Atividade: Comunicação oral (Estudo de caso clínico)
“ELE NÃO FALA NADA!”: UM ESTUDO DE CASO EM TERAPIA POR CONTINGÊNCIAS DE REFORÇAMENTO (TCR)
DIOGO BALTHAZAR DA NÓBREGA
Núcleo de Terapia por Contingências de Reforçamento de Curitiba
O objetivo do presente trabalho foi aumentar a variabilidade comportamental do cliente, assim como instalar e ampliar repertórios sociais que possibilitassem acesso a reforçadores negativos e positivos em seu cotidiano. João (7) era filho de Jairo (51) e Jandira (39) e irmão de Jonas (14) e Jair (9), morava no estado do Paraná. Frequentava o 2º ano do Ensino Fundamental. A queixa apresentada pela professora dele na escola foi: “ele não fala nada (...) com professor nem com os colegas! (...) Se comunica por gestos (...) não tem iniciativa nem autonomia (...); não demonstra reação. (...) Tem dificuldade para segurar o lápis”. Para Jandira, João era “tímido” e “os irmãos dele eram assim”. Foi detectado pelo psicoterapeuta que João apresentava as seguintes dificuldades: a) déficit generalizado no repertório para alterar as Contingências de Reforçamento (CR) em operação; b) déficit nas respostas verbais orais; c) déficit nas respostas motoras; d) déficits no repertório social; e) alta sensibilidade a eventos aversivos, que produziam sentimentos intensos de ansiedade, diante dos quais emitia respostas de fuga-esquiva indesejadas; f) déficit no repertório desejado para lidar com o comportamento do outro, apresentado o (f1) déficit na emissão de respostas de contracontrole (exemplo: a professora relatou que “quando chega a vez dele, para responder [uma tarefa em sala de aula], chora.”) e o (f2) déficit na emissão de respostas que eliminassem a condição aversiva ou produzissem reforços na interação com o outro (exemplo: a professora relatou que “ele não participa da educação física [...] ficou sentado vendo os outros jogar!); g) baixa autoconfiança; h) excesso de respostas (h1) “não falar” e respostas (h2) “não se mexer, as quais tinham predominantemente função de extinção ou de punição para o outro; j) déficit de repertório que produzissem reforçadores positivos para si. Os comportamentos de João estavam sendo mantidos pela atenção dispensada por Jandira. João consequenciava os comportamentos dos outros de maneira inadequada, por exemplo: o terapeuta solicitou que João desenhasse e fornecia novas instruções durante a tarefa, e João fazia careta. João raramente reforçava positivamente comportamentos adequados de outros; reforçava comportamentos indesejados de outros e que eram reforçadores para si. Seus comportamentos não eram mantidos pelo que produziam no outro, e sim pelo que produziam para si mesmo. Os procedimentos adotados incluíram a descrição das CR em vigor, por meio de modelagem, instruções verbais, apresentação de modelos e reforçamento diferencial. Após um ano de psicoterapia, os resultados observados foram modestos e ainda eram frequentes respostas de fuga-esquiva nas sessões, mas foi possível detectar o aumento gradual na discriminação dos próprios comportamentos e de suas consequências, diminuição gradativa nos comportamentos de “não falar” e “não se mexer”, bem como aumento na variabilidade e generalização de comportamento social adequado. Destaca-se que o processo psicoterapêutico continuou em andamento.
Palavras-chave: instalação e ampliação de repertórios sociais; variabilidade comportamental; Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR).