Atividade: Painel (Estudo de caso clínico)

 

 

A UTILIZAÇÃO DE IRONIA COMO RECURSO NO PROCESSO DE TERAPIA POR CONTINGÊNCIAS DE REFORÇAMENTO (TCR) – UM ESTUDO DE CASO

 

INGRID PICCOLLO COMPARINI
Larissa Aguirre
Thiago Toledo
Roberta Cruz
Ariela Santana Cardoso
Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento

 

Monica (19) morava com os pais e o irmão mais novo (14). A cliente estava estudando Administração em uma universidade particular e trabalhava como auxiliar administrativa. As queixas iniciais relatadas por Monica foram de “ansiedade” e “depressão”: descrevia que tinha comportamentos frequentes de choro, irritação generalizada e se “derrubava” muito fácil. Pôde-se perceber, por meio das observações e análises funcionais realizadas em sessão, que seus relatos de “crises de ansiedade” podiam ser traduzidos como baixa tolerância à frustração e eram desencadeados por um padrão de comportamento prioritariamente sensorial. A cliente apresentava dificuldade em produzir reforços positivos e amenizar estímulos aversivos, comportamentos indesejados de fuga-esquiva e déficit de comportamentos de sensibilidade ao outro. Na história de Contingências de Reforçamento (CR) da cliente observou-se que tais dificuldades foram instaladas após o nascimento de seu irmão. Comportamentos como xingar outras pessoas, ofender e pedir bens materiais eram reforçados pelos pais e pela avó.  Além disso, na infância, Monica não tinha um modelo claro de afeto e cuidado com o outro. A atenção que recebia estava sempre relacionada ao ganho de presentes. Já na adolescência, tais comportamentos eram reforçados também entre os amigos – em situações aversivas, Monica emitia comportamentos indesejados de fuga-esquiva que eram por sua vez reforçados. Com o objetivo de desenvolver repertório de discriminação da cliente quanto aos próprios sentimentos e às consequências de seus comportamentos, e ampliar o repertório de respostas assertivas e de sensibilidade ao outro, foram utilizados procedimentos de instrução verbal, modelagem, modelação e extinção de comportamentos indesejados apresentados em sessão. Ao final do processo psicoterapêutico pode-se perceber que a cliente emitia alguns comportamentos desejados de sensibilidade, assertividade e conseguia discriminar as CR em operação, bem como as consequências geradas por seu comportamento. Acredita-se que as intervenções foram eficientes a partir do momento em que a psicoterapeuta passou a utilizar ironia com potencial função de punição. Desta forma, ocorreu o enfraquecimento de comportamentos indesejados e aumento de variabilidade comportamental. Dentre as variabilidades emitidas, foram selecionados por reforçamento diferencial, comportamentos desejados. Ressalta-se que o psicoterapeuta usou autoclíticos para amenizar o aversivo. A cliente, então, começou a ficar sob controle da psicoterapeuta e das intervenções realizadas em sessão. Tal procedimento foi adotado como recurso psicoterapêutico e, apesar de aversivo, foi realizado depois de estabelecido um vínculo forte entre psicoterapeuta e cliente - Monica era assídua nas sessões, preocupava-se em ligar com antecedência caso fosse faltar, sempre abraçava a terapeuta ao se despedir, descrevia claramente seus comportamentos e ao término das sessões relatou ficar triste e pediu para dar continuidade aos atendimentos. As sessões foram encerradas ao término do curso de formação.

 

Palavras-chave: ironia; comportamento sensorial; Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR).