Atividade: Sessão coordenada

 

QUANDO O COMEÇO É O MAIS DIFÍCIL: DESENVOLVIMENTO DE REPERTÓRIO NECESSÁRIO À PSICOTERAPIA. UM ESTUDO DE CASO EM TERAPIA POR CONTINGÊNCIAS DE REFORÇAMENTO (TCR)

 

TATIANA PERECIN 
Ana Paula Denipote Marques          
Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento

 

Este trabalho pretende descrever um caso de desenvolvimento de repertório social de descrição de sentimentos em cliente com déficits de repertório de comportamentos necessários para o processo psicoterapêutico. Anderson (24) foi encaminhado à psicoterapia pelo psiquiatra e relatou como queixa principal a dificuldade nos relacionamentos interpessoais, em específico, os amorosos. No início do processo a psicoterapeuta constatou que o cliente apresentava déficits de repertório de comportamentos necessários ao trabalho psicoterapêutico, tais como dificuldades de comunicação, dificuldades de descrição de sentimentos e situações que os evocam e dificuldades de auto-observação, resultando em baixo nível de autoconhecimento. Tais dificuldades impunham desafios adicionais ao processo psicoterapêutico, uma vez que grande parte do trabalho é construído sobre descrições verbais do cliente a respeito dos acontecimentos de sua vida e de seus sentimentos a respeito desses aspectos, de modo que se possa tecer hipóteses acerca das contingências de reforçamento (CR) em operação. Tais déficits foram produzidos por uma história de contingências de reforçamento (CR) na qual seus familiares eram pouco sensíveis a ele, demandando na maioria das vezes que Anderson se adequasse às necessidades e expectativas dos familiares, não manejando CR que evocassem a expressão verbal de Anderson sobre suas expectativas, necessidades, e desejos. Ainda, a família, exibindo amplo repertório de comportamentos reforçados negativamente, não fornecia modelos de comportamentos com potencial para serem positivamente reforçados e punia ou colocava em extinção repertório desta classe. Assim, não tendo sido apropriadamente ensinado a identificar e nomear sentimentos, e também sendo punido quando buscava reforçadores positivos, Anderson chegou à vida adulta com pouca clareza a respeito do que sentia frente a uma variada gama de questões; com dificuldades em identificar estímulos reforçadores positivos, e consequentemente, com um repertório bastante limitado para produzi-los. Em vista disto, o trabalho teve como objetivo inicial levar o cliente a desenvolver maior autoconhecimento, através da auto-observação sistemática e da descrição de seus estados corporais em associação aos estímulos ambientais que os produziam. Para isto foram utilizados procedimentos como treino de descrição de sentimentos, oferta de análises relacionando o que Anderson sentia às CR que produziam tal sentir, oferta de modelos, modelagem de comportamentos adequados por aproximações sucessivas, e instruções. A partir dos procedimentos utilizados, o cliente passou a descrever com mais clareza seus sentimentos e as CR que os produziam, sendo capaz de tecer associações entre suas respostas, os estímulos ambientais que o cercavam, e os sentimentos que se produziam nessas CR.

 

Palavras-chave: Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR); autoconhecimento, sentimentos.