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Volume 50 - 29/03/11

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Existem na sociedade classificações estereotipadas sobre indivíduos que não seguem a regra, dizendo que os infratores são perversos, malvados, bandidos e até serial killers, desconsiderando o ambiente no qual ocorre o delito, assim como toda uma história de reforçamento, ou melhor, de vida. Pois bem, por que essa prática social existe e o que a mantém através de gerações? É um comportamento adaptativo agir de modo coercitivo para aqueles que são considerados coercitivos? E será que um planejamento de metacontingências não seria mais reforçador para toda a comunidade ao invés de comportamentos preconceituosos? (Pergunta feita por aluna da PUC-SP).

Quem define aquele que é doente, patológico, desviado, necessitado de ajuda, internação, até mesmo prisão, é a pessoa ou instituição que define os comportamentos do outro como aversivos para si. Assim sendo, o que varia é o poder de quem define o aversivo. Se é o opressor (que espera submissão, obediência, aceitação irrestrita de normas etc.) este tem poder de impor as práticas culturais de "tratamento", tais como terapia, prisão, medicamentos etc. Por outro lado, se a vítima dos comportamentos aversivos é o oprimido (filho, esposa, aluno, empregado, idoso, desempregado, doente mental, portador de desenvolvimento atípico etc.), sua possibilidade de contracontrole é mínima e só lhe resta reclamar, fugir fisicamente ou se unir para alterar as relações de controle (como formar um partido político, assumir o poder ou promover uma revolução), ou criar instituições que zelam pelos direitos dos oprimidos (ONU, escolas, ONGs, APAE, sindicatos etc.).

Voltando a sua questão: quem assim define os "delinquentes" (uso este termo abrangente criado pela classe dominante) como pessoas que assim agem por determinação própria (personalidade doente) adotam o modelo dualista de ser humano e atribuem, ao conceito inventado de livre arbítrio, o poder de causa do bem e do mal. Quer algo mais alienante, mais desumano e mais conveniente para a classe dominante?? Não há interesse em deslocar as causas dos comportamentos de dentro para fora do organismo porque aqueles que teriam poder de promover a mudança no paradigma da natureza humana seriam diretamente prejudicados ao implantar tal mudança. Não se trata de não se dispor de um caminho para um mundo melhor e mais justo. Trata-se de não haver interesse em trilhá-lo.
A sua sugestão de uma programação de metacontingências é um ótimo ponto de partida. A esse passo deve ser incluída a programação de acesso ao poder (político, religioso, financeiro, dentro da mídia, no sistema educacional etc.), pois se não houver uma mudança no poder, podemos não avançar de forma significativa.

 

Hélio José Guilhardi
CRP: 06/918
Mestre em Psicologia Experimental pela USP
Diretor do ITCR-Campinas

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A Orientação Profissional não é tão recente; então, porque somente agora a procura tem sido tão grande? Como a Análise do Comportamento tem comparecido nesse processo?

O processo de Orientação Profissional (OP) iniciou-se em 1947 com a criação do Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP), da Fundação Getúlio, no RJ. Em 1960 os testes psicológicos passaram a ser substituídos pela técnica de autoconhecimento (influência de Rogers e de Freud e,sob essa influência, em 1971, Rodolfo Bohoslavsky publicou o seu primeiro livro sobre Orientação Vocacional, na Argentina. No Brasil, em 1979, Carvalho defendeu sua tese de doutorado sobre Orientação Profissional em Grupo. A proposta de um trabalho grupal foi considerada um avanço importante no Processo de OP que, até então, era realizada individualmente nos consultórios ou nas instituições de ensino. No entanto, foi em 1983 que Lucchiari apresentou, em sua dissertação de mestrado em Educação na Universidade Federal de Santa Catarina, um processo de Orientação Profissional estruturado, porém, passível de alterações de acordo com o desenrolar dos encontros. Essa nova metodologia de trabalho, possibilitava o desenvolvimento do processo individualmente e em grupo, além de considerar como determinantes da escolha: o indivíduo, sua cultura e sua condição de vida. Assim, essa autora ampliou as possibilidades de trabalho ao propor a utilização, como recurso no Processo de OP, a psicometria, os testes de habilidades, as dinâmicas de grupo, as técnicas de orientação profissional e entrevistas para melhor conhecimento do orientando e do seu ambiente. Com os trabalhos realizados no exterior e no Brasil, a partir da década de 90 já havia um corpo de conhecimento e um grupo de profissionais trabalhando com esse processo de forma a constituí-lo como área própria de estudos e atuação, na perspectiva de desvinculá-lo da Educação, da Clínica e da Psicologia Organizacional, o que possibilitou em 1993 a criação da Associação Brasileira de Orientação Profissional (ABOP). Nesse momento da história, outras abordagens passaram a contribuir com esse processo e, em 2001 Moura publicou o primeiro livro sobre OP sob o enfoque da Análise do Comportamento. Para a Análise do Comportamento, os determinantes da escolha são os fatores genéticos, a história de vida e a cultura.


A Orientação Profissional pode ser compreendida como um processo cujo objetivo é auxiliar uma pessoa, em diferentes momentos de sua vida, a fazer escolhas profissionais. A liberdade da escolha profissional é recente na história do mundo do trabalho. Até a Revolução Industrial a ocupação profissional era determinada pela família: os pais ensinavam seus ofícios aos filhos. Além da liberdade de escolha, esse processo torna-se cada vez mais importante e requisitado em decorrência da importância do Trabalho na vida das pessoas. O comportamento de escolha por si só é um processo que envolve perdas - ao optar eu ganho o produto de minha escolha e deixo de ter todos os demais. Esse processo torna-se mais complexo ainda quando a escolha profissional refere-se a algo que determinará minha posição na sociedade e minhas condições de vida, principalmente num mercado de trabalho no qual as ocupações/profissões se multiplicaram em suas especificidades e ganharam diferente valorização na sociedade. Esse processo se agrava um pouco mais quando o indivíduo vem de uma família com uma história em uma determinada profissão: família de engenheiros, de médicos, de psicólogos, de empresários etc. E, para tornar a escolha um pouco mais complexa ainda tem-se o momento na vida das pessoas no qual ela se dá: adolescência, fase adulta quando se tem uma família constituída ou em fase de construção, no momento da aposentadoria, quando o que fazemos até um determinado da nossa vida não se torna mais viável, e por tantos outros motivos ... São fatos/ocasiões como esses que tornam o processo de escolha difícil para a pessoa e que hoje, com o corpo de conhecimento que se dispõe, pode-se afirmar que o processo de OP poderá contribuir para minimizar a angústia da escolha ao promover o autoconhecimento, ao ampliar o repertório de informações sobre as profissões e sobre o ambiente no qual elas se desenvolvem. Pela importância e complexidade da escolha profissional e pelos resultados bastante satisfatórios, decorrentes de um programa sistemático e de qualidade de OP, é que ela tem sido tão procurada na atualidade. Informações mais detalhadas de como a Análise do Comportamento tem trabalhado com a OP podem ser encontradas no site: www.terapiaporcontingencias.com.br .


Boa parte das pessoas que procuram por OP questionam se Orientação Profissional é o mesmo que Orientação Vocacional. Bem, esse é um assunto para uma próxima conversa sobre esse processo. Também é assunto, para uma outra conversa, a compreensão equivocada de que a Orientação Profissional atende somente aos jovens com dificuldades em escolher seu curso quando do próximo vestibular ou o famoso “o que eu faço?” Para não finalizar sem nenhum comentário podemos dizer que Orientação Profissional é bem mais ampla que Orientação Vocacional e que a OP atende a todas as pessoas e em qualquer faixa etária.


Referências:
Bohoslavsky, R. (1977) Orientação Vocacional: a estratégia clínica. São Paulo: Martins Fontes
CAETANO, M.E.S. Encontro da Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental realizada pela ABPMC em Campinas/SP (Encontros: XVII em 2008 e XVIII em 2009) em Campos do Jordão/SP (Encontro: XIX em 2010); Associação Brasileira de Orientação Profissional – ABOP (Encontro 2009)

Carvalho, M.M.M.J. (1995). Orientação Profissional em Grupo: teoria e técnica. Campinas: Workshopsy.
Lucchiari, D.H.P.S. (org) (1993). Pensando e Vivendo a Orientação Profissional. São Paulo: Summus.
Moura, C.B. (2001) Orientação Profissional sob o Enfoque da Análise do Comportamento. Londrina: Editora da UEL.

Maria Elisabeth Salvador Caetano
CRP: 06/5296-4
Mestre pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
Doutora pela Universidade de Campinas (Unicamp)
Especialista em Orientação Profissional

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"Não mendigue perdão pelos seus erros; conquiste-o com ações maduras, construtivas e duradouras".

(Hélio José Guilhardi)

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