis 60%,
como é o caso dos
índios Creek ao
longo do século 14.
A mortalidade média
verificada nesses
sítios foi de 15%.
O grande mérito do
livro, porém, não
está na numeralha,
mas nas análises de
Pinker que tentam
explicar o fenômeno.
O autor identifica
seis tendências
históricas que
contribuíram para
reduzir a violência.
A mais antiga é a
que ele chama de
"processo
pacificador", que
teve início quando
passamos a viver em
cidades. Até por não
toparmos mais a todo
instante com bandos
rivais, as taxas de
violência caíram
cinco vezes.
Inspirado em Norbert
Elias, Pinker chama
o segundo passo de
"processo
civilizador". Ele
teve lugar com o
surgimento dos
Estados
centralizados
europeus, que
reservaram para si o
monopólio do uso da
violência. O
resultado foi uma
redução da violência
da ordem de 10 a 50
vezes. É claro que,
uma vez criadas, a
repressão e as
forças da ordem
passaram a ser elas
próprias a principal
fonte de violência.
A terceira
tendência, a
"revolução
humanitária",
desponta com o
Iluminismo e os
movimentos que
buscavam eliminar
chagas velhas e
novas da humanidade,
como a escravidão, a
tortura judicial, o
despotismo, a
intolerância
religiosa.
O quarto elemento é
a "longa paz". Aqui,
Pinker retoma as
ideias de Immanuel
Kant, que apontava
as virtudes
pacificadoras da
democracia, do
comércio e de
organismos
multilaterais. Ora,
foi justamente esse
"blend" que o mundo
passou a
experimentar em
doses cada vez
maiores a partir da
2ª Guerra.
Em quinto lugar vem
a "nova paz",
instalada após a
queda do Muro de
Berlim. De lá para
cá, verifica-se que
diminuiu o número de
genocídios, ataques
terroristas e ondas
de repressão que de
algum modo eram
alimentados pela
Guerra Fria.
Por fim, temos o que
Pinker chama de
"revoluções dos
direitos". A partir
de 1948, com a
Declaração Universal
dos Direitos do
Homem, começaram a
pipocar movimentos
com o objetivo de
combater agressões a
grupos específicos.
Situações como a do
pastor Marco
Feliciano e
discussões em torno
de cotas e casamento
gay dão a dimensão
de como esses temas
ainda causam
polêmica. O
politicamente
correto (PC)
desponta aqui como
um efeito colateral
de um movimento
civilizador. É claro
que devemos combater
os muitos exageros
do PC, mas seria um
erro classificá-lo
entre as 10 pragas
do Egito.
DEMÔNIOS E ANJOS
Pinker dedica alguns
capítulos a
destrinchar a
psicologia da
violência. Em
resumo, contamos com
cinco demônios
internos que
respondem pela maior
parte das agressões:
predação (violência
com vistas a atingir
um fim), dominância
(desejo de obter
prestígio), vingança
(propensão a reparar
injustiças), sadismo
(o mal pelo mal, mas
este é um fenômeno
bem raro) e a
ideologia (criar a
sociedade perfeita
ou concretizar os
desejos de Deus).
Contrapõem-se a
esses demônios
quatro anjos, isto
é, os mecanismos que
nos permitem
resistir à violência
e nos colocam na
rota da cooperação:
empatia,
autocontrole, senso
moral e razão.
Pinker acaba se
revelando um
otimista, mas de
modo algum um
crente. Ele tem
claro que os cinco
demônios estão
sempre à espreita e
podem atacar a
qualquer instante.
Nossa espécie é
violenta. Hobbes
tinha razão. Mas, ao
lado dos demônios,
temos os anjos e, se
medirmos as coisas
na escala da
história e não na
das sensações e
machetes dos
jornais, a conclusão
inescapável é a de
que estamos fazendo
um bom trabalho. O
mundo de hoje é, sob
quase todos os
aspectos, melhor que
o de nossos
ancestrais.
Texto publicado
originalmente no
jornal Folha de S.
Paulo, em 07 de
abril de 2013,
caderno
Ilustríssima, página
7.
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