Atividade: Sessão coordenada
SAINDO DO CASULO: ALTERANDO REPERTÓRIO SOCIAL EMPOBRECIDO NA ADOLESCÊNCIA A PARTIR DO MODELO DA TCR
RAQUEL DEPERON
Renata Cristina Gomes
Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento
A mãe de Bia (14), trouxe como queixas a dificuldade de socialização da filha, a ausência de autocuidado estético e comportamentos de skin picking (definida como uma dificuldade em resistir ao impulso de causar ou agravar lesões à própria pele – coçar, arranhar, picar – usando para isso unhas, dedos ou outros objetos). A partir do modelo da Terapia por Contingências de Reforçamento, foi avaliado o histórico de contingências de reforçamento e verificou-se que Bia teria sido “quieta” desde a infância, comportamento que foi mantido pela família que, em contrapartida, não criou condições que favorecessem o desenvolvimento de habilidades sociais. Quando Bia tinha 7 anos, os seus pais adotaram uma menina de 9 anos e Bia passou a conviver diariamente com outra criança de idade próxima, mas com repertório comportamental mais funcional que de Bia no que se refere a situações sociais. Dessa forma, os comportamentos de Bia e da irmã serviram de parâmetro de comparação para os pais, já que a irmã apresentava repertório rico em habilidades sociais e Bia não. A partir daí os pais detectaram alguns déficits no repertório comportamental de Bia. Quando a cliente tinha por volta de 10 anos, seus pais se separaram e, de acordo com a mãe, a separação foi uma importante variável para o déficit comportamental da adolescente (embora a mãe acreditasse que a separação causou os déficits sociais de Bia, tal suposição não se sustentava pois o padrão social restrito já existia anteriormente). Dessa forma, a psicoterapia teve como objetivos: colocar a cliente sob controle da sua dificuldade de verbalizar, de identificar e expressar sentimentos (torná-la consciente que pouco falava sobre si mesma); aumentar e alterar o repertório verbal da cliente (construir um relato mais rico, já que a cliente basicamente usava monossílabos); fornecer possíveis SDs para que se comportasse de forma a maximizar a chance de interação social em sessões externas (por exemplo: se aproximar de colegas na escola e iniciar conversas). Após as intervenções, Bia passou a se expressar com maior facilidade, verbalizar espontaneamente eventos que haviam acontecido inicialmente com outras pessoas e posteriormente passou a relatar eventos que haviam acontecido com ela em seu cotidiano, relatar como havia se sentido frente determinadas situações, se engajou em um trabalho em grupo na escola, passou a se comportar de forma a cuidar de sua aparência e diminuiu a frequência do comportamento de skin picking. Cabe destacar que durante o processo psicoterapêutico a psicoterapeuta não lidou diretamente com a queixa em relação ao skin picking. Manejar contingências de reforçamento mais amplas que mantinham outros déficits de comportamento e alterá-las na produção de um repertório comportamental funcional mais abrangente modificou o skin picking na direção desejada.
Palavras–chave: Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR); habilidades sociais; adolescente; skin picking.