Atividade: Painel (Estudo de Caso Clínico)

 

 

ALGUMAS ESPECIFICIDADES DO ATENDIMENTO DE UMA CRIANÇA EM SITUAÇÃO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO - UM ESTUDO DE CASO EM TERAPIA DE CONTINGENCIAS DE REFORÇAMENTO (TCR)

 

INGRID PICCOLLO COMPARINI
Maria Isabel Cavalcanti Franco       
Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento

 

Magali (08) residia em um abrigo para menores e foi encaminhada à psicoterapia pelo Serviço de Psicologia da instituição na qual residia. As queixas relatadas pela equipe do abrigo envolviam dificuldades de interação no ambiente escolar, dificuldades em realizar as tarefas acadêmicas e “dificuldades em lidar com figuras de autoridade”. A partir das observações realizadas durante as sessões e análises da história de Contingências de Reforçamento (CR), notou-se também que a cliente apresentava excessos de comportamentos de fuga-esquiva, excessos de comportamentos governados por regras e déficits relacionados ao terceiro nível de seleção. As dificuldades da cliente foram instaladas a partir de uma história de contingencias peculiar: o abandono dos pais e o abuso cometido pelo avô.  O processo psicoterapêutico teve como objetivo deixar a cliente sob controle do que seus comportamentos produziam nos outros; discriminar os próprios sentimentos e em que contextos estes ocorriam; torná-la mais sensível às CR; fornecer modelos de como tornar o ambiente escolar reforçador; ampliar a tolerância à frustração e ensinar comportamentos concorrentes com a dificuldade de lidar com limites; e ampliar o repertório comportamental como alternativa aos comportamentos de fuga-esquiva indesejados. Apesar dos objetivos claros, a terapeuta encontrou dificuldades relacionadas à generalização para o ambiente natural dos comportamentos adequados apresentados pela cliente em sessão. Acredita-se que tais dificuldades estariam relacionadas às constantes mudanças nas CR na instituição onde Magali residia. Era constante a troca de crianças na casa, ou seja, saída de amigas e entrada de crianças com repertório variado, como crianças agressivas ou que instigavam outras a fugirem da casa, com comportamentos sexualizados, etc. Por exemplo, em dada situação, entraram na casa de Magali 5 outras crianças e, uma delas, apresentava comportamento sexualizado (descrito pelo cuidador). Na sessão seguinte era notável a mudança de padrão da cliente nas formas de sentar, conversar ou mesmo mexer no cabelo (hábito que não havia apresentado anteriormente).  Tendo em vista os objetivos terapêuticos e, como pano de fundo, as constantes mudanças nas CR vivenciadas pela cliente, a terapeuta utilizava procedimentos de modelagem, modelação, fading in, extinção, apresentação de regras e buscava generalização para o ambiente natural de resultados que eram apresentados pela cliente em ambiente terapêutico. Tais resultados puderam ser observados na amplitude de comportamentos que demonstraram terceiro nível de seleção em relação à terapeuta e outros funcionários da clínica, comportamentos alternativos quando sentia raiva em sessão, maior emissão de comportamentos de seguir regras, diminuição de queixas escolares e diminuição de frequência de comportamentos de fuga-esquiva de falar sobre assuntos aversivos.

 

Palavras-chave: Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR); atendimento infantil; criança em situação de institucionalização.