Atividade: Sessão coordenada

 

OS DESAFIOS DE SUPERAR PERDAS E AMPLIAR A VARIABILIDADE COMPORTAMENTAL: ESTUDO DE CASO EM TERAPIA POR CONTINGÊNCIAS DE REFORÇAMENTO (TCR)

 

MARIA ISABEL DE ALBUQUERQUE CAVALCANTI FRANCO

Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento

 

Vitor, 21 anos no início do atendimento, buscou psicoterapia por encaminhamento médico e passou 10 meses em processo psicoterapêutico. Estava enfrentando uma crise grave de doença auto-imune que quase o levou à morte, a qual o deixou inicialmente incapacitado de exercer suas atividades em função de graves sequelas. Segundo os médicos ele precisaria de “psicoterapia para sair da crise”, “aprender a reconhecer sintomas” e “se controlar para não vir a ter novas crises”. As principais queixas trazidas pelo cliente diziam respeito a ter tido que trancar a matrícula da faculdade pública em que havia entrado, incerteza em relação a seu futuro acadêmico, ter sido abandonado pela pessoa que namorava há 4 anos , ter perdido os amigos da igreja, ter tido que desistir de  todas as atividades físicas que desempenhava na academia as quais gostava muito e problemas em relação à sua aparência. Queixou-se também de se sentir sem fé, esperança, ânimo. Tinha muito medo de exercer suas atividades habituais como andar de bicicleta, correr, frequentar a igreja, ir a lugares públicos. Foram identificados, ao longo do tratamento, os seguintes excessos e déficits comportamentais: dificuldade de se relacionar com pessoas fora de seu núcleo familiar e da igreja, déficit de repertório social que o impedia, por exemplo, de perguntar o nome a uma recepcionista, baixa auto observação, regras muito rígidas que o impediam de se comportar de um modo mais descontraído (baixa variabilidade comportamental) e  comportamentos estereotipados como excesso de preocupação com higiene e arrumação. O cliente se esquivava de situações que pudessem ter qualquer tipo de desafio e tinha uma dependência exagerada da família, a qual era excessivamente protetora. Os objetivos principais da psicoterapia foram prepará-lo para melhor enfrentar os vários desafios de conviver com a doença assim como aumentar sua tolerância à frustração, tolerância ao outro, convivendo com   suas diferenças e  enfrentar viver fora de casa para frequentar uma faculdade. Foram empregados os seguintes procedimentos: instrução verbal, fading, modelagem, encadeamento de trás para frente e reforçamento diferencial de comportamentos desejados. Compreendemos que o processo psicoterapêutico foi efetivo porque não houve recaídas da doença, o cliente voltou a  praticar esportes, a frequentar a igreja e a se relacionar com mulheres. No início do ano letivo seguinte mudou-se para a cidade onde havia iniciado a faculdade e encontrou uma república que atendia às suas expectativas e necessidades. No início deste ano foram feitas três sessões de follow up, por iniciativa do cliente, nas quais relatou estar feliz com o curso e com a república onde mora. Passou a lidar melhor com o protecionismo exagerado da família e conseguiu, por exemplo, colocar limites no excesso de zelo deles, começou a namorar outra pessoa da igreja e disse ter perdoado a namorada que o havia abandonado.

 

Palavras–chave: Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR); déficit de repertório; variabilidade comportamental.