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Volume 56 - 16/03/12

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Qual a atuação do Analista do Comportamento em situação hospitalar? (Mariana Polli, estudante de Psicologia, Campinas – SP)
 

Na instituição hospitalar, o psicólogo pode desempenhar uma série de funções a depender da demanda do hospital, ou seja, qual o público atendido, se é um hospital especializado (hemodiálise, hospital para tratamento de câncer) ou hospital geral (Pronto Socorro, Santa Casa), e em qual setor do hospital (ambulatório, Internação, Centro Cirúrgico) o psicólogo irá atuar. Para cada situação, o profissional deverá avaliar e identificar os excessos e déficits comportamentais do paciente e de sua família, além de manter o contato direto com a equipe interdisciplinar para discussão de casos e orientações.
 

Se pensarmos num hospital psiquiátrico, o psicólogo irá atuar em interconsulta com o psiquiatra e juntos determinarão as condutas a serem adotadas com cada paciente. O psicólogo pode ter atuação direta na orientação da família, sobre como manejar as contingências de reforçamento em operação na vida do paciente psiquiátrico, depois de realizada uma análise funcional de cada comportamento a ser trabalhado. Muitos hospitais psiquiátricos também trabalham na reinserção social de seus pacientes, promovendo oficinas de trabalhos, cursos profissionalizantes, realizados nos CAPSI da cidade, entre outros, nos quais o psicólogo também está inserido.
 

Em um hospital no qual a demanda são doenças cardiológicas, por exemplo, o psicólogo a princípio pode acolher, escutar as dificuldades do paciente e auxiliá-lo na adaptação à situação e na adesão ao tratamento. Posteriormente, prepará-lo para cirurgia cardiológica, ou seja, informar cada passo do processo para o paciente e estar pronto a consequenciar adequadamente as respostas do cliente a tal relato verbal do terapeuta; por isso a importância da relação próxima com os médicos. O psicólogo deve ter conhecimentos sobre as cirurgias e os cuidados pós-operatórios, assim como lidar com a família, identificar o familiar mais adequado para receber as orientações e rotinas hospitalares. Além disso, pode ser realizado um trabalho de orientação com o paciente sobre os novos repertórios a serem desenvolvidos pós tratamento hospitalar, tais como, alimentação, exercício físico, ajudar a organizar uma rotina, entre outros. Tal acompanhamento pode se manter após a alta hospitalar.
 

Vou ilustrar sua questão descrevendo a minha atuação num hospital especializado em cirurgia plástica craniofacial. A demanda do hospital é o atendimento de crianças portadoras de deformidades craniofaciais que necessitam de cirurgias reparadoras e acompanhamento multidisciplinar, entre eles, psicológico, fonoterápico e odontológico. O psicólogo atua no acolhimento da família, identificando o funcionamento desta em relação à aceitação desta criança, se tem condições de arcar com cuidados pós-cirúrgicos, como os pais manejam as contingências de reforçamento dos comportamos da criança. O psicólogo, quando necessário, pode participar das consultas médicas para auxiliar as famílias a tirarem suas dúvidas, ou mesmo para manejar as contingências para que a criança permita um exame médico. Quando da programação cirúrgica, é realizada com a criança a preparação pré cirurgia, que consiste no desenvolvimento de repertórios adequados para realização da cirurgia, tais como, a melhor forma e se comportar no centro cirúrgico, estar informada sobre cada procedimento que irá ser realizado e como deve se comportar para que dê certo, como por exemplo, colocação do acesso intravenoso; comportamentos colaborativos com a equipe (colocar as vestimentas adequadas, inalar a sedação, não chorar). A criança é acompanhada pelo psicólogo no dia da cirurgia, desde a internação até o centro cirúrgico, até que seja sedada. Neste caso, o psicólogo está inserido na equipe interdisciplinar na internação, no centro cirúrgico e nos atendimentos clínicos ambulatoriais.
 

 

Valéria Cristina Santos Menzzano
CRP: 06/82618
Especialista em Terapia por Contingências de Reforçamento - ITCR - Campinas
 

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Na edição 02 do JSV, Ana Carolina Guerios Felício traz um artigo intitulado "A psicoterapia é mais do que conversar?" e cita Skinner (1974, p.31), "o autoconhecimento é de origem social. Só quando o mundo privado de uma pessoa se torna importante para as demais é que ele se torna importante para ela própria." Não compreendi esta última frase. Gostaria de algo mais respeito sobre isso e mais artigo falando sobre o AUTOCONHECIMENTO na Análise do Comportamento e dentro da TCR. (Sidinei Rolim, Psicólogo, Jundiaí – SP). 
 

        Compreender o que Skinner define como autoconhecimento nem sempre é uma tarefa fácil, pois requer que consideremos tal fenômeno de maneira diferente do que somos geralmente ensinados. Desde pequenos, é comum ouvirmos das pessoas, quando falam do autoconhecimento, que se trata de algo interno ao indivíduo e que é, frequentemente, causa de determinados comportamentos.

O behaviorismo proposto por Skinner rompe com esse tipo de abordagem. Para Skinner, o autoconhecimento envolve a capacidade do indivíduo de discriminar seu comportamento, reconhecendo suas variáveis de controle e também sendo capaz de falar sobre elas. Isso tudo depende de uma aprendizagem. Mas como acontece essa aprendizagem? Ela se dá por meio da atuação de outras pessoas, membros de uma mesma comunidade verbal. Essa comunidade vai modelando um repertório verbal autodescritivo, à medida que tem acesso a comportamentos manifestos do outro. No entanto, grande parte dos eventos envolvidos no autoconhecimento são encobertos, dificultando que a comunidade verbal tenha uma atuação precisa. Assim, ensinar um indivíduo a discriminar entre cores é bem distinto de ensiná-lo a discriminar sentimentos. Nesse caso, a comunidade verbal recorre a correlatos públicos de eventos encobertos, como por exemplo, dizer a uma criança que ela está feliz quando está se divertindo e dando risada. Como a comunidade verbal é a responsável pela modelagem do repertório de discriminação de comportamentos, variáveis de controle e relato dos mesmos, Skinner afirma que o autoconhecimento tem origem social. Assim, comportamentos são produtos de contingências ambientais, enquanto que o relato do comportamento ou de suas causas é produto de contingências verbais específicas arranjadas por uma comunidade verbal.

Mas qual o interesse da comunidade verbal em desenvolver autoconhecimento em um individuo, em torná-lo capaz de descrever eventos públicos e, em especial, encobertos? Para Skinner, inicialmente o autoconhecimento é útil para a comunidade, pois aumenta a previsibilidade de comportamentos que o outro pode emitir, ou seja, saber o que o outro sente (por meio do relato) ajuda a comunidade a prever como aquele indivíduo tem maior probabilidade de se comportar, baseando-se em seu relato. Assim, em primeira instância, o mundo privado do outro é importante para a sociedade. Num segundo momento, ele torna-se importante para o indivíduo: saber relatar sobre eventos encobertos a terceiros aumenta a probabilidade de reforçamento, pois o comportamento de descrever eventos encobertos é reforçado quando o indivíduo consegue o que quer mediado pela comunidade verbal.

Concluindo, a importância da comunidade verbal para o desenvolvimento do autoconhecimento nas pessoas é de tamanha importância que aquilo que uma pessoa é capaz de dizer sobre si mesma, bem como a maneira como o faz, muda de acordo com diferentes práticas culturais. Isso porque cada comunidade verbal modela o relato sobre si mesmo de acordo com o que é mais relevante para tal comunidade.

Há vários textos e livros muito interessantes sobre autoconhecimento. Levando em consideração a qualidade e facilidade de acesso a eles, recomendo as seguintes referências:

 

    Brandenburg, O. J. & Weber, L. N. D. (2005). Autoconhecimento e liberdade no behaviorismo radical. Psico-USF, 10(1), 87-92.

    De Rose, J. C. (1982). Consciência e Propósito no Behaviorismo Radical. In Prado Jr., B. (Org.). Filosofia e comportamento. São Paulo, Brasiliense, 67-91.

    Guilhardi, H. J. (2010). A metamorfose de narciso e o autoconhecimento – um ensaio. Disponível em: http://www.terapiaporcontingencias.com.br/txt/ametamorfose.pdf.

   Marçal, J. V. S. (2003). O autoconhecimento no behaviorismo radical de Skinner, na filosofia de Gilbert Ryle e suas diferenças com a filosofia tradicional apoiada no senso comum. Universitas Ciências da Saúde, 2(1), 101-109.

Skinner, B. F. (1982). Sobre o behaviorismo. São Paulo: Cultrix.

 

Isabela Zaine
Psicóloga (UFSCar); Especialista em Terapia por Contingências de
Reforçamento (ITCR); Mestre em Psicologia (UFSCar); Doutoranda do Programa de
Pós Graduação em Psicologia (UFSCar).
 

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Frase da Vez

" Não seja ambíguo nas interações com o outro, seja direto e claro. Fale o que pensa, expresse seus sentimentos genuínos, atue da maneira que considera correta, admita explicitamente suas limitações, reconheça com honestidade seus erros." (Hélio Guilhardi)

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