Atividade: Comunicação oral (Estudo de caso clínico)
RETIRANDO ALICE DO PAÍS DAS MARAVILHAS - UM ESTUDO DE CASO EM TERAPIA POR CONTINGÊNCIAS DE REFORÇAMENTO (TCR)
CLAYANE CARVALHO FREITAS
Renata Gomes
Instituto
de Terapia por Contingências de Reforçamento
Alice (26), filha única de pais separados, era fisioterapeuta. Apresentou como queixa inicial dúvidas sobre a escolha profissional e dificuldades no relacionamento com o pai. No decorrer do processo psicoterapêutico, a psicoterapeuta identificou que Alice apresentava: baixa emissão de respostas mais sensíveis às consequências aversivas remotas de seus comportamentos; preocupação excessiva com a avaliação de seu comportamento por outra pessoa; pouca sensibilidade àquilo que seria reforçador para o outro ou aos efeitos de seu comportamento sobre o outro; excesso de queixas acerca de doenças e sintomas físicos (que não condiziam com o real estado de saúde da cliente). A análise da história de Contingências de Reforçamento (CR) indicou que essas dificuldades derivavam principalmente de um histórico de perdas e de privação de atenção sócio-afetiva. Nesse caso, os principais objetivos psicoterapêuticos foram: a) aumentar a discriminação da cliente em relação aos efeitos de seu comportamento para si própria, no caso de consequências aversivas produzidas por comportamentos impulsivos ou pouco sensíveis ao outro; b) torná-la consciente de que muitos de seus comportamentos eram apenas fenotipicamente sensíveis ao outro; e c) desenvolver a sensibilidade ao outro. Para tal, a psicoterapeuta ensinava comportamentos de fuga- esquiva e de contracontrole funcionais e mudança de controle de estímulos, orientando para que Alice ficasse sob controle da possibilidade de produzir novos reforçadores. Sinalizava para a cliente sob controle de quê fazia algumas perguntas ou discutia alguns assuntos, com o objetivo de aumentar o controle de estímulos exercido por importantes componentes das CR em operação. Quando a cliente demonstrava que as intervenções da psicoterapeuta tinham assumido função de estímulo discriminativo (Sd) para essas respostas discriminativas, a terapeuta apresentava consequências com possível função reforçadora para a cliente. Assim, esperava-se que a cliente deixasse o “País das Maravilhas”. Quando isso parecia ocorrer, ou seja, quando Alice parecia entrar em contato com as CR em operação, a psicoterapeuta também apresentava modelos e instruções sobre alternativas que produziriam consequências mais desejáveis para Alice e para as pessoas com quem convivia. As tentativas da cliente de aderir a tais sugestões eram diferencialmente reforçadas pela psicoterapeuta. Ao longo da psicoterapia, a cliente diminuiu a emissão das respostas de queixar-se sobre sua saúde; reconheceu sua parcela de responsabilidade no manejo e manutenção das CR em operação em sua vida profissional e na relação afetiva com familiares e namorado; passou a, eventualmente, comportar-se de maneira funcionalmente sensível ao outro.
Palavras-chave: Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR); sensibilidade ao outro; atenção sócio-afetiva.