Atividade: Sessão Coordenada

 

DESENVOLVIMENTO DE INDEPENDÊNCIA E RELAÇÕES AFETIVAS GENUÍNAS: ESTUDO DE CASO EM TERAPIA POR CONTINGÊNCIAS DE REFORÇAMENTO (TCR)

 

MARISA RICHARTZ FELICIO

Consultório Particular – Curitiba/PR

 

Ane (27) procurou a psicoterapia com a queixa de insegurança, dependência das pessoas e dificuldades nos relacionamentos, relatando: “preciso sentir que alguém está por perto, mas sou solteira convicta e me sinto fria”. A cliente apresentava déficit no repertório em diferentes atividades cotidianas, como limpar a casa e alterar horários de vôos durante viagens. Diante de suas dificuldades, ela desenvolveu excesso de comportamento de fuga-esquiva ineficazes, mantendo-se com diferentes parceiros ao mesmo tempo, que descreviam o que ela poderia fazer ou solucionavam seus problemas. Tais relacionamentos eram mantidos prioritariamente por reforçamento negativo em uma relação de troca: a cliente não entrava em contato com as situações que lhe eram aversivas, enquanto o outro tinha acesso a uma condição financeira favorável (Ane sustentava uma de suas parceiras, que as tarefas domésticas). A cliente apresentava excesso de comportamentos governados por regras desfavoráveis para um relacionamento (afirmava que “amor não existia na vida real, apenas em contos de fada”); excesso de tatos distorcidos (ela relatava que era casada ou que iria viajar para a parceira); déficit nos comportamentos de consequenciar o outro diante de estimulação aversiva social (diante críticas da namorada, a cliente ameaçava terminar ou mentia); e déficit em reforçar positivamente o outro (quando a parceira relatava que gostava dela, apresentava punição positiva ou extinção, porém quando Ane se sentia insegura, procurava a parceira e demonstrava afeto). Ane foi poupada de forma generalizada da exposição ambiental por sua mãe, que também falava negativamente sobre relacionamentos interpessoais (dizia que só era possível confiar nos familiares) e apresentava excesso de controle coercitivo (não permitia relacionamentos extrafamiliares e lia o diário da cliente). Isso contribuiu para que a cliente não desenvolvesse repertórios necessários para a vida diária e se comportasse sob governo de regras que não favoreciam a manutenção dos relacionamentos. A psicoterapia objetivou desenvolver repertório para atividades cotidianas, desenvolver respostas de fuga-esquiva eficazes, aumentar a discriminação da cliente sobre seu padrão nos relacionamentos, alterar as regras pouco efetivas e desenvolver comportamentos de consequenciar o outro. Para atingir os objetivos, foram utilizados os seguintes procedimentos: instrução, modelação, descrição das CR em operação, elogios com possível função de reforço positivo, emissão de estímulos discriminativos em forma de perguntas e esvanecimento do papel da psicoterapeuta. Os resultados do processo psicoterapêutico foram: desenvolvimento de repertório para vida cotidiana, diminuição de sentimentos de insegurança e dependência, melhor discriminação sobre o padrão e as regras envolvendo relacionamentos, alteração do excesso de tatos distorcidos e desenvolvimento de comportamentos de consequenciar o outro. Ane continua em psicoterapia e o foco do processo é desenvolver relacionamentos com afeto genuíno, no qual o relacionamento é mantido prioritariamente por reforçamento positivo.

 

Palavras-chave: déficit no relacionamento afetivo; insegurança; baixa autoconfiança; comportamento governado por regras; Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR).