Atividade: Comunicação Oral (Estudo de caso clínico)
OS LIMITES DA RELAÇÃO PSICOTERAPEUTA-CLIENTE COMO UMA RELAÇÃO TERAPÊUTICA: UM
ESTUDO DE CASO CLÍNICO
FERNANDA RESENDE MOREIRA
Consultório Particular
M. era uma mulher de 37 anos que procurou psicoterapia queixando-se de comportamentos inassertivos tais como fazer sempre o que é esperado pelo outro e dificuldade para negar pedidos, desorganização, cansaço e fibromialgia. Era comum a presença do sentimento de injustiça e falta de reciprocidade nas relações, sensação de invasão diante do toque do outro e dificuldade em receber elogios. A história de Contingências de Reforçamento (CR) de M. era permeada por relações nas quais M. sentiu-se abandonada, começando com a morte do pai aos 13 anos de idade. M. assumiu as responsabilidades da casa e os cuidados com a mãe e irmãos, o que tinha a função de fuga-esquiva de entrar em contato com os eventos encobertos relacionados à tal perda. Outras experiências correspondentes à classe abandono foram: traição do noivo, afastamento da melhor amiga e impossibilidade da antiga psicoterapeuta de manter os atendimentos. M. desenvolveu um padrão de evitar envolver-se com o outro e, nas relações nas quais se envolvia, sentia ansiedade, emitia comportamentos de checagem da relação e de atender prontamente às demandas do outro. Tais comportamentos tinham a função de evitar um possível abandono. Na relação com a psicoterapeuta, M emitia comportamentos de aproximação e afastamento da psicoterapeuta, mantendo o padrão de fuga-esquiva de se relacionar com o outro. Dentre os objetivos psicoterapêuticos iniciais, destacam-se: construir uma relação previsível e que produzisse sentimentos de confiança, bem-estar e intimidade na relação psicoterapêutica. Como resultado, M. passou a emitir comportamentos da classe de intimidade na presença da psicoterapeuta iniciando-se, portanto, a segunda fase da psicoterapia. O objetivo desta fase foi promover a generalização da relação construída em terapia, para outros ambientes de vida da cliente. Os resultados incluíram a emissão de comportamentos de contracontrole, tentando reestabelecer o padrão anterior com a psicoterapeuta. Em seguida, passou a se expor a novas CR, incluindo relações de intimidade com colegas antigos e atuais de faculdade, apresentando variabilidade comportamental. A partir do presente caso, discute-se os limites do uso da relação psicoterapeuta-cliente como veículo de intervenção terapêutica já que tal relação deve ser um modelo para que o cliente possa construir outras relações em sua vida. Muitas vezes haverá resistência do cliente em afrouxar o investimento nessa relação psicoterapeuta-cliente em prol de ampliar as demais relações de sua vida. Cabe ao psicoterapeuta, portanto, avaliar e iniciar esse processo.
Palavras-chave: Terapia Comportamental; relação terapêutica; comportamento de fuga-esquiva.