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Volume 20 - 01/10/08

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Para um behaviorista, o que é memória?

Memória é um termo. Não é um fenômeno comportamental. Pode-se, porém, dar o nome de memória a determinada classe de fenômeno comportamental. Usa-se o termo memória nas condições em que o SD, sob o qual a resposta discriminativa foi instalada e que usualmente evoca tal resposta específica, não está presente no momento em que a dada resposta é emitida. Por exemplo, após ler repetidamente uma poesia, a pessoa a verbaliza corretamente na ausência do texto. Diz-se, então, que ela tem "boa memória". O fenômeno comportamental consiste em emitir a resposta na ausência do SD textual, tendo havido exposição prévia à seguinte contingência:

  1. a. instrução verbal, tal como: "João, quero que você decore e declame esta poesia na festa do dia das mães. Você topa?";
  2. b. exposição ao texto da poesia;
  3. c. emitir a resposta de leitura sob controle dos SDs textuais (poesia escrita) e repetir unidades (arbitrárias, tais como uma palavra ou um verso, e assim sucessivamente), na ausência do SD textual até ocorrer o esvanecimento total (fading out) do texto e a pessoa verbalizar a poesia toda;
  4. d. conseqüência social, potencialmente reforçadora (Sr+) contingente à emissão, sob tais condições, de unidades progressivamente maiores do texto a ser memorizado... até a recitação total da poesia.

A emissão da resposta oral na ausência do SD textual coloca uma questão: o que controla, ou seja, qual é o antecedente da resposta? Pode-se propor duas alternativas:

  1. a. a pessoa vê (e conseqüentemente lê) o texto na ausência do texto (na linguagem cotidiana diz-se que ela imagina, isto é, produz uma imagem do texto). Está, portanto, sob controle de SDs encobertos produzidos pela própria pessoa);
  2. b. a verbalização da pessoa é uma cadeia de comportamentos na qual a palavra que antecede a palavra emitida tem função de SD para a emissão da palavra verbalizada, e a palavra que se segue a ela tem função de conseqüência reforçadora positiva para a resposta emitida.

O procedimento típico para se investigar experimentalmente aquilo que se denomina de memória é o de comparação ao modelo (matching-to-sample), no qual o estímulo modelo é apresentado durante um tempo específico e, então, removido. Em seguida, são apresentados os estímulos de escolha. Cabe ao sujeito experimental emitir o comportamento de escolher o estímulo que se iguala ao modelo apresentado que não está mais presente. O atraso entre a remoção do estímulo modelo e a apresentação dos estímulos de escolha é uma das variáveis a serem investigadas.

Os fenômenos neurofisiológicos subjacentes que ocorrem durante a emissão da resposta, à qual se dá o nome de memória, não são objeto de estudo nem de análise ou de manejo do analista de comportamento, não obstante ele possa se interessar por tais fenômenos.

Que procedimentos podem melhorar a "memória"? Há várias possibilidades. Neste texto, vou me ater a um exemplo. Suponha que uma criança vai ao zoológico com o pai e se detém diante da gaiola dos macacos. O comportamento do garoto, de observar os macacos (de ficar sob controle dos macacos), pode ser ampliado com a ajuda do pai, se ele fizer comentários para o filho, tais como: "Veja, filho: o macaco está tirando a casca da banana... Agora, está comendo a banana. Ele faz como a gente!"; "Olhe como ele fica dependurado no galho pelo rabo, sem usar as mãos!" etc. O pai emite tactos verbais sob controle de ações e características do macaco e, com o auxílio de sua verbalização, (por exemplo, fazendo fading out da descrição daquilo que o macaco está fazendo e introduzindo questões tais como: "Olhe! O que ele está fazendo com as mãos?" etc.) altera gradualmente aquilo que controla o comportamento verbal do filho: transfere o controle exercido por sua própria verbalização para as ações do macaco. Espera-se que, com as deixas verbais do pai, o menino verá mais coisas na gaiola do que se o pai permanecesse em silêncio. O que seria apropriado ao chegar em casa (ou seja, na ausência do macaco)? Que a criança fosse orientada a emitir respostas sob controle do macaco na ausência do macaco. Assim, por exemplo, pode-se dizer para o filho: "Conte para a mamãe o que você viu no bosque." (espera-se que a mãe olhe para o filho e aumente a probabilidade de ele narrar o que viu: "Oba, filho! Conte para a mamãe quem estava o bosque.") É uma maneira de treinar a "memória", ou seja, de emitir a resposta na ausência do SD original (no presente exemplo, as ações do macaco). Caso a criança tenha dificuldades de iniciar a verbalização, o pai pode auxiliá-la, dividindo o episódio observado em unidades menores, tais como: "Quem estava dentro da gaiola?"; "O que o macaco estava comendo?"; "Com que parte do corpo se dependurou no galho?" etc. Se o procedimento descrito for usado sistematicamente, o repertório de narrar eventos observados na ausência deles irá se ampliar e poderá ser evocado com questões bastante genéricas (por exemplo, "Como foi seu dia, filho?"), as quais poderão produzir relatos verbais detalhados e extensos sobre eventos que ocorreram há horas, até mesmo dias, que antecederam a narrativa.

O fenômeno comportamental, ao qual se atribui o termo "memória", abrange diversas classes comportamentais: descrever um evento passado, repetir nomes e datas, declamar trechos literários, dizer tabuadas etc. etc. As estratégias para levar uma pessoa a emitir respostas "memorizadas" também são variadas. Assim sendo, o leitor pode, a partir do exemplo apresentado, certificar-se de que existem análogos ao aqui apresentado para desenvolver a "memória" (consistente com a definição do termo proposta no início do texto) em diferentes contextos, com múltiplas classes de respostas, utilizando várias estratégias técnicas.


Hélio José Guilhardi

Hélio José Guilhardi
CRP: 06/918
Mestre em Psicologia Experimental pela USP
Diretor do ITCR-Campinas

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Gostaria de saber como se definem alguns termos usados na Análise do Comportamento? (perguntas enviadas ao Jornal Sinal Verde).
Como definir extinção?

Extinção é um procedimento que produz a redução gradual da emissão de uma determinada resposta, a partir da suspensão do reforço que vinha mantendo essa emissão.

A extinção pode ser considerada uma propriedade do reforço, pois ela ocorre quando um comportamento deixa de produzir as conseqüências reforçadoras que anteriormente produzia. É um modo efetivo de enfraquecer um operante, uma resposta, do repertório do indivíduo.

Quando uma pessoa emite um comportamento que produz conseqüências reforçadoras positivas (por exemplo, abrir a geladeira quando está com fome e encontrar um alimento que a agrade e sacie a fome), há uma tendência maior que este comportamento se repita para que a pessoa tenha novamente o acesso ao reforço (no caso, o alimento). A pessoa faz uma relação entre a resposta de abrir a geladeira e a conseqüência reforçadora de encontrar um alimento para comer. Dessa forma, toda vez que estiver com fome, ela emitirá o comportamento de abrir a geladeira e terá acesso ao reforço (alimento). Porém, a partir do momento em que o reforço não ocorrer mais após a emissão da resposta (a pessoa abre a geladeira, mas não encontra nenhum alimento), a resposta de abrir a geladeira deixa de ser emitida, pois o que a mantinha (o alimento) não está mais presente. Essa suspensão da conseqüência reforçadora leva à redução da emissão da resposta, e esse processo é denominado extinção.

Como definir punição?

A punição é um procedimento no qual uma resposta produz um evento aversivo. Tal procedimento resulta na redução da freqüência da resposta consequenciadas. (Não há unanimidade entre os autores sobre os efeitos do procedimento de punição).

A punição pode ser positiva ou negativa. A punição positiva é aquela na qual são apresentados estímulos aversivos, desagradáveis, como conseqüência do comportamento. Na punição negativa, a conseqüência produzida pelo responder é a retirada de algo positivamente reforçador.

Quando uma criança emite um comportamento que os pais consideram inadequado e leva uma "surra" como conseqüência de tal comportamento, dizemos que os pais puniram positivamente o comportamento do filho. Ou seja, os pais apresentaram uma conseqüência aversiva em função do comportamento inadequado (eles visam diminuir a freqüência de tal comportamento). Quando a conseqüência de um comportamento inadequado é a retirada de algo reforçador para a criança, por exemplo, deixar o filho de "castigo", sem poder brincar com o vídeo game por um período, os pais aplicaram um procedimento de punição negativa.

Como se pode concluir, os termos "positivo" e "negativo" se aproximam do conceito aritmético de adição e subtração. Na punição positiva, acrescenta-se, introduz-se um evento; na negativa, subtrai-se, retira-se um evento.

A punição é uma operação questionada porque ela não proporciona a aprendizagem de novos comportamentos, não se mantêm na ausência das condições de punição, além de trazer consigo efeitos colaterais indesejáveis, tais como sentimentos de medo, de preocupação, de ansiedade etc., e comportamentos de fuga-esquiva indesejados, como mentir, delatar etc. e comportamentos de contracontrole, como atacar, acusar etc.

Como definir generalização e discriminação? E quando ocorrem?

Generalização pode ser definida como a dispersão do efeito do reforço na presença de um estímulo para outros estímulos não-correlacionados com o reforço (Catania, 1999). Ou seja, quando uma resposta é emitida sob controle de estímulos diferentes daquele sob o qual a resposta foi instalada diz-se que ocorreu a generalização. Se um indivíduo se comporta de forma similar em diferentes situações, pode-se dizer que ele generalizou uma resposta que ocorria em determinado ambiente/situação, para outros ambientes que são, de alguma forma, semelhantes entre si, ou seja, o controle adquirido por um estímulo é compartilhado por outros estímulos com propriedades comuns.

Por exemplo, suponha que uma criança aprende que ao comer toda a refeição seus pais (estímulo 1) a reforçam com elogios e afagos. Quando essa criança estiver na escola e diante da professora (estímulo 2), ela passará a comer todo o lanche. Será que a emissão de tal comportamento produzirá o reforço desejado, elogios e atenção? Pode-se dizer que esta criança generalizou seu comportamento, ou seja, ela se comportou da mesma maneira na presença dos pais e na presença da professora. Ela generalizou o comportamento de comer sob dois contextos diferentes.

Os estímulos discriminativos são sinais que estabelecem a ocasião em que determinada resposta, se for emitida, produzirá uma conseqüência específica. A discriminação é o processo no qual diferentes comportamentos serão emitidos sistematicamente sob controle de diferentes estímulos (discriminativos). O que mantém o controle de cada estímulo sobre cada resposta? Conseqüências específicas para cada relação estímulo-resposta.

É possível verificar a ocorrência da discriminação quando, por exemplo, uma criança, diante do pai (estímulo), emite a resposta de convidá-lo para assistir a um jogo de futebol e tem como conseqüência algo reforçador (o pai aceita o convite, diz que a idéia é boa). Diante da mãe (outro estímulo), a mesma criança não emite a resposta de convidá-la para assistir ao jogo, pois sabe que a conseqüência não será a mesma que obteve com seu pai, mas convida a mãe para brincar porque sabe que esse sim será um comportamento reforçado por ela.


Iara Araujo Miorim

Iara Araujo Miorim
CRP: 06/86701

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Abertas as inscrições para a Turma 2009 do Curso de Especialização em Psicologia Clínica: Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR)

Informações:www.terapiaporcontingencias.com.br

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Patrícia Piazzon Queiroz, do IAAC.
"Relações Afetivas na Pós-Modernidade"

Dia: 25/10/2008
Informações e inscrições:www.terapiaporcontingencias.com.br

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PARA PENSAR

Esse é o nome da nova seção do site ITCR - Terapia por Contingencias de Reforçamento.Clique aqui para maiores informações

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"Quando nosso comportamento é positivamente reforçado, nós dizemos que gostamos do que estamos fazendo; dizemos que estamos felizes."

(Skinner, Reflections on Behaviorism and Society, p.5)

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Encontros para Pais de Crianças em Idade Escolar

Informações no site: www.terapiaporcontingencias.com.br

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VII JAC (Jornada de Análise do Comportamento) - Universidade Federal de São Carlos (Campus de São Carlos)

1 e 2 de novembro de 2008
Informações no site www.jac.ufscar.br

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Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento

Rua Josefina Sarmento, 395, Cambuí - Campinas - SP
Fones: (19) 3294-1960/ 3294-8544
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