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Volume 40 - 25/03/10
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Guilhardi fala que as pessoas aprendem a sentir. No que diz respeito a auto-estima, autoconfiança e responsabilidade, quais seriam as contingências necessárias para a aprendizagem?(pergunta enviada pela estudante de psicologia Maria Aparecida - Betim - MG)
Os sentimentos são manifestações corporais associados a eventos ambientais; assim, as pessoas aprendem a denominar os sentimentos a partir da sua comunidade social e verbal, que contribui para a nomeação, e consequente discriminação, de tais estados corporais.
Comportamentos e sentimentos são produzidos por contingências de reforçamento. Sendo assim, sentimentos como auto-estima, autoconfiança e responsabilidade são desenvolvidos a partir de contingências de reforçamento específicas. Guilhardi apresenta uma descrição de tais contingências para os sentimentos aqui listados. Segue abaixo essa diferenciação:
A auto-estima é produto de contingências de reforçamento positivo de origem social. O mais importante em relação ao desenvolvimento desse sentimento é a ênfase, por parte do outro, no reconhecimento (através de elogios, atenção, carinho) pela pessoa que emitiu determinado comportamento, e não exclusiva e especificamente pelo comportamento em si. Assim, é fundamental que tais conseqüências reforçadoras, ao lado de serem produzidas por comportamentos (consequências contingentes), sejam também apresentadas não contingentemente, isto é, sejam proporcionadas independentemente do comportamento emitido pela pessoa (desde que não temporalmente associadas a comportamentos danosos - para o indivíduo ou para o grupo social). Por exemplo: uma mãe combinou com seu filho um passeio após o jantar. Durante o jantar, porém, o filho não comeu a salada, mesmo diante da insistência da mãe. Independentemente deste comportamento emitido pelo filho, a mãe realiza o passeio com ele, uma vez que o filho é merecedor, independentemente de outros comportamentos que apresentou.
Já os sentimentos de autoconfiança são desenvolvidos através de contingências de reforçamento (positivo/negativo) não sociais; ou seja, o indivíduo pode produzir sentimentos de autoconfiança quando emite um comportamento bem sucedido (obtém consequências naturais da própria atividade), não dependendo, assim, de que o outro o reforce. Esses comportamentos podem envolver contingências de reforçamento positivo, quando produzem reforçadores positivos; ou negativo, quando removem consequências aversivas. No entanto, o contexto social no qual o indivíduo está inserido apresenta um papel importante no aparecimento desse sentimento, na medida em que pode criar condições favoráveis no ambiente para que o comportamento seja emitido e reforçado, assim como permitir e incentivar a exploração do ambiente. Por exemplo, uma criança, na praia, ao acabar de pegar uma onda. Ela chega à areia e diz: "Essa foi muito boa!". Provavelmente, alguém a ensinou a subir na prancha, a se equilibrar etc., até que, sozinha, ela conseguiu emitir o comportamento desejado.
Por fim, o sentimento de responsabilidade ocorre quando estão em operação contingências coercitivas, ou seja, quando contingências aversivas, sociais e naturais, como de reforçamento negativo ou de punição, estão presentes. A história de contato com contingências coercitivas amenas favorece o desenvolvimento de responsabilidade, uma vez que o indivíduo aprende que é necessário emitir alguns comportamentos para evitar ou escapar de conseqüências aversivas (por exemplo, ao arrumar seu quarto, a criança aprende que não leva bronca da mãe. Assim, passa a emitir com maior freqüência esse comportamento e pode generalizar tal aprendizagem para outras condições aversivas). É desejável que comportamentos responsáveis sejam também consequenciados por eventos reforçadores positivos. Assim também - e de uma maneira mais construtiva - se instalam padrões de comportamentos e se produzem sentimentos responsáveis.
Camila Magnet
CRP: 06/78746
Especialista em Psicologia Clínica - Terapia por Contingências de Reforçamento. Atua no Instituto de Análise de Comportamento - Campinas - SP
Como a análise do comportamento compreende questões como alucinação/delírio? (pergunta enviada ao Jornal Sinal Verde pela estudante de psicologia Marla)
Inicialmente, gostaria de fazer uma apropriada distinção entre a alucinação/delírio segundo os modelos médico e comportamental. O primeiro modelo busca classificar as pessoas que apresentam certos tipos de comportamento dentro de determinada patologia. Os critérios utilizados são encontrados nas publicações da Associação Psiquiátrica Americana (APA) e da Organização Mundial da Saúde (CID). Esses sistemas classificatórios são, tão somente, uma descrição topográfica de respostas e de suas freqüências na vida da pessoa. A Análise do Comportamento adota o modelo darwinista, o qual se baseia na seleção de respostas (comportamentos) através de suas conseqüências e, portanto, não discute as manifestações comportamentais em termos de normal e patológico. Nós, analistas do comportamento, procuramos entender as relações comportamentais estabelecidas no ambiente no qual a pessoa está inserida e na história de contingências a que foi exposta, e mais importante do que a descrição topográfica das respostas, procuramos entender a função que tais respostas apresentam no meio ambiente da pessoa. Esta postura não exclui o papel de fatores genéticos, biológicos, bioquímicos e neurológicos, e neste caso a serem avaliados e influenciados por ações médicas.
Para aprofundarmos na questão de como a Análise do Comportamento compreende questões como alucinações e delírios, sugiro a seguinte reflexão: alucinações e delírios sã comportamentos (e não necessariamente ocorrem apenas em organismos não intactos), como tal, precisamos primeiramente buscar na história de aprendizagem do indivíduo os determinantes que expliquem um repertório comportamental rotulado como "inadequado" pelo grupo social próximo da pessoa que está sendo avaliada. É necessária definição empírica de como se aprendem os conteúdos do repertório comportamental inadequado e quais as conseqüências que tais comportamentos produzem para estabelecermos a função das respostas selecionadas. Segundo Staats (1996), os repertórios comportamentais podem ser ricos ou escassos, adaptados ou inapropriados e repertórios inadequados e deficitários produzem problemas. Contingências ambientais atuais inadequadas podem produzir, também, repertórios inadequados ou déficits comportamentais.
No livro, Sobre o Behaviorismo (1974), Skinner afirma que "...uma pessoa vê uma coisa como alguma outra coisa quando a probabilidade de ver esta é grande e o controle exercido por aquela é pequeno"pg.72. Ou seja, podemos considerar que para se ver determinada coisa, uma pessoa sofreu influências de uma história de reforçamento específica que a leva ver e até ouvir na ausência do objeto visto ou ouvido. E neste caso, para a emissão desta resposta, a pessoa estaria sob controle de um estímulo não presente. Certamente a pessoa aprendeu a observar, em determinadas contingências e experiências passadas, o que seu comportamento produziu ao ver e ouvir, como por exemplo atenção, afeto, destaque social etc
De acordo com Ferster, Culbertson e Boren (1979) muitos dos sintomas que trazem uma pessoa à terapia são repertórios inadequados positivamente reforçados; a disposição em empenhar-se em comportamentos problema parece forte quando comparada com os repertórios fracos existentes; mas que poderiam desaparecer assim que fossem emitidos formas alternativas e eficazes em ambientes sensíveis aos novos padrões (mais funcionais) de comportamento.
Sendo assim, dependendo do meio, podemos concluir que se os comportamentos operantes adaptados forem adequadamente reforçados então, comportamentos "bizarros" (alucinações e delírios) poderão ser substituídos. Concluindo, os comportamentos alucinatórios e delirantes não possuem uma natureza especial, diferente da natureza de quaisquer outros comportamentos, tampouco são regidos por leis particulares: as leis comportamentais se aplicam a todos comportamentos.
Tatiana Lance Duarte
CRP:06/64105
Especialista em Terapia por Contingências de Reforçamento - ITCR Campinas
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Frase da Vez
Propostas para construir um mundo melhor geralmente são rejeitadas como irremediavelmente utópicas ou como ameaças ao status quo. (...) Cidadãos, fiéis e funcionários contribuirão mais com suas respectivas agências quando as consequências aversivas forem substituídas por alternativas que agradem e fortaleçam.
(Skinner, 1987, Upon Further Reflection, p.29)
Cine ITCR - Exibição e Análise de filmes
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