Atividade: Sessão Coordenada

 

A VISTA QUE VEJO DA MINHA JANELA: ESTUDO DE CASO EM TERAPIA POR CONTINGÊNCIAS DE REFORÇAMENTO (TCR)

 

FLORENÇA L.C.JUSTINO

ITCR-Campinas

 

Áurea (50) era médica aposentada, solteira, viúva e tinha três filhos (31, 28 e 26, respectivamente). Buscou a psicoterapia com a queixa de que precisava “ter a própria vida”. Na primeira sessão, a cliente enumerou quais eram os aspectos que gostaria de abordar durante o processo psicoterapêutico: como lidar com os filhos, “ter a própria vida” (ocupar o tempo com as suas coisas ao invés de cuidar constantemente da demanda dos filhos), saber delimitar o espaço do outro em sua vida e melhorar a autoestima. A partir da investigação das contingências de reforçamento (CR) atuais que estavam operando na vida de Áurea, foi possível observar que a cliente apresentava as seguintes dificuldades: baixa emissão de comportamentos funcionalmente assertivos; elevado sentimento de culpa relacionado aos filhos e aos familiares que moravam em outro estado; dificuldade para iniciar e manter relacionamentos afetivos; dificuldade de ficar sob controle das CR atuais; reduzir o controle de seus comportamentos pela regra de que as dificuldades que enfrentava e os aversivos com os quais tinha que lidar eram uma punição por ser a “ovelha negra” da família; dificuldade para consequenciar de forma contingente àqueles com os quais convivia. Áurea era muito conectada à espiritualidade e, por vezes, justificava a emissão ou não de alguns comportamentos pelas regras que eram produto de sua “intuição”. A cliente, portanto, emitia comportamentos discriminativos, sem consciência de a quais estímulos estava respondendo e, com isso, apresentava dificuldade para emitir tatos verbais que descrevessem a relação entre os elementos das CR. Além disso, Aurea se esquivava da exposição a determinadas interações sociais e eventos com possível função reforçadora positiva com a justificativa de que não se sentia bem espiritualmente diante de determinadas pessoas e lugares. A partir da História de Contingências de Reforçamento (HCR), foi possível identificar que a cliente foi exposta a diversas situações aversivas diante das quais não apresentava repertório comportamental desejado para se esquivar, tais como as agressões físicas e verbais do marido e a imposição da família de que deveria se mudar de cidade durante a gravidez do primeiro filho. Além dessas situações, Aurea cresceu em um ambiente coercitivo cercado de altas exigências, imposições, punições e pouco afeto. A cliente aprendeu a responder prioritariamente a estímulos aversivos, comportando-se para fugir e/ou se esquivar dos mesmos. As dificuldades comportamentais atuais de Áurea são produto das CR coercitivas às quais foi exposta, que não instalaram e não desenvolveram comportamentos exploratórios diante de estímulos com possível função reforçadora positiva. Os objetivos do processo psicoterapêutico de Aurea foram: instalar e fortalecer comportamentos exploratórios que permitissem o acesso a eventos com possível função reforçadora positiva e que não se limitassem aos ambientes e contextos espirituais que frequentava; ampliar o autoconhecimento da cliente; fortalecer a emissão de comportamentos funcionalmente assertivos; e auxiliar a cliente na discriminação dos eventos antecedentes aos quais estava respondendo; das consequências que eram produzidas a partir  da emissão de dadas respostas e o desenvolvimento de autoconhecimento e discriminação das CR que substituíssem as regras de espiritualidade disfuncionais. Alguns procedimentos utilizados pela psicoterapeuta incluíram: validação dos sentimentos de Aurea, descrição das CR em operação e análises funcionais que descreviam a relação funcional entre eventos, apresentação de modelos e de instruções verbais para a emissão de comportamentos funcionalmente assertivos diante dos filhos e dos familiares, apresentação de consequências diferenciais com possível função de reforço positivo diante da emissão de comportamentos de exposição a novas CR e novas fontes de reforçadores positivos. Ao longo do processo psicoterapêutico, Áurea passou a discriminar de forma desejada algumas CR em operação, expôs-se a novas situações que revelaram ter função de reforço positivo, passou a consequenciar os excessos dos filhos de forma contingente e menos agressiva. O processo psicoterapêutico continua em andamento com o objetivo de fortalecer algumas mudanças comportamentais desejadas e ampliar o desenvolvimento de repertório de Áurea.

 

Palavras-chave: Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR); comportamentos de fuga-esquiva; controle coercitivo, comportamento governado por regras.