Diálogo com a comunidade - Jornal Sinal Verde

um canal de comunicação com a comunidade

Volume 45 - 18/10/10

Edições Anteriores



IMPRIMIR


Perguntas dos leitores:

Tire suas dúvidas. Mande-nos sua pergunta!
Este é um espaço para vc fazer perguntas, esclarecer suas dúvidas e curiosidades. Mande sua pergunta para nós!

Envie sua pergunta: clique aqui

Jornal - Sinal Verde
Há teorias genéticas que dizem que gêmeos idênticos, separados ao nascer, na vida adulta apresentam comportamentos muito semelhantes. É o que defende o psicólogo norte americano Steven Pinker em seu livro Tabula Rasa. Gostaria de saber qual a posição da análise experimental do comportamento sobre isso. (pergunta enviada por Ivan Dorvain - estudante de Medicina -Campinas - SP)

Gêmeos idênticos possuem o mesmo genoma, ou seja, possuem características genéticas idênticas. Para a análise do comportamento, a genética de um organismo se relaciona com os seus comportamentos, porém não é suficiente para explicar as ações de um indivíduo. Os organismos são selecionados, de acordo com a teoria darwiniana, com comportamentos próprios da espécie, os quais são semelhantes para todos os organismos dessa espécie. Todos os demais comportamentos são produtos da interação entre organismo e ambiente e, como tal, são sempre distintos. Assim, não há duas pessoas iguais comportamentalmente, mesmo que tenham o mesmo genótipo. Os comportamentos não surgem espontaneamente e, ao contrário disso, são selecionados a partir da relação organismo-ambiente. Os aspectos relacionados à genética do organismo são aspectos relevantes, porém a história de vida (passada e presente) e o contexto cultural no qual o indivíduo está inserido também são variáveis importantes que devem ser consideradas na análise dos comportamentos do indivíduo. No caso de gêmeos idênticos que foram separados ao nascer, a genética é a única variável idêntica nos dois organismos. Como foram separados ao nascer, pode-se pressupor que os gêmeos foram inseridos em ambientes distintos que proporcionaram histórias de vidas e contextos culturais diferentes para ambos. Assim, se os gêmeos que foram separados apresentam comportamentos semelhantes (afirmação altamente duvidosa, por sinal) isso não se deve exclusivamente aos aspectos genéticos. O analista do comportamento, nesse caso, deve compreender as variáveis ambientais na vida dos indivíduos, que favoreceram a emissão dos comportamentos. Cabe perguntar como se define comportamentos semelhantes e quais são tais comportamentos semelhantes. Os comportamentos dos gêmeos, mesmo semelhantes na sua forma, podem estar sendo controlados por variáveis diferentes, ou seja, podem ter funções distintas: comportamentos semelhantes quanto à forma podem ser diferentes quanto à função. Assim, o sorriso de um pai pode ser semelhante ao sorriso de um político em campanha, mas são sorrisos com funções e significados totalmente diferentes entre si. Portanto, é necessário analisar as contingências da vida de cada gêmeo para assim tornar-se possível a explicação do comportamento de ambos. É importante ressaltar que mesmo que os gêmeos tivessem vivido em ambientes semelhantes (mesma família, escola etc) a forma de cada um se relacionar com o ambiente seria distinta e a explicação dos comportamentos de ambos depende das particularidades das contingências produzidas na interação de cada um deles com o ambiente.


Michelle Girade Pavarino

Marisa Richartz
CRP: 08/15002
Cursando Especialização em Terapia por Contingências de Reforçamento - ITCR - Campinas/SP

Jornal - Sinal Verde
Eu gostaria de saber sobre comportamentos de sexo virtual entre homens e mulheres e por que isso fica cada vez mais freqüente no mundo digital? (pergunta enviada por Maria de Fátima Fachetti - estudante de Psicologia -Vitória - ES)

A questão proposta trouxe à discussão um tema atual e interessante: sexo virtual e as fontes de controle dessa resposta. Em decorrência da escassez de pesquisas acerca do tema na literatura, até o momento, o que trarei para a análise são hipóteses formuladas a partir de como a Análise do Comportamento entende o comportamento humano (e não afirmações categóricas).

Como analistas do comportamento, buscamos compreender como são estabelecidas relações funcionais entre comportamento e eventos ambientais, ou seja, como as contingências de reforçamento atuais e passadas atuam na manutenção de determinados comportamentos, na elevação ou diminuição da sua frequência. Nesse sentido, sabemos que cada indivíduo apresenta uma história de contingências única e exclusiva, sendo necessário analisar caso a caso as múltiplas fontes de controle do comportamento.

A pergunta em si já traz uma dica acerca das contingências em questão. Se a frequência da resposta se eleva, o processo que ocorre é o reforçamento. Sendo assim, o sexo virtual, por algumas razões, tem sido reforçado. Quais seriam essas razões?

Uma primeira possibilidade seria o reforçamento positivo. Consequências reforçadoras imediatas são apresentadas quando se emite um conjunto de respostas que poderíamos denominar de sexo virtual. A imediaticidade da apresentação do reforço poderia ser uma maneira de se explicar o por quê de a pessoa fazer sexo mediado pelo computador e não o sexo "ao vivo". Outra possibilidade quanto à preferência desse tipo de sexo seria a atuação de operações estabelecedoras, como a privação, que acentuaria o valor do reforçador. Neste caso, poderíamos pensar em um casal em que o marido viaja bastante a trabalho, e o casal fica privado de sexo. O sexo virtual seria emitido em decorrência de não ser possível o contato face-a-face e teria sua probabilidade de ocorrer elevada devido ao estado de privação.

Há que se atentar ainda para o reforçamento negativo. A classe de respostas 'fazer sexo virtual' poderia envolver, por exemplo, comportamentos de esquiva de situações sociais. Pessoas com baixo repertório de habilidades sociais e, principalmente, no que se refere ao 'cortejo' (iniciar e manter conversação, dar uma cantada, elogiar, iniciar contato sexual) poderiam encontrar no sexo virtual uma saída para não se expor a possíveis contingências aversivas. Outra possibilidade seria a de pessoas em cuja história de contingências de reforçamento o sexo adquiriu função aversiva. O sexo virtual, nesse caso, adquiriria a função de esquiva de um contato sexual direto.

Caberia ainda analisar quais as consequências da prática do sexo virtual na vida do indivíduo. Para tal, há que se verificar se o acesso a reforçadores sexuais é garantido exclusivamente através do sexo virtual ou se há outras formas de acesso, basicamente, sexo praticado em interações pessoais diretas, incluindo várias de suas manifestações (sexo com penetração, sexo apenas com manipulação manual etc.). A prevalência quase exclusiva de uma única forma de praticar o ato sexual, com exclusão de formas alternativas ou complementares, poderia indicar problemas na área sexual. Se o sexo virtual se insere dentro de uma gama abrangente de diferentes atividades, não há razões para preocupação. Ou seja, quando é a única forma de acesso a reforçadores sexuais, havendo um excesso dessa resposta e um déficit de outras respostas importantes no repertório do indivíduo, a prática do sexo virtual pode produzir isolamento, egoísmo, baixa sensibilidade ao outro. Aliás, como a prática do sexo virtual exige um baixo custo de resposta, se ocorre em excesso, há o desenvolvimento de um repertório comportamental limitado. Por outro lado, pode ser uma prática saudável quando há uma variabilidade comportamental no que concerne ao sexo. Este seria o caso do exemplo fornecido, do casal que possui boa relação sexual e pratica o sexo virtual quando o marido está em viagem.

Em conclusão, o sexo virtual deve ser analisado como qualquer outro comportamento no tocante a buscarmos descobrir os eventos ambientais que o controlam e realizar análise funcional. Isto nos ajudará a descobrir que tipo de consequências poderá trazer para a vida do indivíduo.

Não considerei nesta resposta os aspectos afetivos envolvidos na prática sexual, pois tais considerações merecem uma análise em si mesmas.

Carina Paiva Charpinel

Carina Paiva Charpinel
CRP: 16/2633
Cursando a Especialização em Terapia por Contingências de Reforçamento - ITCR - Campinas-SP
Atua em consultório particular em Vitória - ES

Jornal - Sinal Verde
ABERTAS AS INSCRIÇÕES PARA A TURMA 2011 DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA CLÍNICA COMPORTAMENTAL - TERAPIA POR CONTINGÊNCIAS DE REFORÇAMENTO (Presencial ou On-Line).

Informações: http://www.terapiaporcontingencias.com.br/cursos

Jornal - Sinal Verde
Frase da Vez

Comprometa-se profundamente com a verdade. Assim se produzem sentimentos de liberdade, não importam as contingências.

(Hélio José Guilhardi)

Jornal - Sinal Verde
Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento

Rua Josefina Sarmento, 395, Cambuí - Campinas - SP
Fones: (19) 3294-1960/ 3294-8544
Clique aqui para entrar em contato

Página Inicial | Edições Anteriores | Voltar | Subir | Fechar

Jornal - Sinal Verde