Atividade: Estudos de Casos Clínicos

 

DESAFIOS NO ATENDIMENTO DE UM CASAL: O PAPEL DE CONTINGÊNCIAS FAMILIARES NA TERAPIA POR CONTINGÊNCIAS DE REFORÇAMENTO (TCR)

 

MARIA ISABEL DE ALBUQUERQUE CAVALCANTI

ITCR Campinas

Sandra e Sergio, ambos com 50 anos no início do atendimento, buscaram psicoterapia por indicação da psicoterapeuta de sua filha Beatriz (18). Beatriz havia sido diagnosticada com esquizofrenia por um psiquiatra três anos antes e os clientes não conseguiam lidar com a doença da filha ou seguir as instruções dadas pelos profissionais. As principais queixas trazidas por Sandra diziam respeito à dificuldade de lidar com os comportamentos indesejados do filho Rodrigo (13): agressividade, insensibilidade ao outro e recorrentes brigas com a irmã. Em relação ao marido, queixou-se de sua apatia. Ele quase não trabalhava, recebia muito pouco e era dependente financeiramente do pai que, por ajudá-lo, sentia-se no direito de interferir na dinâmica da família. Queixou-se também dos comportamentos agressivos do marido. Sergio, por sua vez, queixou-se de desânimo, falta de vontade de fazer as coisas, incontrolabilidade de seus “impulsos agressivos”. Relatou sentir-se excluído da vida familiar e ter vontade de sumir. Foram identificadas, ao longo do processo de psicoterapia, as seguintes dificuldades comportamentais, produzidas e mantidas por Contingências de Reforçamento (CR) coercitivas e de punição: agressividade por parte de todos os membros da família; incapacidade de serem assertivos; dificuldade em manter comportamentos previamente discutidos e acordados e traçar objetivos alcançáveis; déficit de comportamentos socialmente habilidosos; déficit no repertório de amar e lidar com contingências de reforçamento amenas, aliado a uma inabilidade para se organizar e conseguir fazer atividades com possível função reforçadora. Os objetivos principais da psicoterapia foram: construir um repertório de autoconhecimento; aumentar a discriminação de contingências coercitivas; diminuir a agressividade generalizada, aumentando em contrapartida a emissão de comportamentos assertivos; aumentar o respeito entre os membros da família e a empregada, única fonte de carinho e atenção mas que não consequenciava comportamentos inadequados e oferecia reforço livre,  e aumentar o acesso de todos a reforçadores positivos. Foram empregados os seguintes procedimentos: instrução verbal, reforçamento diferencial de comportamentos desejados, fading, modelação e treino comportamental. O processo psicoterapêutico foi parcialmente efetivo: os clientes passaram a lidar um pouco melhor uns com os outros, assim como com os filhos, os pais de Sergio e a empregada; também aceitaram o encaminhamento do filho ao atendimento psicoterápico, mudaram Rodrigo para uma escola com mais regras e melhor qualidade de ensino e conseguiram promover independência por parte do filho. Infelizmente, em função da descoberta de um câncer, Sandra não voltou aos atendimentos no início do ano seguinte. A psicoterapeuta manteve o contato por email, whatsapp, e telefone e fez uma visita domiciliar à Sandra. Sergio continuou vindo quinzenalmente às sessões.

 

Palavras-chave: Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR); atendimento de casal, contingências coercitivas, escassez de reforçadores.