Atividade: Comunicação oral (Estudo conceitual)
IMPLICAÇÕES CLÍNICAS DE UMA ABORDAGEM DETERMINISTA
CAINÃ TEIXEIRA GOMES
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
O debate acerca da determinação da conduta humana tem dividido estudiosos de diversas áreas de conhecimento há séculos. A presente apresentação pretende discorrer acerca de duas implicações da adoção de uma abordagem determinista, particularmente no contexto clínico. O primeiro aspecto a ser analisado é a função motivacional de uma perspectiva determinista. O objetivo principal da Análise Experimental do Comportamento é encontrar todas as variáveis das quais a resposta é função. A pressuposição de um mundo ordenado leva o pesquisador, quando deparado com um dado inusitado, a assumir que aquele dado só é estranho porque seu conhecimento das relações de dependência do mundo é incompleto. O mesmo vale para o clínico. Quando um cliente tem uma reação aparentemente “desproporcional” a uma análise feita pelo psicoterapeuta, um determinista assumirá que a resposta do cliente é sempre proporcional, no sentido de que o estranhamento do psicoterapeuta se esvai conforme os estímulos que a determinaram sejam conhecidos. Quando se afirma que alguém faz o que faz porque assim o escolheu, criam-se mais problemas do que havia quando se tentava responder o comportamento observado. Uma vez que o psicoterapeuta faz parte do ambiente do cliente e que o objetivo da psicoterapia é, de alguma maneira, promover transformações significativas na vida do cliente, quanto maior for o papel do ambiente maior será a probabilidade de mudança. É importante salientar que a adoção de uma perspectiva determinista não implica que ao cliente restará um papel “passivo” durante o atendimento. Cabe ao cliente mudar as variáveis das qual seu comportamento é função. Uma vez que o comportamento operante é selecionado por suas consequências, seria incompatível com o referencial da Análise do Comportamento um processo psicoterapêutico que não exigisse do cliente a emissão de diversas respostas. Além disso, o segundo aspecto a ser abordado é que a adoção de uma perspectiva determinista tem impactos sobre o julgamento moral de comportamentos ditos “patológicos”. Para um determinista, não importa o quão inusitado seja um comportamento de um cliente, sempre há de ser supor que os motivos de sua ocorrência podem ser encontrados nas relações ambientais. O nível de louvor e de ódio parece ser inversamente proporcional ao conhecimento das variáveis do qual o comportamento é função. Como um compromisso epistemológico, o determinismo não pode ser “provado”. Entretanto, sua utilidade pode ser evidenciada quando ele passa a orientar uma prática que persevera na busca por determinantes e que promove uma compreensão empática do comportamento humano.
Palavras-chave: determinismo; clínica analítico-comportamental; Behaviorismo Radical; epistemologia; formação de psicoterapeutas.