Atividade: Sessão Coordenada
TERAPIA POR CONTINGÊNCIAS DE REFORÇAMENTO (TCR) PARA O “ENVELHE-SER": IDENTIFICAÇÃO DE REFORÇADORES, DESENVOLVIMENTO DE AUTOCONHECIMENTO E ADAPTAÇÃO A NOVAS CONTINGÊNCIAS DE REFORÇAMENTO
MARÍLIA ZAMPIERI
ITCR - Campinas
Luiza (58) era solteira, sem filhos, e buscou psicoterapia após uma consulta com o médico psiquiatra. O profissional não medicou a cliente e a encaminhou para o processo psicoterapêutico. A queixa apresentada por Luiza foi de estar "emocionalmente abalada" após perda dos pais, dos quais era a cuidadora principal. Além disso, a cliente mencionou ter dificuldades para lidar com "a questão de envelhecer". Ao conhecer a história de Contingências de Reforçamento (CR) da cliente e também as CR do presente, foi possível identificar que a cliente havia passado por uma perda de importantes fontes de reforçadores: com o processo de doença de seus pais, Luiza havia se aposentado para cuidar deles e, após o falecimento do pai, mudou-se de cidade. A adaptação à nova cidade, por um lado, a aproximava de outros familiares, mas, por outro, resultou no distanciamento de amigos de longa data e interrupção de seu exercício profissional. Após o falecimento da mãe, a cliente passou a trabalhar na empresa de um de seus sobrinhos, nesta nova cidade, mas sentia-se privada de afeto. Foi possível identificar algumas dificuldades de Luiza: discriminar fontes de reforçadores naturais e de natureza social na nova cidade e emitir comportamentos que produzissem tais reforçadores; ficar sensível aos reforçadores que eram produzidos nas interações sociais, uma vez que a cliente não conseguia discriminar quando os comportamentos eram genuinamente afetivos ou quando eram produto de controle coercitivo (cobrança ou demonstrações excessivas de privação afetiva pela cliente); ficar sensível às CR do presente, e não excessivamente governada por regras de que os eventos do presente seriam alguma punição por comportamentos emitidos em sua juventude. O processo psicoterapêutico envolveu alguns procedimentos: acolhimento e validação dos sentimentos relatados pela cliente, para construir e fortalecer o vínculo terapêutico; apresentação de análises funcionais que descrevessem a relação existente entre os eventos, que pudessem enfraquecer regras disfuncionais e também produzir autoconhecimento; apresentação de modelos e de instruções verbais para emissão de respostas que pudessem produzir reforçadores positivos nas relações familiares já estabelecidas e reduzir os excessos comportamentais que eram consequenciados com punição negativa e positiva; apresentação de modelos e de instruções verbais para emissão de comportamentos de autocuidado e autonomia que levassem Luiza a produzir reforçadores sem depender da mediação de terceiros; apresentação de consequências com possível função de reforço positivo para comportamentos que atendessem aos objetivos terapêuticos e que produzissem bem estar para a cliente. Ao longo das sessões, a cliente passou a apresentar comportamentos de autonomia, tais como providenciar a renovação de sua carteira de habilitação, e a locomover-se por meio de taxi, o que reduziu suas frustrações quando os familiares não tinham disponibilidade para acompanhá-la em suas atividades. Além disso, passou a fazer discriminações mais apropriadas das CR em operação: comportamentos dos sobrinhos e irmãos que lhe eram indesejados já não mais eram interpretados como intencionalmente emitidos para frustrá-la ou excluí-la. O processo psicoterapêutico ainda está em andamento, de forma a fortalecer as mudanças apresentadas e continuar a desenvolver os comportamentos que produzirão maior adaptação de Luiza à sua condição de vida atual.
Palavras-chave: Perda de reforçadores; envelhecimento; privação afetiva; comportamentos de autonomia; Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR).