Atividade: Sessão coordenada
"PRECISAMOS FALAR SOBRE O KEVIN": TERAPIA POR CONTINGÊNCIAS DE REFORÇAMENTO (TCR) APLICADA A UM CASO DE SUSPEITA DE PSICOPATIA NA INFÂNCIA - ATENDIMENTO DA MÃE
RENATA CRISTINA GOMES
Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento
Ângela (38), casada com Nuno (43), procurou psicoterapia por sugestão da psicoterapeuta de seu filho, Kevin (12). Os diversos comportamentos disruptivos que Kevin apresentava impactavam diretamente a mãe, que trouxe como queixa inicial justamente a dificuldade em lidar com o filho, o ciúme dele em relação à irmã de cinco anos, e o sofrimento derivado das perdas sociais (a família deixava, por exemplo, de aceitar convites ou receber pessoas em casa) que, de seu ponto de vista, eram por ele produzidas. As contingências de reforçamento (CR) operando na relação mãe-filho eram aversivas e geravam respostas agressivas por parte da mãe para com o filho. Os comportamentos indesejados do filho produziam muita atenção social (usualmente sob a forma de críticas, castigos etc.), mas praticamente nenhuma atenção sócio-afetiva advinda da mãe. A análise das CR indicava que a privação afetiva vivida por Kevin aumentava a probabilidade de emissão dos comportamentos indesejados, que, por sua vez, diminuíam a probabilidade de que a mãe fosse afetiva, de maneira que o comportamento de um retroagia sobre o outro na manutenção de tais CR (a mesma análise valia para relação pai-filho, com a diferença de que o pai interagia com o filho em frequência menor). Em vista disso, um dos objetivos iniciais da psicoterapia foi reduzir a aversividade na relação mãe-filho. Para tal, foi proposto em sessões conjuntas (Ângela, Kevin e suas respectivas psicoterapeutas) um esquema de economia de fichas (nesse caso, as fichas eram pontos em um escore). Elaborou-se uma lista na qual eram descritas especificamente tarefas a serem realizadas por Kevin, as quais recebiam pontuação proporcionalmente maior de acordo com o trabalho dispendido em sua execução. A princípio, os pontos produzidos de maneira contingente aos comportamentos desejados emitidos por Kevin podiam ser trocados por diferentes reforçadores, incluindo atividades a serem desenvolvidas com a mãe (ida ao shopping, passeio no parque etc.) e que eram potencialmente reforçadoras para ambos. Embora inicialmente tais reforçadores fossem essencialmente arbitrários, a ideia era que fossem gradualmente acompanhados ou substituídos por consequências mais afetivas apresentadas pela mãe. Após a introdução do procedimento, houve sensível melhora na relação de Ângela e Kevin, melhora esta que, segundo relato da mãe, chegou a ser identificada por pessoas da convivência da família. Entretanto, outras variáveis (interferência dos avós, alteração significativa da rotina no período de férias) contribuíram para que o efeito fosse temporário.
Palavras–chave: Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR); psicopatia; atenção sócio-afetiva.