Atividade: Sessão coordenada

 

O CÁRCERE DO PRIMEIRO AMOR: UM ESTUDO DE CASO EM TERAPIA POR CONTINGÊNCIAS DE REFORÇAMENTO (TCR)

 

Florença L.C. Justino

Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento

 

Marcelo (39) era casado com Carla (37) há 24 anos e tinha três filhos. O cliente chegou à psicoterapia por decisão da esposa, que agendou uma sessão após um episódio de descontrole, no qual ele decidiu não voltar para casa depois do trabalho, no dia do aniversário do cliente. A esposa acompanhou o marido na primeira sessão e explicou à psicoterapeuta o que havia acontecido. Ao conversar com Marcelo individualmente, observou-se que ele estava deprimido e o seu comportamento no dia do aniversário era decorrente de contingências de reforçamento (CR) coercitivas manejadas pela esposa na relação. As queixas do cliente foram a infelicidade e a insatisfação no casamento e o desejo de se separar. Observou-se que o cliente dispunha de um repertório de comportamentos responsáveis perante o relacionamento, o que limitava o seu acesso a reforçadores naturais, aprisionando-o aos reforços arbitrários produzidos pela esposa na relação. Outras dificuldades observadas foram déficit no repertório de contracontrole para lidar com o controle aversivo presente no relacionamento (acatava tudo que a esposa solicitava mesmo se não concordasse); repertório limitado de comportamentos com função de produzir reforçadores naturais e reforçadores sociais (se privou de ir ao campo de futebol porque a esposa ficava emburrada e passou o aniversário sozinho porque não tinha amigos para uma possível comemoração), déficit de discriminação das CR em operação (Marcelo acreditava que o relacionamento com a esposa ia bem, apesar dos sentimentos relatado não condizerem com CR de reforçamento positivo); baixa emissão de comportamentos de diálogo com a esposa e emissão de comportamentos agressivos diante de eventos aversivos. Os objetivos do processo psicoterapêutico foram: auxiliar o cliente a discriminar as CR que estavam em operação bem como os sentimentos e estados corporais produzidos pelas mesmas, desenvolver repertório comportamental para a produção de reforçadores positivos naturais, auxiliar o cliente na discriminação e nomeação de sentimentos, fortalecer a emissão de comportamentos de diálogo nos diferentes contextos nos quais o cliente estava inserido. Os procedimentos adotados consistiram na descrição das CR coercitivas em operação e dos comportamentos que o cliente emitia diante das mesmas; descrição dos sentimentos e estados corporais produzidos pelas CR em operação; e instruções e modelos para a emissão de comportamentos de contracontrole e comportamentos de fuga-esquiva funcionais e adequados. Observou-se que Marcelo passou a discriminar alguns estados corporais produzidos pelas CR das quais tais estados eram função, aumentou a frequência de emissão de comportamentos de diálogo com a esposa e a exposição a situações potencialmente com função de reforço positivo natural.

 

Palavras-chave: controle coercitivo; Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR); contracontrole.