Atividade: Curso
INTRODUÇÃO À TERAPIA DE CASAL
OSWALDO M. RODRIGUES JR
Carla Zeglio
Instituto Paulista de Sexualidade
A abordagem de casais em psicologias comportamentais tem apresentado modificações com o passar das décadas de atuação, desde a análise aplicada do comportamento com modelo funcionalista analisando as sequências de intercâmbios no relacionamento e a tecnologia operante para modificá-las, passando peloa terapia cognitivo-comportamental que permitia trabalhar as expectativas, atribuições e crenças na interação do casal, até a análise clínica do comportamento com técnicas de aceitação, com a valorização do contexto e a promoção da vivência intensa do fluxo das interações. Mas alguns aspectos básicos mantiveram-se: treino de comunicação e de solução de problemas. Assim, fazer um relacionamento funcionar é algo que precisa ser aprendido (Vandenberghe, 2006; Silva e Vandenberghe, 2008).
Outra questão de importância é a atitude do terapeuta junto ao casal. As habilidades necessárias para um psicoterapeuta atender casais tem sido discutidas (Otero, 2012) e vários pontos devem ser considerados:
a) ficar atento a um dos parceiros em particular considerando a sua individualidade, e, ao mesmo tempo, observando-o como membro daquela díade; observar o outro parceiro, também na sua individualidade e como membro da díade; observar a interação de ambos. Considerar este ‘movimento constante’ de aproximação e de afastamento de cada um para poder conhecer ambos.
b) identificar as contingências entrelaçadas que ocorrem constantemente na interação entre os parceiros, além das que também estão presentes entre cada um deles e o terapeuta. Portanto, deve cuidar dos controles de comportamentos, múltiplos e concomitantes, que estão presentes a cada momento. O manejo destas circunstâncias requer aquisição de habilidades específicas e grande treinamento.
c) ‘enxergar’ além do comportamento verbal expresso por cada um dos parceiros na sessão. Buscar a correspondência entre o falar e o fazer do casal. O terapeuta deverá ser hábil o suficiente para, a depender da natureza e do conteúdo da fala de cada um dos parceiros, encontrar na sessão, interações que exemplifiquem a coerência ou a discrepância entre o que fazem e o que dizem.
d) identificar os diferentes tipos de interação que ocorrem entre ambos na sessão, assim como entre cada um deles e o terapeuta: depreciativo, agressivo, desrespeitoso, conciliador, etc. Estes dados de observação serão o ponto de partida para a modelagem de novos padrões de interação assim como para a extinção de padrões indesejáveis, já existentes entre eles.
e) observar as habilidades de comunicação dos membros do casal na sessão e analisá-las no sentido de ‘capacitá-los’ para desenvolverem uma qualidade de interação que permita um ‘melhor’ equacionamento das dificuldades relatadas. A comunicação entre parceiros é um dos principais problemas encontrados nos relacionamentos dos casais. A maneira através da qual as pessoas se comunicam revela e/ou evidencia seus atributos e valores de vida. Há atributos desejáveis e essenciais para as interações humanas, especialmente, entre parceiros: consideração, respeito, confiança, lealdade, autenticidade, afeto, dentre outros. Esses atributos são aprendidos e a terapia de casal é uma das instâncias propícias para esta aquisição.
f) conhecer claramente seus próprios posicionamentos pessoais assim como a literatura pertinente a respeito de temas ou situações que podem emergir nos atendimentos de parceiros, tais como: revelação de infidelidade ou de relacionamento homoafetivo, infertilidade de um ou de ambos, adoção de filhos, separação, práticas educativas utilizadas com os filhos, diferenças de valores religiosos, relações de poder incluindo controle de dinheiro, interferências das famílias de cada um na vida do casal, agressividade física e/ou verbal, etc. O atendimento de parceiros muitas vezes coloca o terapeuta diante de situações imprevistas e que requerem intervenções e posicionamentos imediatos. Um bom exemplo é o uso de controle coercitivo de comportamento pelos parceiros. A agressão verbal e/ou física pode ocorrer durante a sessão de atendimento ou ser relatada por um dos parceiros. São sempre situações de difícil manejo.
g) lidar com ‘crises’ que eclodem na sessão, relacionadas ou não, aos temas mencionados no item anterior, dentre muitos outros possíveis.
h) lidar com diferentes graus de adesão dos parceiros à terapia. Isto implica em discrepâncias nos comprometimentos com mudanças dos próprios comportamentos, aceitação de limitações pessoais e/ou de contextos de vida.
i) lidar com diferentes avaliações, significados, atribuição de juízos de valores, sobre um determinado comportamento apresentado por um dos parceiros ou ambos.
j) perceber e reforçar pequenas mudanças de comportamento de cada um dos parceiros sem ‘ferir a suscetibilidade’ do outro e ao mesmo tempo cuidar para que a mudança seja reconhecida e valorizada pelo outro.
k) valorizar atitudes empáticas entre ambos, tais como: considerar as dificuldades pessoais, não julgar a atitude do outro e sim falar sobre si próprio frente ao comportamento em discussão; não confrontar, relevar, colocar-se no lugar do outro, etc.
A abordagem do casal deve ser uma base importante para o cuidar de questões sexuais na clínica. Nem sempre os profissionais de saúde que atendem casais atentam para as questões sexuais e os que atuam na chamada “sexologia” também não atentam para as questões de casal, contingência imediata da expressão da sexualidade (Rodrigues e Zeglio, 2011; Rodrigues Jr., 2012; Zeglio, Finotellii e Rodrigues Jr., 2012; Zeglio e Rodrigues Jr., 2015).
Apresentar e debater as abordagens do casal em terapia é um dos objetivos do curso, mas também discutir o papel do psicoterapeuta e a compreensão do processo psicoterápico nestas abordagens do casal.
Referências Bibliográficas
- Otero, VRL (2012). Habilidades necessárias para tornar-se um terapeuta de casais. IN - Zeglio, C; Finotelli Jr., I. & Rodrigues Jr., OM (Org) (2013). Relações conjugais - Discutindo alternativas para melhor qualidade de vida - Análise do Comportamento e Terapia Cognitivo-Comportamental com Casais. Editora Zagodoni: São Paulo. ISBN 978-85-64250-59-8
- Rodrigues Jr, OM; Zeglio, C (2011). Las disfunciones sexuales y la pareja: interdependencias. IN Camerini, J.O.: Introducción a las terapias sexuales. CATREC: Buenos Aires, 2011, pág. 153-159. ISBN 978-987-33-134-9.
- Rodrigues Jr., OM. (2012). Terapia comportamental dos problemas sexuais. IN nogueira, EE; Neto, ECA; Rodrigues, ME; Araripe, NB: Terapia Analítico Comportamental. ESETEC: Santo André (SP), 2012, pág: 123-145.
- Silva, LP, Vandenberghe, L (2008). A importância do treino de comunicação na terapia comportamental de casal. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 13, n. 1, p. 161-168, jan./mar.
- Vandenberghe, L (2006). Terapia comportamental de casal: uma retrospectiva da literatura internacional. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva ISSN 1517 – 5545. VIII(2):145-60.
- Zeglio, C; Finotelli Jr., I. & Rodrigues Jr., OM (Org) (2013). Relações conjugais - Discutindo alternativas para melhor qualidade de vida - Análise do Comportamento e Terapia Cognitivo-Comportamental com Casais. Editora Zagodoni: São Paulo. ISBN 978-85-64250-59-8