Atividade: Comunicação Oral (Estudo de caso clínico)
QUANDO O CLIENTE NÃO FICA SOB CONTROLE DAS INTERVENÇÕES DO TERAPEUTA: UMA ANÁLISE DA RESISTÊNCIA EM UM ESTUDO DE CASO EM TERAPIA POR CONTINGÊNCIAS DE REFORÇAMENTO (TCR)
SHENÉLETH SANTOS DA COSTA
Fabiana Pinheiro Ramos
Universidade Federal do Espírito Santo
Resistência é o nome dado, na análise do comportamento, a certas relações de controle e contracontrole derivadas das contingências de reforçamento (CR) manejadas pelo psicoterapeuta durante a sessão e os comportamentos do cliente, que emite respostas de fuga-esquiva, extinção ou punição em relação aos comportamentos do psicoterapeuta. Analisou-se a resistência de uma cliente, Raquel, atendida em uma clínica-escola do Estado do Espirito Santo. Raquel (38), era solteira, possuía um filho (16), e trabalhava como manicure. Inicialmente, a cliente relatou como queixas: carência afetiva, medo de ficar só e dificuldades em dizer “não”. A análise das CR em operação evidenciou que a cliente envolvia-se em uma série de relacionamentos afetivos com alta probabilidade de fracasso e que geravam risco, como se envolver com homens que estavam distantes (relacionamento via internet) ou que possuíam envolvimento com drogas, ou com doenças sexualmente transmissíveis, ignorando aspectos da CR que apontam para um provável fracasso da relação. Além disso, a cliente se comportava, usualmente, de forma passiva em tais relações, se submetendo às vontades dos parceiros. Ao longo de 10 sessões de atendimento foi possível identificar vários comportamentos da cliente que poderiam ser agrupados na classe funcional de resistência, sobretudo diante de verbalizações da psicoterapeuta que buscavam justamente analisar o padrão de relacionamento estabelecido pela cliente com seus parceiros. A cliente apresentava uma série de argumentos altamente elaborados para justificar seus envolvimentos afetivos (repertório de fuga-esquiva); emitia mandos disfarçados de tatos, tais como “não gosto que as pessoas fiquem me dizendo que meu relacionamento vai dar errado”; ficava em silêncio depois que a psicoterapeuta fazia determinadas análises sobre seu comportamento (extinção), dentre outras respostas. Além disso, um conjunto de autorregras ligadas as suas crenças religiosas contribuía para a manutenção do padrão de resistência, uma vez que a cliente enfatizava a “necessidade de se perdoar o outro”, “não julgar seus comportamentos”, e “esquecer o passado”. Os comportamentos resistentes da cliente também eram emitidos com outras pessoas, na medida em que ela própria relatava situações nas quais familiares e amigos tentaram adverti-la das prováveis consequências de seus relacionamentos afetivos, mas a cliente se recusava a aceitar tais argumentos. A cliente continua em atendimento e a psicoterapeuta tem buscado contracontrolar a resistência da cliente insistindo na análise das CR envolvidas em seus relacionamentos afetivos, sobretudo com o parceiro atual, mas com o cuidado de utilizar autoclíticos e fazer fading in de comentários.
Palavras-chave: resistência; contracontrole; Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR).