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Volume 22 - 14/11/08

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Queria saber sua opinião sobre como o analista funcional trabalha em ambiente prisional, pois é um campo em que há poucos trabalhos, principalmente aqui no Brasil (pergunta enviada pelo estudante de psicologia Paulo - Salvador - Bahia)

Desde que os princípios do condicionamento operante foram elaborados, no final dos anos 30, nos EUA, por Skinner (1953), ocorreu uma gradual expansão do uso do condicionamento operante para diversos contextos humanos, tais como hospitais psiquiátricos, escolas, fábricas, reformatórios e prisões. Mais recentemente, nos anos 70, várias iniciativas fizeram uso de técnicas de modificação do comportamento em instituições correcionais, as quais iam do uso de economia de fichas a benefícios contingentes a comportamentos socialmente "adequados" do sentenciado. De maneira geral, quase todos os programas de manejo de contingências de reforçamento, elaborados por analistas do comportamento, envolviam o uso de reforçadores positivos e os sentenciados poderiam escolher participar ou não do programa na condição de voluntário. Uma vez engajados no programa de manejo de contingências, o cumprimento da pena não dependia apenas do transcorrer do tempo; o cumprimento da pena era contingente aos comportamentos (socialmente "adequados" ou não) do sentenciado.

Na época, várias entidades de direitos civis entraram na Justiça contra as instituições penais que faziam uso desses procedimentos comportamentais, por considerá-los nocivos para seus voluntários. Para alguns, a atmosfera coercitiva de uma prisão impossibilitaria a liberdade de escolha necessária para que os sentenciados decidissem participar ou não dos programas de manejo de contingências (Geiser, 1977). Alegavam que tais programas se baseavam no controle coercitivo resultando em "lavagem cerebral". Após muita incompreensão e luta judicial, os programas de manejo de contingências de reforçamento não foram mais usados nos EUA, embora, na época, os analistas do comportamento tenham introduzido contingências construtivas, capazes de aumentar as chances de reabilitação de seus sentenciados, e a maioria dos programas de manejo de contingências tenha tido sucesso em sua curta existência (Geiser, 1977).

No Brasil, os programas de manejo de contingências, com base em reforços positivos, nunca foram usados em estabelecimentos prisionais. O mais próximo disso talvez sejam algumas tentativas isoladas do uso de economia de fichas em hospitais psiquiátricos. A atuação do analista comportamental em contextos prisionais é muito restrita. Em grande parte, pode atuar junto a organizações não governamentais ou fundações de amparo ao preso que, em geral, administram as escolas do presídio e promovem cursos de alfabetização e de formação de mão-de-obra, tais como pintor, pedreiro, azulejista, encanador, entre outros. Outro campo de atuação é como psicólogo da própria instituição penal. Lá, o psicólogo, analista do comportamento ou não, irá conduzir entrevistas para avaliar o grau de periculosidade do sentenciado e emitirá laudos que, somados aos laudos do juiz e do diretor da instituição penal, promoverão, ou não, a progressão de regime (mudança do regime fechado para semi-aberto ou condicional) do sentenciado. Além disso, o psicólogo deve promover sessões em grupo ou individuais para que os sentenciados, prestes a ganhar a liberdade, possam expressar e discutir seus temores, expectativas e anseios e, ao mesmo tempo, o psicólogo deve instalar repertórios e prepará-los para possíveis dificuldades da vida em liberdade.

O analista do comportamento é, sem dúvida, o profissional mais capacitado para atuar em contextos como reformatórios, hospitais psiquiátricos e prisões. Entretanto, no nosso contexto, não tem ocupado tais postos.

Uma análise das contingências de reforçamento de natureza social se faz necessária para entendermos o fracasso das iniciativas de manejo de contingências em estabelecimentos prisionais nos EUA e a quase inexistência de iniciativas similares no Brasil. Os conceitos de comportamento tecnológico e cerimonial elaborados por Glenn (1985) são análises nesse sentido.

Para Glenn (1985), o comportamento tecnológico produz mudanças com utilidade e valor para a pessoa que se comporta e para a cultura e se mantém em função dessas conseqüências. O comportamento cerimonial é comportamento mantido por reforçadores sociais (Ellis, 1991). Glenn (1986) destaca que o comportamento cerimonial é comportamento mantido por reforçadores sociais que têm a origem de seu poder da posição ou autoridade do agente reforçador, sem qualquer relação com mudanças no ambiente, que de maneira direta ou indireta beneficiem a pessoa que se comporta. Nesse sentido, é arbitrário.


Maurício Tauil Martins

Maurício Tauil Martins
CRP: 06/68184
Especialista em Análise e Síntese Comportamentais em Contextos Terapêuticos - UFScar

Jornal - Sinal Verde
Qual a explicação da Teoria Comportamental para a Síndrome do Pânico? (Pergunta enviada ao Jornal Sinal Verde)

O Transtorno de Pânico, de acordo com o DSM-IV, é caracterizado essencialmente pela presença de Ataques de Pânico recorrentes e inesperados, seguidos por pelo menos um mês de preocupação persistente acerca de ter um outro Ataque de Pânico, preocupação acerca das possíveis implicações ou conseqüências dos Ataques de Pânico, ou uma alteração comportamental significativa relacionada aos ataques. Um Ataque de Pânico inesperado (espontâneo, não evocado) é definido como aquele que não está associado a um ativador situacional (isto é, ocorre "vindo do nada"). Pelo menos dois Ataques de Pânico inesperados são necessários para o diagnóstico, mas a maioria dos indivíduos relata um número consideravelmente maior deles.

Na Teoria Comportamental, não nos preocupamos em classificar o cliente de acordo com o DSM-IV ou CID-10. Preocupamos-nos com a função dos comportamentos e sentimentos e nos importa como eles são mantidos, para podermos alterá-los. Segundo Guilhardi (ver texto "Controle Coercitivo e Ansiedade: um caso de 'Transtorno de Pânico' tratado pela Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR)", que se encontra no site www.terapiaporcontingencias.com.br), "o que o analista do comportamento faz o tempo todo é identificar os eventos-ambiente e eventos-organismo para relacioná-los e sistematizá-los como uma interação que inclui pelo menos os três termos da tríplice contingência: antecedente - ação - conseqüente. Depois procura alterar as contingências, até produzir mudanças funcionalmente significativas nos comportamentos e estadas corporais da pessoa, reduzindo ou eliminando conseqüências aversivas e maximizando conseqüências reforçadoras positivas".

O episódio de pânico pode surgir após uma situação traumática (assalto, seqüestro etc.). Neste caso, embora haja sensação de desamparo (a pessoa avalia que não há nada que possa fazer no momento para minimizar ou evitar as reações fisiológicas assustadoras), ela, pelo menos, localiza o fator desencadeador da crise. Há, porém, reações de pânico que podem surgir durante o sono, por exemplo, descartando as circunstâncias ambientais imediatas como fatores determinantes da crise (Seria ela desencadeada por alguma doença? pergunta-se a pessoa). Ou a crise pode mesmo ocorrer em situações de lazer - num restaurante, num cinema, por exemplo - o que leva a pessoa a pensar que a origem do problema não deve ser psicológica (afinal, pensaria ela, eu estava "numa boa" e mesmo assim...). É inevitável concluir-se que a crise só pode estar sendo produzida por algum problema orgânico, alguma doença grave e que há perigo iminente de morte.

Depois que um estímulo adquiriu função aversiva, por associação com os ataques de pânico ("Se eu for ao cinema ou ao restaurante, lá terei a crise"; "Tenho medo de dormir sozinha"; "Não me atrevo mais a sair de casa" etc.), através de um processo de generalização ou por relações de equivalência, novos estímulos podem desencadear uma série de respostas operantes (comportamentos) e respondentes (estados corporais) de ansiedade e, a partir daí, a pessoa passa a sentir medo de ter medo nos mais diferentes ambientes. Assim, pode ter os mesmos sintomas em um lugar fechado, em um ambiente escuro, em locais afastados de casa, quando está sozinha etc. E as conseqüências das crises de pânico as mantêm através de um controle operante de reforçamento positivo (receber atenção e cuidados de pessoas importantes etc.) e negativo (esquivar-se de responsabilidades etc.).

O pânico envolve um grau intenso de ansiedade. Compreender o funcionamento do paradigma de ansiedade pode ajudar a pessoa a lidar com o que ocorre com ela. O paradigma mencionado, em geral, envolve um sinal pré-aversivo, o qual é seguido por um evento aversivo inescapável, uma vez que não há uma resposta que possa ser emitida para eliminá-lo ou adia-lo. A ansiedade pode ser amenizada ou eliminada se for possível emitir um comportamento que impeça o aparecimento dos eventos pré-aversivo ou aversivo. Em geral, a pessoa não sabe emitir tal resposta funcionalmente adequada ou emite uma resposta supersticiosa, ou seja, aquela que aparenta ser eficiente, mas na realidade não é.

A pessoa pode, ainda, emitir respostas alternativas que aliviam ou amenizam a crise de ansiedade, reforçando comportamentos de fuga-esquiva inadequados (pois não resolvem o problema, apenas o amenizam), mas que não removem os componentes respondentes da ansiedade, uma vez que, após algum tempo, a "ameaça" reaparece.

Quando a pessoa está sob controle da ansiedade, há uma redução na eficiência comportamental. Mas, se ela tem um bom repertório de comportamentos que lhe permitam eliminar e/ou adiar o estímulo aversivo, ela conseguirá emitir comportamentos mais apropriados e que não lhe causam danos ou prejuízos (parar de trabalhar, se esquivar de contato social etc.).

O tratamento medicamentoso se faz necessário, pois os episódios de ansiedade são intensos. O remédio amenizará os estados corporais do cliente, mas somente com o processo psicoterapeutico ele aprenderá como controlar a ansiedade e a emitir comportamentos que a reduzem.

Orientação a familiares também se faz necessária, pois, muitas vezes, eles mantêm o transtorno, dando atenção, carinho, cuidados, permitindo que o cliente não cumpra suas obrigações, eximindo-o de suas responsabilidades etc.


Simone Kathiúscia Fernandes Vilas Bôas

Simone Kathiúscia Fernandes Vilas Bôas
CRP: 06/77577
Especialista em Terapia por Contingências de Reforçamento - ITCR Campinas

Jornal - Sinal Verde
Abertas as inscrições para a Turma 2009 do Curso de Especialização em Psicologia Clínica: Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR)

Informações:www.terapiaporcontingencias.com.br

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PARA PENSAR

Esse é o nome da nova seção do site ITCR - Terapia por Contingencias de Reforçamento.Clique aqui para maiores informações

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"Não trabalhamos com comportamentos e sentimentos, mas com as contingências de reforçamento que os produzem."

(Hélio J. Guilhardi)

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Nova Programação no ITCR:

Cine ITCR - Exibição e Análise de filmes
A lula e a baleia - Dia 18/11/2008, às 20h.
Inscrições no site: http://www.terapiaporcontingencias.com.br/eventos.php

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Encontros para Pais de Crianças em Idade Escolar

Informações no site: www.terapiaporcontingencias.com.br

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Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento

Rua Josefina Sarmento, 395, Cambuí - Campinas - SP
Fones: (19) 3294-1960/ 3294-8544
Clique aqui para entrar em contato

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