Atividade: Comunicação Oral (Estudo Conceitual)
POSSIBILIDADES E DESAFIOS DO USO DE HUMOR NA PSICOTERAPIA ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL
DANIEL AFONSO ASSAZ
Universidade de São Paulo
Humor em psicoterapia: é bom ou ruim para o cliente? Essa foi a pergunta que Bernard Saper fez no título de seu artigo de 1987. Quase 30 anos depois, temos pouco mais do que uma lista de estudiosos favoráveis e contrários à utilização do humor em psicoterapia e nenhuma resposta conclusiva. Por que não houve grandes mudanças? Nesse sentido, as afirmações de Kenneth Anderson sobre o estudo do humor mostram-se pertinentes e atuais: há uma pequena quantidade de pesquisas, baseadas principalmente em anedotas, sem operacionalização do conceito de humor ou embasamento teórico coerente. O presente trabalho tem como objetivo diminuir o último déficit ao discutir a utilização do humor na interação psicoterapeuta-cliente em psicoterapia com base nos conhecimentos da Análise do Comportamento e exemplos clínicos. Considerando o humor como comportamento verbal, verbalizações humorísticas por parte do psicoterapeuta e do cliente podem ter muitas funções e influenciar o comportamento um do outro em sessão, facilitando ou dificultando o processo psicoterapêutico. Em primeiro lugar, uma fala com teor humorístico pode ter a função de autoclítico, modificando o efeito da fala sobre o ouvinte. Quando emitida pelo cliente, ela poderia diminuir a probabilidade de punição do psicoterapeuta (ouvinte) diante de comportamentos socialmente problemáticos (como respostas agressivas ou revelações de sentimentos não-aceitos culturalmente). Quando emitida pelo psicoterapeuta, ela poderia diminuir a aversividade de algumas intervenções, como o bloqueio de esquiva. O humor ainda poderia ter a função de esquiva, tanto por parte do psicoterapeuta quanto do cliente, ao evitar a discussão de assuntos aversivos ou o contato com estímulos internos aversivos. O uso de humor por parte do psicoterapeuta também poderia atuar como estímulo antecedente para o cliente, sinalizando um contexto clínico seguro, passível de revelações e demonstrações de vulnerabilidade de ambas as partes sem a presença de controle aversivo. Além disso, verbalizações humorísticas podem transformar a função de estímulos pelo pareamento de estímulos aversivos com estímulos humorísticos (como em procedimentos de dessensibilização sistemática). Por fim, o psicoterapeuta pode utilizar o humor como uma forma de salientar outras propriedades de um estímulo, modificando assim o controle de estímulos do cliente e, consequentemente, seu comportamento. Entretanto, quando essas estratégias humorísticas do psicoterapeuta estão sob o controle de regras, e não sob controle das contingências em vigor em sessão ou sustentadas por uma forte aliança terapêutica, elas podem produzir sentimentos de invalidação e de desconfiança da seriedade da psicoterapia por parte do cliente.
Palavras-chave: Psicoterapia analítico-comportamental; humor; comportamento verbal.