Atividade: Sessão coordenada

 

"Extrema Resistência": Quando o aluno se esquiva das demandas escolares - estudo de caso em terapia por contingências de reforçamento (TCR)

 

SANDRA SACHS HUSEIN

Renata Cristina Gomes

Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento

 

Flávio (09), filho único, morava com o pai (41), marceneiro, e a mãe (30), dona de casa.  Estava cursando o 4º ano do Ensino Fundamental em uma escola da rede pública. A mãe o trouxe para psicoterapia por indicação da professora e da diretora da escola, pois ele não fazia as atividades em sala de aula, nem anotava a lição que tinha para fazer em casa. Entretanto, nem o cliente e nem seus pais pareciam reconhecer a relevância da queixa apresentada pela equipe escolar. Flávio emitia excessivas respostas de fuga-esquiva diante de solicitações de terceiros para engajar-se em atividades que não produzissem consequências imediatamente reforçadoras para si (ex: copiar dez palavras de uma lista apresentada pela psicoterapeuta). Também mostrava pouca sensibilidade àquilo que seria reforçador ao outro ou aos efeitos de seu comportamento sobre o outro (ex: quando ia com a mãe almoçar na casa da avó materna, reclamava por ter que passar na empresa do pai, para que este pudesse ir junto ao almoço). Como Flávio não fazia as atividades em sala, dedicava seu tempo a atividades que lhe eram imediatamente reforçadoras (ex: desenhar, folhear revistas, conversar com os colegas, brincar, etc). A ênfase que a professora dava à resistência dele em fazer o que era proposto parecia ser reforçadora: ele simplesmente ignorava as instruções dela e continuava alheio às tarefas propostas em sala de aula. Era necessário que, tanto a mãe quanto a professora, consequenciassem contingentemente quando ele não se engajava nas tarefas propostas (ex: a mãe não permitir que ele fosse brincar antes de terminar o dever de casa e a professora mandar para serem feitas em casa as tarefas não executadas em classe) e reforçassem positivamente quando o fizesse (ex: permitindo que o amigo fosse brincar com ele ou que ele fosse à casa do amigo). O fato de ser bem sucedido em se esquivar das tarefas escolares implicava em não desenvolver as habilidades envolvidas em tais tarefas, o que eventualmente as tornava cada vez mais difíceis para Flávio (ex: ter dificuldade para ler o texto das cartinhas dos jogos). Em vista do relatado, foram aplicados os procedimentos descritos a seguir. O acesso ao jogo/brincadeira, previamente identificado como reforçador positivo, passou a ser contingente ao engajar-se naquilo que era proposto (ex: Flávio poderia escolher uma brincadeira, após participar de uma atividade proposta pela psicoterapeuta.). Foi combinado que consequências punitivas amenas seriam contingentes ao comportamento não desejado (ex: a psicoterapeuta não daria atenção a Flávio, caso ele ficasse “dormindo no sofá” ao invés de responder a uma pergunta). A psicoterapeuta descrevia para o cliente o que seus comportamentos produziam nela (ex: ela se sentia desvalorizada). Também descrevia as consequências adversas remotas que poderiam ser produzidas pelas respostas de fuga-esquiva que ele emitia diante das tarefas escolares (ex: caso ele não treinasse a tabuada, não conseguiria resolver as contas) e foram criadas condições para que o cliente entrasse em contato com as consequências reforçadoras naturais de fazer tais tarefas (ex: conseguir prosseguir no jogo ao ler o que estava escrito na sequência do tabuleiro). A mãe foi orientada a aplicar reforço diferencial ao invés de punir o comportamento indesejado. A partir dos procedimentos utilizados, aumentaram as respostas de cooperação diante de solicitações da psicoterapeuta, inclusive as que envolviam atividades escolares, e igualmente aumentaram as respostas de cooperação no ambiente escolar e em casa.

 

Palavras-chave: Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR); TCR com crianças; dificuldades escolares; comportamento resistente.