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Volume 57 - 16/04/12
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Skinner fala muito do ambiente ou mais
precisamente da \"relação\" do homem com o ambiente, ambiente é tudo
aquilo que afeta o sujeito. Como a Análise do Comportamento trata a
questão social, existem poucos trabalhos publicados, dessa área que
com a consolidação do SUAS vem sendo, depois do SUS o segmento de
maior atuação do psicólogo, como por exemplo no CRAS.
O
leitor corretamente indica em sua pergunta que a definição de
ambiente em análise do comportamento refere-se a tudo aquilo que
é externo à resposta (e não necessariamente ao organismo) e que
com ela estabelece relação de dependência. Quando se trata de
comportamento social, Skinner (1953, p. 326) o define como “o
comportamento de duas ou mais pessoas em relação uma a outra ou
em conjunto em relação ao ambiente comum”. Tal definição implica
em que a emissão e/ou reforçamento do comportamento de um
organismo depende, pelo menos parcialmente, do comportamento de
outros organismos.
Em relação em como a Análise do Comportamento trata a questão
social HOLPERT (2004) desenvolve uma revisão de literatura para
estudar as publicações a respeito de como os analistas do
comportamento entendem as questões sociais. E o aspecto
fundamental para compreender a sociedade baseado na Análise do
Comportamento é a noção de seleção por consequências em três
níveis, assim como proposto por Skinner. Pois desde cedo em suas
obras abordou o interesse em compreender e solucionar as
questões sociais, tais como em: “Walden Two” (1948/1972),
“Ciência e Comportamento Humano” (1953/1998), “O Mito da
Liberdade” (1971/1992), “Sobre o Behaviorismo” (1974/1997),
“Reflections on Behaviorism and Society” (1978) e “Upon Further
Reflection” (1987).
Por exemplo, em “O Mito da Liberdade” Skinner discorre sobre a
importância de uma ciência do comportamento no que diz respeito
aos problemas sociais como a fome, educação, superpopulação e
até a possibilidade de um holocausto nuclear.
Em “Reflections on Behaviorism and Society”, ele discute sobre a
aplicação dos princípios derivados da Análise Experimental do
Comportamento, como uma possibilidade para solucionar os
problemas de crime e analfabetismo e a desigualdade social. Para
isso, ele sugeriu a substituição de controle aversivo por
reforços positivos, preferir reforçadores naturais ao invés de
condicionados, a diminuição de reforços incontingentes, como
também a preferência por comportamentos governados por
consequências ao invés de comportamentos governados por regras.
Em “Upon Further Reflection” (1987) ele relaciona alguns
comportamentos da sociedade moderna com os estados denominados
como depressão e apatia. Ainda descreve esses comportamentos,
que seriam predominantemente a alienação do trabalhador com
relação ao produto de seu trabalho, a institucionalização das
regras sociais por meio do governo e de religiões, a
predominância dos reforçadores condicionados e incontingentes
que trariam como resultados a separação os valores reforçadores
e prazerosos das consequências.
Entretanto, Andery (1990 apud HOLPERT, 2004) apresentou uma
análise que focaliza as múltiplas relações entre as propostas de
Skinner para a sociedade e as propostas para a Análise do
Comportamento. Para o desenvolvimento deste trabalho ela
realizou sucessivas leituras dos textos de Skinner e então
tentou encontrar neste material, características conceituais,
metodológicas e epistemológicas. Chegou a resultados que, para
Skinner, um dos fatores que estabelecem a sociedade um objeto de
estudo é o fato de compreender esta como um fenômeno geral ou
uma classe de fenômenos, assim como o comportamento operante.
Dessa maneira, optou-se pelo estudo do grupo, como
correspondente de um critério natural, já que o homem enquanto
espécie vive em grupo e depende dele para sua sobrevivência.
Para este trabalho a unidade de estudo buscada por Skinner,
pode-se acreditar estar no texto intitulado como “Seleção por
Consequências, 1987a”, onde ele explicita a forma como a seleção
por consequências determina as características da espécie (nível
1), o comportamento individual (nível 2) e as práticas culturais
(nível 3).
Portanto, Skinner, compreende o comportamento humano como
resultado da interação dos três níveis de seleção por
consequências.
Sigrid Glenn também se importa com os estudos das questões
sociais (1985; 1986; 1988; 1989; 1991) e propõe o conceito de
metacontingências para estudar dois níveis distintos de análise:
um individual e um social. E este conceito veio a contribuir
para a compreensão do homem e da sociedade a partir da noção de
seleção por consequências proposta por Skinner. Andery e Sério
(1997 apud HOLPERT, 2004) estudou a contribuição deste conceito
para compreender as relações funcionais que excedem o modelo de
contingência de reforço. E escreve que os analisas do
comportamento tem a tarefa de superar as contradições entre a
sobrevivência do indivíduo e a sobrevivência da cultura e desta
forma superar a predominância do reforço imediato. Andery (1990
apud HOLPERT, 2004) também descreveu que para Skinner o papel de
uma ciência do comportamento em relação à sociedade, seria essa
superação. A autora ainda ressalta que Skinner não mantinha como
objetivo final a ciência do comportamento, mas a como esta
ciência contribuiria como instrumento para previsão e controle
do comportamento humano, de maneira a solucionar os problemas
enfrentados pela sociedade.
Otero (2002 apud HOLPERT, 2004) também estudou sobre o tema,
analisando 405 artigos publicados nos periódicos “Behaviorists
for Social Action Jounal” (1978-1984), Behavior Analysis and
Social Action (1986-1990), Behavior and Social Issues
(1991-2001) e Journal of Applied Behavior Analysis (1968-2001).
E concluiu que os analistas do comportamento tem atuado junto as
questões sociais. Porém, verificou-se uma cisão dentro da área,
que pode ser percebida pelo fato dos autores não costumarem
alterar suas publicações entre os periódicos. A autora, também
cita que acredita que o rigor metodológicos do JABA dificulta a
entrada dos analistas do comportamento em novas áreas.
O Centro de Referência da Assistência Social – CRAS está ligado
ao Sistema Único da Assistência Social – SUAS e presta serviços
de proteção social básica. “O serviço fundamental ofertado pelo
CRAS é o Programa de Atenção Integral às Famílias - PAIF, que
consiste em um trabalho que visa fortalecer os vínculos
familiares e comunitários e prevenção de ruptura destes
vínculos, bem como promover acesso aos direitos e melhoria da
qualidade de vida” (Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome).
Sendo o comportamento humano, de acordo com a visão behaviorista
radical, produto de contingências de reforçamento, todos os
indivíduos que são encaminhados para o CRAS também devem ser
acolhidos e suas queixas compreendidas por meio deste mesmo
modelo. Entretanto, Guerin (1992) corretamente aponta que,
embora a contingência de reforçamento seja o principio básico
para a análise do comportamento social e aos analistas do
comportamento não seja exigido um novo conjunto de princípios
para a análise dos fenômenos sociais, é importante o
reconhecimento das propriedades especiais destes fenômenos.
Skinner em 1953 identificou propriedades especiais das
contingências sociais, que são: características especiais do
ambiente social, eventos que podem ter a função de reforço
social, estímulos antecedentes sociais, elementos que constituem
contingências entrelaçadas, comportamento verbal relacionado às
contingências entrelaçadas e os contextos de estudos dos
fenômenos sociais.
Sobre as contingências entrelaçadas, Glenn (1988, p. 167)
descreve são aquelas “nas quais o comportamento e os produtos
comportamentais de cada participante funcionam como eventos
ambientais com os quais o comportamento de outros indivíduos
interage”. Para compreensão deste nível de análise cultural,
Glenn (1988, 1991) propõe o conceito de metacontingências,
definindo-o como uma unidade de análise que engloba todas as
variações de uma prática cultural e o produto agregado de todas
as variações atuais. Embora de fato sejam escassos os estudos
envolvendo a aplicação da análise do comportamento no CRAS ou em
outros âmbitos do SUAS, muitos artigos hoje estão disponíveis a
respeito do conceito e do estudo das metacontingências e
questões sociais e podem servir de referência para atuação e
produção de conhecimento dos psicólogos da área.
Referências Bibliográficas:
Glenn, S. S. (1991). Contingencies and metacontingencies:
Relations among behavioral, cultural, and biological evolution.
Em P. A. Lamal (Orgs), Behavioral analysis of societies and
cultural practices. New York, NY: Hemisphere.
Glenn, S. S. (1988). Contingencies and metacontingencies: Toward
a synthesis of behavior analysis and cultural materialism. The
Behavior Analyst, 11, 161-179.
Guerin, B. (1992). Social behavior as discriminative stimulus
and consequence in social Anthropology. The Behavior Analyst,
15, 31-41.
Holpert, E. C. Questões sociais na Análise do Comportamento
Artigos do Behavior and Social Issues (1991-2000). Revista
Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva. 2004, Vol. VI,
nº1, 001-016.
Skinner, B.F. (1953). Science and human behavior. New York, NY:
Macmillan.
http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/protecaobasica/cras/centro-de-referencia-de-assistencia-social-cras
Raquel Zacharias Duarte
CRP: 06/89050
Especialista em Terapia de Contingências de Reforçamento Consultório em Americana/SP
Educadora Social - Centro de
Referência da Assistência Social - CRAS - Iracemápolis/SP
Uma criança de 8 anos com queixa escolar e familiar de TDAH, perpetuando comportamento opositor, recebe 'sugestão' de mudar de escola. A família pela primeira vez consulta uma psicóloga, apesar dos apelos da escola desde a alfabetização. Também negam-se a avaliação psiquiátrica, pois não admitem a possibilidade de medicação. A psicóloga deve conversar com a nova escola antes do início da aula, ou esperar o registro das primeiras possíveis queixas? (Adja Maria Silveira, Psicóloga, Manaus – AM)
TDAH vem sendo um diagnóstico muito usado (e, em muitos casos, de modo exagerado) para crianças difíceis, com dificuldades de atenção, e que perturbam a disciplina em sala de aula. Por isso, deve-se fazer um diagnóstico diferencial adequado.
Os pais em questão têm dificuldade em aceitar o diagnóstico e
iniciar a medicação. Minha sugestão é que fosse feito um
planejamento de procedimentos para controle comportamental da
criança e desenvolvimento de repertórios mais adequados para o
ambiente acadêmico e, para isto, os princípios da análise do
comportamento nos dão subsídios importantes e eficazes. Para tal, é
preciso envolver tanto a família como a escola nestes procedimentos
para que os comportamentos desenvolvidos em terapia possam ser
reproduzidos em outros ambientes.
É essencial realizar uma analise funcional dos comportamentos ditos
próprios do TDAH, ou seja, buscar registros e observações em sessão
sobre os antecedentes do comportamento e suas consequências.
Portanto, quais estímulos antecedentes podem estar servindo de
ocasião para emissão do comportamento problema, e quais as
consequências que estes comportamentos produzem no ambiente da
criança, que os vem mantendo em frequência e intensidade. Para a
Análise do Comportamento, os excessos comportamentais de uma criança
diagnosticada com TDAH foram instalados, assim como qualquer outro
comportamento, ou seja, foram selecionados e mantidos por suas
consequências.
A análise das contingências em operação se faz essencial para a
compreensão dos comportamentos da criança. Feito isso, o terapeuta é
capaz de manejar tais contingências, colocando a criança sob
controle de estímulos específicos e alterando as consequências do
comportamento e, ainda, ensinar, instrumentalizar a criança e
produzir reforçadores por meio de comportamentos alternativos mais
adequados e funcionais.
O mesmo deve ser feito em relação ao ambiente escolar. Deve-se fazer
uma vasta investigação sobre o relacionamento da criança com a
escola. Uma criança com diagnóstico de TDAH tende, por seus excessos
comportamentais, a chamar mais atenção das professoras que outras
crianças; muitos professores colocam colegas de turma para ajudar a
criança a se concentrar e fazer tarefas juntos. Todas estas
consequências acabam por ser reforçadoras para o comportamento da
criança, na forma de atenção e afeto de seus pares, levando, por
fim, à seleção dos comportamentos disruptivos em sala de aula.
Os pais devem ser envolvidos no processo e nos procedimentos a serem
adotados, uma vez que são ambiente para a manutenção dos
comportamentos inadequados do filho. Os pais devem compreender as
relações entre os três termos da tríplice contingência, pois somente
assim podemos aumentar a probabilidade de sucesso e engajamento
deles.
Creio ser pertinente o contato com a escola, uma vez que esta terá
de se envolver no processo terapêutico, ou seja, o psicólogo deve
instruir professores e monitores no manejo comportamental da
criança. O psicólogo pode ir até a instituição e dar modelos de como
se comportar perante comportamentos disruptivos da criança em
questão. Instrumentalizar a escola é o melhor caminho para proteger
a criança.
Valéria Cristina Santos Menzzano
CRP:06/82618
Especialista em Terapia por Contingências de Reforçamento - ITCR
- Campinas
Frase da Vez
" Tome iniciativas.
Assuma responsabilidades; não delegue para o outro o que lhe
compete".
(Hélio Guilhardi)
ANUNCIO
Falta pouco mais de um mês para o I CONGRESSO BRASILEIRO DE TERAPIA POR CONTINGÊNCIAS DE REFORÇAMENTO – 18 E
19 DE MAIO DE 2012
Informações:
www.congressobrasileirotcr.com.br
Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento
Rua Josefina Sarmento, 395, Cambuí - Campinas - SP
Fones: (19) 3294-1960/ 3294-8544
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