Atividade: Mesa Redonda
“O MEU PROBLEMA É QUE EU DOU CHILIQUE!”- ESTUDO DE CASO EM TERAPIA POR CONTINGÊNCIAS DE REFORÇAMENTO (TCR) COM CRIANÇA
PRISCILA M. L. RIBEIRO MANZOLI
Instituto de
Terapia por Contingências de Reforçamento
A participação dos pais no processo psicoterapêutico é uma das características do atendimento à criança e fundamental para maior sucesso no processo. Entretanto, é comum encontrar pais pouco engajados na psicoterapia do filho. Este estudo de caso pretende discutir as possibilidades de atuação do psicoterapeuta quando não há colaboração ou participação dos pais. Duda (07) foi encaminhada à psicoterapia com diagnóstico de Transtorno Bipolar e TOC pelo psiquiatra que a diagnosticou. Havia feito cinco meses de psicoterapia com psicóloga de abordagem analítica, mas, segundo a mãe, sem resultado significativo. De acordo com a mãe, Duda apresentava episódios de agressividade quando frustrada ou contrariada, os quais a família chamava de “chilique”. Tais episódios se caracterizavam pela emissão de respostas de choro, gritos, agressões verbais e físicas contra os pais e colegas. Quando os “chiliques” aconteciam, os pais davam bronca, batiam e deixavam Duda de castigo: a mãe guardava todas as bonecas da menina durante semanas. Os pais relatavam que a situação estava insustentável e que não sabiam mais como agir, que nada do que faziam alterava o comportamento de Duda. Outra queixa da mãe era que, além dos episódios de agressividade, Duda também apresentava “tiques”: batia palmas, dava pulos, andava com o pé torto, fazia sons com a boca. Ao se analisar as contingências de reforçamento (CR) em operação, pode-se perceber que os episódios de agressividade estavam relacionados à baixa tolerância à frustração, à possibilidade de perda de reforçadores e ao repertório rígido de comportamentos de brincar: brincava apenas de bonecas e se recusava a participar de outras brincadeiras. Para explicar os “tiques”, levantou-se a hipótese de que eles eram respostas de fuga-esquiva a ocorrência de contingências coercitivas no dia a dia de Duda. Os pais eram exigentes e esperavam que Duda emitisse respostas complexas, não levando em consideração os limites do repertório da filha. Ampliar o repertório de brincar e de interagir socialmente com pares; desenvolver repertório de tolerância à frustração e instalar repertório incompatível à agressividade foram os objetivos do trabalho. Para isso, alguns dos procedimentos utilizados foram: descrever para Duda as CR em operação, dar instruções verbais, exercitar ensaios comportamentais e reforçar diferencialmente os comportamentos incompatíveis com os “chiliques”. As orientações da psicoterapeuta para os pais eram feitas em sessões mensais com o casal baseadas em registros semanais enviados pela mãe e nos relatos feitos pelos pais na sessão. A mãe enviava os registros priorizando os comportamentos indesejados que Duda emitia ao longo da semana. Os pais não seguiam as orientações da psicoterapeuta: para eles, era Duda ou as outras pessoas que conviviam com ela que deveriam mudar. Duda, por outro lado, tende a seguir as orientações da psicoterapeuta e é sensível as CR manejadas durante as sessões. Os episódios de agressividade diminuíram de frequência, fez duas amigas na escola e já aceita brincar com brinquedos que não bonecas. Por mais importante que seja a participação dos pais no processo psicoterapêutico dos filhos, ainda há muito a fazer com a criança quando não se pode contar com eles.
Palavras–chave: Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR) com criança; agressividade; desenvolvimento de repertório social.