Atividade: Palestra

DEPRESSÃO – CLÍNICA E TRATAMENTO

 

FRANCISCO LOTUFO NETO

Universidade de São Paulo, São Paulo, SP

 

            A  Depressão é uma síndrome muito prevalente que trás grande sofrimento e prejuízos ao desempenho social e ocupacional a quem é por ela acometido. As pessoas próximas, familiares, amigos e colegas de trabalho também podem sofrer e se sobrecarregar por isto.

É uma doença que mata, pois cerca de 15% das pessoas acometidas com suas formas mais graves cometem suicídio. Por ser uma doença tratável, com recuperação relativamente rápida (quatro a oito semanas para a grande maioria dos pacientes) é importantíssimo o diagnóstico e tratamento corretos.

Por sofrer, muitas pessoas com depressão procuram ajuda dos profissionais de saúde, mas raramente a referem. Suas queixas em geral  são vagas. A característica principal da  Depressão em nosso meio são as queixas somáticas: dores das mais diversas, tontura, mal estar indefinido, formigamentos, peso e vazio na cabeça ou corpo, tremores, aperto no peito, arrepios, angustia  e nervosismo. Angústia, choro fácil e irritabilidade são sinais que podem sugerir a presença desta doença. Outras queixas são cansaço, falta de energia, dificuldade de concentração, isolamento social,  preocupação desagradável maior que o necessário, difícil de afastar da mente.

Deve-se sempre lembrar de investigar  se o humor está depressivo. Se está muito triste, desanimado, deprimido, sem vontade, sensível, emotivo, chorando com facilidade. Deve-se perguntar também sobre a capacidade de sentir prazer e a motivação,  o ânimo para fazer as coisas e se é necessário esforço para as atividades do dia a dia. O deprimido ~tem sua capacidade de sentir prazer muito diminuída, não ficando contente com as coisas que antes habitualmente assim o deixavam.

Outros sintomas importantes são: Alteração no apetite (para mais ou para menos), perda ou ganho de peso, alteração do sono (para mais ou para menos), diminuição da vontade sexual, agitação ou retardo psicomotor, sentimentos de desvalorização, inferioridade, incompetência, culpa, dificuldade para pensar, concentrar, lembrar, dificuldade para tomar decisões, pensamentos freqüentes sobre morrer e que a  vida não tem sentido, que não vale a pena viver assim.

A pessoa sofre com estes sintomas  e seu desempenho social e ocupacional estão comprometidos.

Caracterizando a gravidade da Depressão

Três sintomas caracterizam a depressão grave:

Þ  Ideação suicida

Þ  Delírios e alucinações

Þ  Incapacitação social e ocupacional.

 Idéias de suicídio

Todo paciente com depressão deve ser questionado sobre se tem pensado em morrer, e mais especificamente se tem pensado em acabar com a vida.

Se a resposta é positiva deve-se investigar se são pensamentos eventuais ou se tem considerado seriamente  está possibilidade.

Se tem idéias de suicídio, quais são seus planos: Tem juntado remédios,  comprou uma arma, passeia por viadutos? É importante caracterizar a intenção e a letalidade dos planos. Todo paciente com intenção suicida deve ser encaminhado para tratamento psiquiátrico especializado. Deve-se tomar medidas de proteção conforme a letalidade, orientando a família a não deixá-lo sozinho.

São sinais de risco para suicídio:

Presença de Depressão

Falar sobre suicídio. É um mito que quem fala não tem intenção. Neste caso, “cão que ladra morde.”  A grande maioria das pessoas que se suicidaram procuraram alguém para conversar a respeito. Muitas vezes pode ser uma conversa indireta, ou apenas gestos. Alguns estudos mostram que oitenta por cento das pessoas que se suicidaram foram ao médico nas semanas que antecederam o ato. Por isto é necessário estar alerta e saber como agir.

Comportamento de despedida. A dona de casa que começa a visitar as amigas, o adolescente que dá seus discos ou coleções de presente. O homem que prepara seu testamento.  Despedida em pessoa com Depressão deve sempre chamar a atenção e ser melhor investigada. Lembre-se muitas vezes apenas conversar a respeito, diminui a letalidade dos pensamentos  e desperta novamente alguma esperança.

Mudança brusca de comportamento. Uma pessoa com depressão que estava muito abatida e lentificada  e que de repente aparece bem, sorrindo, como se estivesse aliviada de tudo  merece cuidado pois a decisão pode ter sido tomada.

Tentativa anterior. Ter tentado suicídio no passado ou ter alguém na família que cometeu suicídio aumenta a probabilidade disto acontecer.

Homens de meia idade, solitários, que bebem bastante, com doença clínica ou problemas financeiros que estão deprimidos ou apresentam ideação suicida requerem atenção e cuidados especiais.

Delírios e Alucinações

Algumas vezes os pensamentos negativos do deprimido adquirem tal proporção, que este perde o contato com a realidade. Não adianta mais argumentar logicamente, pois estas idéias permanecem irredutíveis. O delírio mais freqüente é o de culpa.  A pessoa remoe faltas pequenas que cometeu ao longo de sua vida, sente-se um pecador sem perdão, abandonado e acusado por Deus.  Sente-se acusada, que os outros não a perdoam e o responsabilizam por desgraças que estão acontecendo. O delírio pode ser de ruína, quando a pessoa acha estar na miséria, que levou a família à bancarrota, que passam fome por sua causa. Delírios de perseguição podem também acontecer. Delírios de que algo vai mal na sua saúde  são freqüentes.  A crença de que tem uma doença incurável, que seus órgãos não funcionam, de que está morta.

Na  Depressão com sintomas psicóticos as alucinações são freqüentes. Vozes acusatórias, a visão de cadáveres e caixões são experiências muito descritas.

Atenção: A presença de delírios e alucinações aumenta o risco de suicídio.

A Depressão grave produz grande incapacitação. A pessoa não consegue mais cumprir suas obrigações, ou faz parte delas com extrema dificuldade. Isola-se, falta no trabalho, não consegue mais raciocinar, tomar decisões,  trabalhar. Na depressão moderada o indivíduo ainda consegue exercer suas funções, embora com esforço.

Subtipos ou formas clínicas da Depressão

Episódio Depressivo Importante (“Depressão Maior”)

Muitas pessoas com Depressão a terão apenas uma vez ao longo da sua  vida. Este episódio pode ser leve, moderado ou grave. Isto é determinado pela quantidade ou qualidade dos sintomas.

Depressão Recorrente

Se a pessoa apresenta mais de um episódio de Depressão ao longo de sua vida. Quanto maior o numero de episódios  maior a chance de voltar a apresentá-la no futuro.

Depressão Crônica

Para algumas pessoas a depressão é de longa duração, durando anos. Isto pode ser conseqüência de tratamentos incompletos ou planejados inadequadamente (medicação por tempo curto demais, ou dosagem insuficiente para atingir nível terapêutico, ausência de psicoterapia)

Depressão  melancólica ou endógena

Para algumas pessoas a Depressão também apresenta anedonia (ausência ou diminuição muito intensa da capacidade de sentir alegria ou prazer), flutuação do humor (piora no período da manhã e melhora no decorrer do dia), despertar precoce (a pessoa acorda uma ou duas horas antes do horário habitual com mal estar e não consegue mais adormecer), diminuição da libido e apetite.

Depressão Atípica

Nesta forma da Depressão se apresentar, a capacidade de sentir prazer está parcialmente preservada. A pessoa reage positivamente diante de situações agradáveis, mas por pouco tempo. Apresenta muita sonolência, dormindo mais que o habitual, e o apetite está aumentado, com o conseqüente ganho de peso. Estas pessoa relatam ter grande sensibilidade a críticas e a rejeição. Este subtipo de depressão responde particularmente bem aos IMAO (medicamentos Inibidores da Mono Amino Oxidase).

Distimia

É uma forma leve de depressão com apenas alguns sintomas presentes, Entretanto é crônica acompanhando a pessoa por diversos anos. Pelo menos dois dos seguintes sintomas devem estar presentes além do humor depressivo: alteração do apetite, do sono, pouca energia ou cansaço, baixa auto-estima, dificuldade de concentração, sentimentos de desesperança. É muito comum a irritação, e Distimia etimologicamente quer dizer mau humor.

Transtorno Bipolar

O episódio depressivo pode ser parte de uma doença, antigamente conhecida por Psicose Maníaco Depressiva ou PMD.

No Transtorno Bipolar além de períodos de depressão, a pessoa apresenta fases de euforia intensa, conhecidas por mania. Nelas a velocidade do pensamento está aumentada, a pessoa está logorreica, excitada, contando piadas, agindo de modo inconveniente, com libido aumentada, menos necessidade de dormir, sensação de bem estar e energia. O juízo pode estar comprometido, a pessoa gastando mais dinheiro do que pode, dando coisas de presente, sentindo-se rica, poderosa, com uma missão especial. Além de eufórica pode ficar extremamente irritada, com baixa tolerância a qualquer frustração. Formas graves podem vir acompanhada de Fuga das Idéias, Delírios de grandeza e alucinações.

Diante de uma pessoa com Depressão deve-se sempre perguntar se já teve períodos de intensa euforia, diferente do seu normal e sem motivo. Ou se já experimentou períodos de irritação em que discutia ou brigava com desconhecidos.

O Transtorno Bipolar possui subtipos: O paciente pode apresentar apenas hipomania, uma fase de mania mais leve, onde as vezes a crítica é preservada. Pode ser um ciclador rápido, apresentando pelo menos quatro fases ao longo do ano, o que torna seu quadro de mais difícil controle.

O Transtorno Bipolar é tratado com estabilizadores de humor: Carbonato de Lítio, Valproato de sódio, Carbamazepina, Gabapentina, Topiramato.