Atividade: Estudos de Casos Clínicos
O SOFRIMENTO PELA PERDA DO FILHO: AFETO OU CONTROLE? - UM ESTUDO DE CASO EM TCR
TATIANA LANCE DUARTE
ITCR - Campinas
Mônica (51), ensino médio, dona-de-casa e pastora, era casada há 28 anos com Getúlio (49), militar e pastor. A cliente teve três filhos: Júlia (30), Jonathan (29) e David (27). Júlia e Jonathan eram filhos do primeiro casamento de Mônica e David, filho do segundo casamento. Getúlio, marido de Mônica, procurou psicoterapia para encaminhar a esposa dizendo que há sete anos Jonathan falecera em acidente de carro e Mônica estava em crise novamente. Queixa inicial de Mônica: “Depois que eu perdi meu filho, eu nunca mais fiquei bem. Dói meu corpo, pernas e cabeça. Não consigo conversar com ninguém sobre isso. Não confio nas pessoas. Já fiz terapia antes mas acabo desistindo, ninguém me entende e eu não gosto de falar disso. Só de pensar, eu choro muito [silêncio e choro]”. A partir dessa verbalização, a psicoterapeuta ficou sob controle do sofrimento e desamparo de Mônica em relação à perda do filho Jonathan e discriminou que a relação psicoterapêutica a ser construída nesse novo processo seria determinante para o prognóstico do caso. Iniciada as sessões, os relatos da cliente eram permeados de verbalizações com conteúdo de sofrimento, alternados por falas duras e autoritárias. No processo psicoterapêutico, foram identificados o desejo e tentativas de Mônica em se recuperar emocionalmente da perda do filho. Além disso, seu casamento e a relação com os dois outros filhos não eram reforçadoras para a cliente, pois ela queixava-se de muita incompreensão e falta de diálogo por parte deles. Mônica relatava com muita frequência sobre a saudade de Jonathan e a falta que este fazia na sua vida. A psicoterapeuta solicitou a Mônica a descrição de tais interações e as dificuldades da cliente ficaram evidentes: ela não conseguia estabelecer uma comunicação afetiva e assertiva com o marido e nem com os filhos, que discriminavam e verbalizavam que o Jonathan era o “filho queridinho” e que “ela não tinha amor para mais ninguém”. “Eles dizem que eu gostava mais do Jô, mas ele era o que me entendia e sempre conversava comigo. Ele me entendia, pensava como eu. Pedia minha opinião e sempre era carinhoso comigo. Eu falava tudo o que eu queria para ele e ele me ouvia.” Com as verbalizações de Mônica, foi possível identificar que ela demonstrava ser uma pessoa agressiva verbalmente; emitia comportamentos com a função de controlar os filhos e o marido; tinha dificuldades de relacionamento interpessoal na igreja; apresentava baixa tolerância à frustração e rejeitava opiniões que divergiam de suas autorregras. Objetivos: 1. estabelecer vínculo psicoterapêutico; 2. descrever os comportamentos emitidos por ela e as funções que tinham para o marido e os filhos; 3. identificar os sentimentos existentes nas interações com os filhos e o marido; 4. tornar-se sensível aos efeitos aversivos que seus comportamentos exerciam sobre o marido e os filhos; 5. explicitar as regras que governavam seus comportamentos; 6. desenvolver repertório de comportamentos com função reforçadora positiva na relação com o marido e os filhos; 7. instalar repertórios de sensibilidade ao outro e 8. analisar a resistência às intervenções da psicoterapeuta. Alguns resultados já podem ser evidenciados mesmo considerando ser este um processo psicoterapêutico com pouco de tempo de intervenção (02 meses): a comunicação tornou-se mais assertiva entre psicoterapeuta e cliente, evidenciaram-se verbalizações da cliente dizendo: “Me incomoda um pouco ter essa personalidade forte, gostaria de ser mais leve sim” e houve um reconhecimento por parte da cliente de que se comportava como uma pessoa agressiva, direta e dura com os filhos e com o marido. No entanto, para atingir tais resultados, a psicoterapeuta precisou intervir sempre de modo cauteloso e gradual e, ainda assim, durante as sessões, Mônica questionava sua real necessidade de mudar e expressava descontentamentos com algumas as análises da psicoterapeuta dizendo: “Não sei se esse jeito mais ameno é melhor mesmo, pois o Jô me aceitava como eu sou. Ele me entendia”. “Eu sou estressada sim, mas cada um tem seu jeito de ser”. “Eu tenho que mudar, e os outros?”. Cabe acrescentar que o processo psicoterapêutico continua em andamento e Mônica ainda precisa reconhecer o valor reforçador que exercer controle sobre sua família tem para si, tornando-se insensível às funções aversivas que tais controles têm para os familiares. Daí, decorre a necessidade de instalar novos repertórios de interações sociais e afetivos no contexto familiar. Tarefa desafiadora para psicoterapeuta, uma vez que o repertório agressivo vem sendo mantido por reforçamento negativo pelos familiares e, possivelmente, na sua função de pastora. A relação com Jô, parece ser mais propriamente um comportamento de fuga-esquiva fantasioso das interações interpessoais presentes.
Palavras-Chave: Controle Coercitivo; Insensibilidade ao outro; Vínculo Psicoterapêutico e Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR).